Este será o maior pagador de dividendos, em meio a nova fase do empréstimo consignado CLT
Foto: Adobe Stock
A recente ampliação do crédito consignado para trabalhadores do setor privado com carteira assinada está movimentando o setor bancário e reacendendo discussões sobre rentabilidade e distribuição de lucros. Desde a última sexta-feira (25), a nova modalidade passou a ser disponibilizada nas plataformas digitais de todas as instituições financeiras, marcando o início de uma nova fase no mercado de crédito voltado à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Embora o programa esteja em vigor desde março, a adesão entre os grandes bancos foi gradual. Enquanto instituições de menor porte se anteciparam, os principais players do mercado — como Itaú, Bradesco, Santander, Nubank e Banco do Brasil — adotaram uma postura mais prudente nas semanas iniciais.
Especialistas ouvidos pelo E-Investidor consideram essa estratégia cautelosa uma forma sensata de lidar com os riscos ainda pouco mensurados dessa nova estrutura de crédito.
Entre os principais desafios apontados por analistas estão a alta rotatividade de trabalhadores no setor privado, a dependência de dados do eSocial e a falta de um histórico consolidado de inadimplência. Esses fatores tornam o consignado CLT distinto do tradicional empréstimo voltado ao funcionalismo público, mais previsível e seguro do ponto de vista do crédito.
Ainda assim, a nova linha de financiamento pode ganhar relevância nos próximos anos. Estudo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indica que cerca de um quarto das pessoas que hoje recorrem ao crédito pessoal sem garantias poderiam migrar para essa alternativa, mais acessível e com juros menores. Estima-se que esse público movimenta atualmente R$ 83,8 bilhões em contratos ativos.
Com a entrada dos grandes bancos no programa, o mercado volta-se agora para os impactos dessa operação nos lucros e, especialmente, nos dividendos das instituições listadas na Bolsa.
Qual será o maior pagador de dividendos?
Projeções apontam que o Banco do Brasil deve assumir a dianteira como o maior distribuidor de proventos nos próximos meses.
Segundo estimativas de analistas do mercado financeiro, a rentabilidade com dividendos do banco estatal pode alcançar até 11% em 2026, com projeções de retorno similares já em 2025. Essa performance supera a de concorrentes como Itaú e Bradesco, cujos dividendos esperados para o próximo ano variam entre 8% e 11%, conforme dados de casas de análise como Empiricus, VG Research e Nord Investimentos.
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Apesar do destaque nos retornos, o Banco do Brasil ainda sofre com o desconto de mercado por ser uma instituição pública. A Nord Investimentos, por exemplo, afirma que só recomenda a compra das ações do BB quando sua cotação estiver ao menos 70% abaixo da do Itaú, algo que ainda não ocorre no momento. Fora dessa condição, a casa de análise continua considerando o Itaú como a opção mais segura.
Mesmo com menor rentabilidade, o Itaú é visto como um investimento menos suscetível a oscilações políticas e interferências estatais, o que atrai investidores mais conservadores. Por outro lado, para quem busca retorno mais elevado e aceita assumir algum risco institucional, o Banco do Brasil surge como alternativa de destaque.
No caso do Nubank, a leitura do mercado é diferente: por operar com estrutura mais flexível e perfil digital, o banco pode até se beneficiar da nova linha de crédito, ganhando espaço com um produto de menor risco de inadimplência, já que os descontos são feitos diretamente na folha de pagamento.
Apesar do potencial, o novo crédito ainda não deve provocar grandes mudanças nas margens financeiras dos bancos tradicionais. Os juros mais baixos da modalidade tendem a comprimir os ganhos com spread, o que explica a cautela na adesão inicial por parte das principais instituições.
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O avanço do consignado CLT, no entanto, pode ser uma transformação importante na carteira das instituições financeiras. E, enquanto o setor ajusta suas estratégias, investidores atentos aos dividendos já têm um favorito claro: o Banco do Brasil, que pode firmar sua posição como o principal pagador de proventos da nova fase do mercado de crédito.