Vale (VALE3) lucra US$ 2,4 bilhões no 3ª tri, queda anual de 15%

Mineradora divulgou nesta quinta (24) o balanço relativo ao terceiro trimestre deste ano

A Vale (VALE3) divulgou nesta quinta (24) o balanço relativo ao terceiro trimestre deste ano. A mineradora registrou lucro líquido de US$ 2,4 bilhões, queda de 15% em relação ao mesmo período em 2023. Na comparação com o 2º trimestre deste ano, quando anotou lucro de US$ 2.76 bi, a queda foi de 13%.

O Ebitda da Vale (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou em US$ 3,615 bilhões, resultado 18% abaixo do registrado no terceiro período de 2023 e 9% menor na comparação com os três meses imediatamente anteriores.

Segundo a mineradora, o desempenho no terceiro trimestre da Vale é decorrente, principalmente, dos menores preços realizados de finos de minério de ferro, que caíram US$ 12 a tonelada, parcialmente compensado por maiores volumes de vendas de minério de ferro.

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“No trimestre, nossa produção de minério de ferro atingiu seu nível mais elevado em mais de cinco anos, resultado do nosso foco contínuo na excelência operacional”, comenta o novo presidente da empresa, Gustavo Pimenta, na apresentação do balanço. As receitas líquidas no terceiro trimestre de 2024 somaram US$ 9,553 bilhões, queda de 10% na comparação de 12 meses e com recuo de 4% na comparação trimestral.

As receitas líquidas no terceiro trimestre de 2024  da Vale somaram US$ 9,553 bilhões, queda de 10% na comparação de 12 meses e com recuo de 4% na comparação trimestral.

Desempenho operacional havia surpreendido mercado

A Vale anunciou ao mercado no último dia 15 produção de 90,9 milhões de toneladas de minério de ferro, uma alta de 5,5% na comparação com o terceiro trimestre de 2023. A produção de pelotas aumentou 12,9% na mesma base de comparação, para 10,3 milhões de toneladas. As vendas também apresentaram crescimento: de 1,6% para o minério de ferro (81,8 milhões de toneladas) e de 17,8% para pelotas (10,1 milhões de toneladas).

No período de julho a setembro de 2024, a mineradora vendeu cada tonelada de minério de ferro por US$ 90,6, o que significa uma queda de 13,8% em comparação com o preço praticado um ano antes, de US$ 105,1. O preço realizado de pelotas apresentou recuo menor, de 8,1%, para US$ 148,2 por tonelada. Os números foram considerados fortes e em linha com a expectativa dos analistas do mercado financeiro – o que coloca a companhia na rota para cumprir a projeção (guidance) de produção de 323 milhões de toneladas a 330 milhões de toneladas até o fim de 2024 –, mas eles também indicam um recuo na geração de caixa da companhia, medida pelo Ebitda.

A empresa divulgou o balanço em meio à forte desconfiança do mercado. A casa mais pessimista (Itaú BBA) do levantamento feito pelo E-Investidor, estimava uma queda de 65,5% do lucro líquido da empresa, para US$ 977 milhões. As perspectivas dos oito analistas consultados pelo E-Investidor era de que a empresa apresentasse um desempenho menor que no ano passado devido à queda do preço do minério de ferro no mercado internacional.

Para os analistas do Goldman Sachs, a empresa mostrou em sua prévia operacional divulgada no dia 15 de outubro que o terceiro trimestre de 2024 foi o mais forte para a produção da mineradora desde o quarto trimestre de 2018. Eles dizem que esse é só o começo do que esperam ser uma “reviravolta operacional” da Vale após anos desafiadores desde 2019.

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Ou seja, mesmo que a Vale tenha produzido mais em uma surpreendente recuperação, os próprios analistas do Goldman Sachs estimam que os números deste ano serão menores do que os apresentados em 2023. Em relatório, a equipe de especialistas estima que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da Vale deveria atingir um Ebitda de US$ 3,7 bilhões, uma queda de 11,27% na comparação com os US$ 4,17 bilhões verificados no mesmo período do ao passado.

O fator China no balanço da Vale

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, lembra que a estrada para a recuperação de VALE3 em relação ao preço do minério de ferro é longa. Ele comenta que recentemente houve uma nova rodada de estímulos à economia chinesa anunciada pelo governo da segunda maior economia do mundo. No entanto, diz que o dinheiro injetado pode não ser forte o suficiente para alavancar o crescimento da China, situação que já foi vista em pacotes anteriores.

Na semana passada a China anunciou uma nova rodada de estímulos para a sua economia, com foco em reforma de habitações populares e término de construções já iniciadas. “Os estímulos ficaram concentrados em ofertas já existentes, que em nada corroboraram para criação de uma demanda nova, o que realmente interessaria para a Vale, podendo também ser bacana pensando em preço de minério de ferro”, argumenta Arbetman. Justamente por causa da falta de fato novo que leve à criação de demanda é que ele argumenta que a situação do minério de ferro deve continuar estática, na casa dos US$ 90 por tonelada.

O impacto de Mariana sobre a Vale

O Safra considera que a atualização sobre os termos gerais em discussão para a liquidação definitiva do acordo de Mariana é “ligeiramente positiva” para a Vale (VALE3), pois pode significar uma vantagem para as expectativas consensuais de disposições adicionais.

Em relatório sobre o acordo da Vale, o banco diz entender que os US$ 956 milhões que serão reconhecidos como provisões nos resultados do terceiro trimestre da mineradora representam a melhor avaliação da Vale do valor presente líquido dos danos propostos através de um cronograma estimado e terão um impacto limitado na expansão dívida líquida.

Para o Safra, “se nenhuma provisão for adicionada ao acordo quando ele for fechado, aumentaríamos nossa premissa de valor justo de patrimônio, já que consideramos US$ 2,3 bilhões em provisões adicionais em nossas estimativas”, afirmam os analistas.

Dado que um acordo está próximo de ser alcançado, o banco pondera que isso poderá indicar que a empresa não irá aumentar ainda mais as suas provisões. Contudo, o Safra destaca que o cronograma de distribuição dos fluxos de caixa ainda não foi definido e poderá impactar o valor provisionado, que é o valor presente líquido dos desembolsos futuros.

Segundo informações do Broadcast, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá assinar na próxima sexta-feira (25) o acordo de R$ 167 bilhões para reparação de danos decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015. O ato ocorre após uma séria de reuniões do chefe do Executivo com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e outros chefes de pastas na últimas semanas. A informação foi confirmada pela Secretaria da Comunicação Social (Secom) ao Broadcast.

Segundo a agência, está prevista a criação de um novo fundo administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de um programa de transferência de renda a pescadores e agricultores atingidos pela tragédia. Dentre outros pontos, também estão previstos investimentos na duplicação de duas rodovias (BR-262 e BR-356) que cruzam os Estados do Espírito Santo.

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O julgamento em Londres sobre a tragédia de Mariana teve início nesta semana. Do total previsto no acordo que será assinado na sexta-feira, R$ 100 bilhões serão pagos no prazo de 20 anos. Além de recursos novos, o acordo prevê pagamentos já realizados pelas empresas. Os valores serão desembolsados pelas mineradoras Vale, BHP e Samarco.

(Com informações do Broadcast, Wladimir d’Andrade e Bruno Andrade)