A vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas traz muitos desafios para o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, que agora pode ter obstáculos em sua tentativa de controlar a inflação e manter a estabilidade econômica do país.
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De acordo com a reportagem do Business Insider, com a possibilidade de o governo implementar tarifas comerciais pesadas e apoiar políticas de imigração, economistas e analistas de mercado preveem que as propostas de Trump poderão elevar os preços, afetando diretamente a estratégia do Fed.
Desde a vitória de Trump, os futuros dos fundos do Fed e os rendimentos do Tesouro apresentam sinais de alerta. Em um contexto em que o Fed vinha aplicando cortes de juros para estimular a economia, a possibilidade de inflação elevada cria um dilema para a instituição: manter a trajetória de redução de impostos ou priorizar o controle inflacionário.
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Um corte de 25 pontos-base é esperado após a reunião desta semana, mas as expectativas para cortes futuros já mostram incertezas. O CME FedWatch aponta que a probabilidade de um novo corte em dezembro caiu de 83% para 71% ao longo do mês.
A reação dos mercados após a eleição também foi notável, com uma alta expressiva nos rendimentos dos títulos do Tesouro. A taxa dos títulos de 10 anos subiu 21 pontos-base, enquanto os de 30 anos registraram seu maior aumento desde março de 2020.
Para os economistas, a proposta de Trump de aumentar as tarifas de importação e reprimir a imigração pode impactar o mercado de trabalho, aumentando os custos de mão de obra e, na última instância, os preços. Paul Krugman, economista vencedor do Nobel, alertou que uma aplicação de tarifas mais amplas poderia representar um “choque inflacionário” sem precedentes para a economia americana.
Contudo, durante o primeiro mandato de Trump, os preços ao consumidor foram relativamente satisfatórios, mesmo em meio a uma guerra comercial com a China. A expectativa, porém, é que Trump adote uma postura ainda mais rigorosa com tarifas desta vez, mirando outras economias além da chinesa.
Independência do Fed em Risco
Além dos desafios econômicos, há ainda a possibilidade de interferência direta na autonomia do Fed. Durante a campanha, aliados de Trump sugeriram planos para minar a independência do banco central, promovendo mudanças que dariam ao presidente maior influência sobre as decisões de política monetária e até mesmo as substituições de Jerome Powell, atual presidente do Fed.
Segundo o Peterson Institute of International Economics, essa interferência poderia custar US$ 300 bilhões à economia e potencializar a inflação. Com a aproximação da reunião do Fed, há expectativas de que Powell evite se posicionar abertamente sobre a futura administração Trump, preferindo um tom diplomático em busca de preservar a independência do banco central nos próximos anos.
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As ações do Fed nos próximos meses, especialmente em relação aos cortes de juros e à resposta às políticas de Trump, serão seguras para a economia americana, enquanto o banco central navega em águas turbulentas diante de uma possível pressão política e de uma economia em transformação.
Colaborou: Gabrielly Bento.