- Triunfo de Elon Musk é se adiantar e investir concretamente em ideias que poucos ousaram sequer imaginar
- Empresa americana de consultoria ajuda a traçar prazos para a plena realização dos projetos futurísticos
- Bilionário pretende levar um milhão de pessoas a Marte até 2050
(Davi Medeiros, especial para o E-Investidor) –Antes de existir o carro, cavalos mais velozes eram a novidade mais útil que a imaginação alcançava. Quem disse isso foi Henry Ford, o fundador da Ford Motor Company, mas poderia ter sido Elon Musk, outro gênio do empreendedorismo. Enquanto a maioria das pessoas sequer pensava em pagamentos eletrônicos, nos anos 1990, ele estava fundando a startup que deu origem ao que hoje conhecemos como PayPal, por exemplo.
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Musk. que viu queda de 2,4% nas ações da Tesla na terça-feira, 16, e perdeu o posto de homem mais rico do mundo para Jeff Bezos, da Amazon, continua investindo em projetos que prometem mudar a maneira como viveremos no futuro — e até mesmo em que lugar viveremos. Este foi o tema escolhido pelos leitores do E-Investidor em enquete realizada no Twitter. As ideias do bilionário vão pautar o que acontece nos próximos anos?
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“Está bem claro que ele é um grande futurista, alguém que já mostrou que sem inovação não há
abertura para novos negócios”, afirma Flavio Azevedo, coordenador do curso de Tech da ESPM. O
grande ensinamento de Musk para os investidores, segundo ele, é que pode valer a pena
abandonar a zona de conforto e ter a busca pela novidade como propósito de vida.
Entre os planos mais conhecidos do empresário, estão a colonização de Marte, a popularização dos
carros autônomos e a integração cérebro-máquina. Cada projeto está associado a uma dentre as
várias startups das quais ele é CEO ou fundador, como Tesla, Neuralink e SpaceX.
Para Azevedo, é natural do processo de inovação que as ideias pareçam absurdas ou inacreditáveis
a princípio. Entretanto, é possível estimar o tempo gasto até que elas se materializem sem cair em
exercícios de futurologia.
É o que faz, desde 1995, a empresa americana de consultorias Gartner, com a publicação anual do
Hype Cycle, algo como “ciclo das expectativas” em tradução livre. O gráfico, uma linha fina em
forma de “pão de açúcar”, faz uma estimativa de quanto tempo vai levar até que uma tendência
tecnológica seja reconhecida e aceita em larga escala, consequentemente tendo mais maturação
científica e chance de se tornar realidade.
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Esta metodologia propõe cinco estágios, que podem ser percorridos de forma rápida ou lenta. O primeiro, quando a ideia é apresentada ao público e começa a ser discutida, chama-se “gatilho da inovação”. Uma vez feito o disparo, a novidade pode ou não ganhar importância no debate público até atingir o “pico das expectativas infladas”, o momento em que os olhos do mundo estão voltados para ela.
Naturalmente, depois do pico, vem a queda, ou “vale da desilusão”. Nessa fase, a sociedade se dá
conta de que a concretização do projeto é mais complexa do que se pensava, e retira parte dos holofotes. Esta é a oportunidade para que empresas e cientistas se debrucem sobre a ideia para
aprimorá-la até que seja alcançada a “inclinação do esclarecimento”, quarta etapa, quando a
expectativa volta a crescer. Por fim, a novidade chega ao “platô da produtividade”, quando já existe conhecimento e aceitação suficientes para que ela seja produzida em larga escala.
A dupla interação cérebro-máquina (2-Way BMI), inovação buscada por uma das empresas de Elon
Musk, Neuralink, figurou no Hype Cycle de 2020 ainda no primeiro estágio, iniciando sua escalada até o pico. A consultoria aponta que o assunto vai levar de 5 a 10 anos para atingir o platô da produtividade.
No início deste mês, Elon Musk afirmou que a empresa de implantes cerebrais teve sucesso ao fazer um macaco jogar videogame graças a um chip no cérebro. A declaração foi feita em uma sala do aplicativo Clubhouse, que, inclusive, virou o centro das atenções após este episódio.
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A proposta do empresário é proporcionar uma simbiose entre a mente humana e os implantes tecnológicos, possibilitando a superação de condições neurológicas, como a paralisia e a cegueira, por exemplo. Em postagem no Twitter, Musk afirmou que os testes em cérebros humanos devem começar até o fim de 2021.
Já a popularização dos carros autônomos, por sua vez, passa atualmente pelo vale da desilusão, e
pode levar mais de 10 anos para de fato ocorrer. A Tesla, montadora do bilionário, já faz testes
com carros semiautônomos capazes de circular em rodovias com pouca intervenção humana, mas
eles ainda enfrentam gargalos de segurança, principalmente quando se trata de direção em centros
urbanos.
A ampla chegada da rede de internet de quinta geração, o 5G, tem potencial para consolidar a automação dos veículos de forma mais segura e robusta. Nos próximos anos, espera-se que as conexões apresentem latências baixíssimas, isto é, que o tempo de resposta ao comando nos dispositivos seja reduzido a praticamente zero. Isto é muito importante para que os carros autônomos se tornem realidade, já que, num acidente de trânsito, alguns milésimos de segundo fazem diferença.
Plano mais ambicioso de Elon Musk, a colonização de Marte é a que mais deve demorar para acontecer. O assunto ainda nem aparece no Hype Cycle, mas as previsões do próprio empresário sugerem uma colônia de um milhão de seres humanos vivendo no planeta em 2050.
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Os desafios a serem superados são muitos, dadas a distância e a hostilidade do planeta vermelho.
O bilionário, contudo, é corajoso o suficiente para empenhar esforço real em sua gigantesca nave
interestelar, a Starship, que já passa por testes de ignição e pouso.
Seja no espaço, nas rodovias ou dentro de nossos próprios cérebros, a influência de Elon Musk no
futuro tende a ocasionar transformações relevantes. Para Azevedo, chama atenção o fato de que o
objetivo final do empresário não é a fortuna, mas a inovação. “O que é interessante e pode servir
de inspiração é que ele não precisaria fazer nada disso, pois já é muito rico, e mesmo assim ele
nunca se acomoda”, diz.