- Fundada em 2009, a montadora de veículos elétricos se prepara para produzir uma picape e um veículo utilitário esportivo (SUV) que devem estar nas ruas em meados do ano
- Os modelos serão produzidos em uma antiga instalação da Mitsubishi em Illinois
- A Rivian acabou de anunciar uma rodada de investimentos de 2,65 bilhões de dólares, liderada pela T. Rowe Price
(Neal E. Boudette/The New York Times) – É difícil imaginar uma empresa alcançando uma ascensão tão meteórica quanto a da Tesla. Mas, se há uma startup de carros elétricos que pode sonhar em ser a “próxima Tesla”, esta é a Rivian.
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Fundada em 2009, a Rivian se prepara para produzir uma picape elétrica e um veículo utilitário esportivo (SUV) elétrico. Ambos os modelos devem estar nas ruas em meados do ano e serão produzidos em uma antiga instalação da Mitsubishi em Illinois. A Rivian também desenvolve caminhões elétricos de entregas para a Amazon.
Mas a Rivian se distingue principalmente pelo seu extraordinário rol de investidores. A Amazon não é apenas uma cliente; a empresa investiu pesado na Rivian. Outros interessados incluem BlackRock, Fidelity, T. Rowe Price e Ford Motor, que planeja lançar um veículo desenvolvido a partir da tecnologia da Rivian.
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A mais recente injeção de capital foi anunciada na terça-feira, quando a Rivian disse ter captado US$ 2,65 bilhões de um grupo liderado por fundos e contas sob orientação da T. Rowe Price. Entre os outros investidores estavam Fidelity e o Climate Pledge Fund da Amazon. Com essa rodada de investimento, o valor da empresa ultrapassa a marca de US$ 27 bilhões, sendo que o investimento total na empresa desde o início de 2019 chega a US$ 8 bilhões.
“Aguardamos ansiosamente a chegada de 2021, quando a Rivian começará a trazer seus produtos revolucionários aos consumidores”, disse em comunicado o gestor de portfólio Joseph Fath, da T. Rowe Price.
Um baú recheado de dinheiro não é garantia de sucesso, e produzir um carro a partir do zero é uma tarefa monumental para nomes já estabelecidos no mercado, que dirá uma startup.
“Não há nada de simples no processo de criação de algo assim”, disse em entrevista RJ Scaringe, fundador e diretor executivo da Rivian. “É como uma orquestra complexa, com milhares de peças entregues por centenas de fornecedores. É certamente muito mais complexo do que as pessoas pensam, e muito mais complexo do que pensei que seria.”
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A Rivian espera lucrar com a mesma oportunidade que a Tesla identificou e fez avançar – a propulsão elétrica nos transportes. Para a maioria dos executivos da indústria automobilística, resta pouca dúvida que essa será a direção seguida pelo mundo. Nos cinco anos mais recentes, a Tesla foi de 50.000 carros produzidos por ano até um volume dez vezes maior que no ano passado. General Motors, Ford, Volkswagen e outras estão investindo bilhões no desenvolvimento de carros e caminhonetes elétricos destinados a suplantar os modelos que usam combustíveis fósseis.
“Serei testemunha de um mundo no qual os carros elétricos representavam um pequeno nicho de mercado e passarão a representar a totalidade do mercado”, disse Scaringe. “Alguns dos participantes existentes conseguirão fazer essa transição, mas também são criadas oportunidades para a entrada de novas empresas nesse espaço.”
Outra grande tendência que está redefinindo os contornos da indústria automobilística são os carros autônomos. Na terça-feira, a Cruise, divisão da GM dedicada ao trabalho nessa área, disse ter captado US$ 2 bilhões em investimentos da Microsoft, GM, Honda e outros. Rivian e Tesla também trabalham no desenvolvimento de tecnologia para carros autônomos.
