O dólar hoje encerrou as negociações de quarta-feira (2) no seu menor valor desde agosto de 2024 ao registrar uma queda de 0,75%, a R$ 5,4202. A fraqueza da moeda americana reflete a reação dos investidores com um mercado de trabalho menos aquecido nos Estados Unidos. Segundo o relatório de emprego ADP, divulgado hoje, o setor privado americano perdeu 33 mil vagas no mês passado, marcando a primeira redução desde março de 2023. O resultado trouxe um alerta sobre a saúde americana e pressiona o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) a dar início ao ciclo de corte de juros.
“O dado de hoje levanta preocupações sobre a saúde do mercado de trabalho americano, elevando as expectativas e pressão sobre o Fed para uma flexibilização monetária”, explica William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. Em paralelo, o presidente americano, Donald Trump, anunciou o acordo comercial dos Estados Unidos com o Vietnã, uma semana antes do prazo final de 9 de julho para que as tarifas voltassem aos níveis anunciados no dia 2 de abril.
De acordo com Trump, os produtos vietnamitas importados para os Estados Unidos serão taxados com uma alíquota de 20%, menor que a taxa de 46% imposta no início de abril. A alíquota, porém, subirá para 40% caso os produtos sejam produzidos em outros países. Em contrapartida, os itens exportados dos EUA para o Vietnã não serão penalizados por tarifas.
Nickolas Lobo, especialista em investimentos da Nomad, avalia que, embora os porcentuais representem uma redução considerável, a tarifa ainda pode gerar um efeito inflacionário para os consumidores americanos, especialmente nos setores de componentes elétricos e eletrônicos e produtos têxteis. “Se esses custos serão ou não repassados aos consumidores, ainda é incerto”, complementa.
Os riscos, no entanto, não intimidaram as bolsas de Nova York. Os índices acionários S&P 500 e Nasdaq encerram o pregão de quarta-feira (2) com ganhos de 0,47% e 0,94%, respectivamente. Para Lobo, a reação positivo pode estar mais associada à redução de incerteza sobre o cenário tarifário do que um otimismo pela magnitude da tarifa em si. “Além disso, Trump sinalizou que pode ignorar ou revisar o próximo prazo para o aumento de suas tarifas recíprocas, o que adiciona um elemento de imprevisibilidade ao cenário”, acrescentou.
Dólar em queda
O fraco desempenho da moeda americana não se limita a sessão de quarta-feira (2). Em junho, o dólar encerrou com uma desvalorização de 4,99%, sendo negociado a R$ 5,43 no pregão de segunda-feira (30). Como mostramos nesta reportagem, a política monetária do Brasil, que ainda permanece bastante restritiva, teve forte peso no desempenho do mercado de câmbio. Com a Selic a 15%, os investidores internacionais encontram no Brasil uma oportunidade de ganhar dinheiro com a diferença de juros em relação a outras economias, especialmente as desenvolvidas.
No entanto, a apreciação do real frente ao dólar não deve ser interpretada como sinal de equilíbrio. Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP, ressalta que, para que a valorização do real frente à moeda americana siga consistente, será necessário que haja avanços na agenda econômica doméstica, como a redução do risco fiscal. “A valorização do real segue sustentada por fatores técnicos e globais, mais do que por fundamentos domésticos”, diz.
Mercado aguarda desfecho sobre IOF
No entanto, desde a semana passada, o mercado acompanha o impasse em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que, a depender do desfecho, pode azedar o humor dos investidores. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de manter a validade do decreto responsável pelo aumento do IOF que foi derrubado pelo Congresso.
A decisão deve acirrar ainda mais a relação entre o Poder Executivo e o Legislativo. Já entidades empresarias, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), pediram ao STF para manter a decisão dos parlamentares. “A judicialização do decreto do IOF, a ameaça de novas propostas no Congresso que ampliam a rigidez orçamentária, amplia a percepção de falta de articulação na política fiscal”, diz Costa.
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Apesar do cenário incerto no exterior e do risco fiscal doméstico, a Porto Asset reduziu a projeção do dólar para o fim de 2025 de R$ 6,25 para R$ 5,25 ao enxergar uma apreciação significativa do câmbio no primeiro semestre do ano. Para 2026, a gestora estima uma cotação de R$ 5,80 para a moeda americana.