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Rivian x Tesla: principais diferenças
A Rivian difere da Tesla sob muitos aspectos. Por enquanto, o crescimento da Tesla veio da venda de carros de passeio esportivos, um tipo de veículo que tem sido menos procurado pelo consumidor. A Tesla pretende fabricar este ano uma picape futurista de ângulos marcantes batizada de Cybertruck. Mas a empresa ainda não se dedicou muito às picapes e aos SUVs que compõem 75% do mercado de veículos de passeio nos Estados Unidos.
A Rivian, por outro lado, se dedica à produção de veículos de “aventura” que podem ser pilotados fora da estrada, abordagem que significa que a Rivian não deve concorrer diretamente com a Tesla. “Tem-se a impressão que, nesse mercado, só há espaço para um ganhador, mas não é verdade”, disse Scaringe. “O consumidor precisa de diferentes marcas e modelos. Nosso sucesso não exclui o sucesso de outros, e vice-versa.”
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Rebecca Puck Stair é o tipo de consumidora que a Rivian espera atrair. Especialista em locações de filmagem na região de Albuquerque, Novo México, faz anos que ela pensa em comprar um carro elétrico, mas precisa de um veículo alto e tração nas quatro rodas para situações de trabalho que a levam ao deserto. “Não havia alternativa no mercado”, disse ela. “Os modelos da Tesla não atendem às minhas necessidades.”
Há cerca de um ano, ela ficou sabendo da existência da Rivian e, no dia seguinte, fez um depósito para comprar um SUV – como a Tesla, a empresa não pensa em vender nas concessionárias. Rebecca viu o Cybertruck, mas o design não a agradou. “É um carro que parece voltado para homens chatos”, disse ela, rindo.
A caminhonete e o SUV da Rivian, vendidos a partir de US$ 67.500, têm aparência mais convencional, como um modelo da Land Rover.
O diretor executivo da Tesla, Elon Musk, é uma força perturbadora do tipo que a indústria automobilística não via há décadas, possivelmente desde Henry Ford. Ele impulsionou sua empresa ao cume do mercado de ações enquanto atraía uma legião de fãs. Mas Musk também se envolve em controvérsias – chamou de “fascistas” os esforços do governo para conter o coronavírus. Suas publicações no Twitter trouxeram problemas jurídicos para ele e para a Tesla, envolvendo até a Comissão de Valores Mobiliários. Pouco tempo atrás, ele alegou que a Tesla teria 1 milhão de carros autônomos nas ruas em 2020, mas a empresa ainda não apresentou um modelo de veículo verdadeiramente autônomo.
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Scaringe, em comparação, é um engenheiro estudioso, com doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology. Certa vez, ele tentou reduzir sua pegada pessoal de carbono ao se locomover de bicicleta e a pé, tomando banhos frios e lavando a roupa no tanque. Sua conta no Twitter é tão comportada que uma publicação recente comentava a cor de carro preferida pelos filhos (azul).
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Perspectivas para o futuro
No segundo semestre do ano, a Rivian espera começar a produção em larga escala de suas vans de entrega da Amazon. A Amazon já está testando alguns protótipos nas ruas. A gigante do varejo fez das picapes uma peça central de sua estratégia para reduzir as emissões, com uma encomenda de 10 mil veículos que devem ser entregues até o fim de 2022.
Michael Ramsey, analista da Gartner, se disse ansioso para ver se a Rivian seria capaz de evitar os erros que retardaram o avanço da Tesla há alguns anos, quando Musk acelerou rápido demais a produção do Model 3, mas se viu encalhado no que descreveu como “inferno da linha de montagem”.
“Será que a Rivian se tornará uma gigantesca concorrente futura da Ford e da GM? Não sei a resposta”, disse Ramsey. “Mas eles receberam grandes investimentos. Têm uma parceria estratégica com a Ford. Têm contratos de fornecimento com a Amazon. De todas as startups do segmento de veículos elétricos, eles parecem estar na melhor posição para alcançar esse sucesso”.
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(Tradução de Augusto Calil)