As movimentações para organizar passivos no varejo renderam nesta segunda-feira (29) uma alta de mais de 30% às ações das Casas Bahia (BHIA3) e quase 2% dos papéis de Magazine Luiza (MGLU3) na B3. À tarde, as ações de Magazine Luiza reagiram ao anúncio de zeragem de uma dívida de curto prazo, divulgado após a recuperação extrajudicial que turbinou os papéis das Casas Bahia. Analistas veem chance de mais medidas das varejistas à frente, num ambiente de juro alto e incerteza sobre a saúde financeira das empresas.
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Na primeira resposta à recuperação judicial das Casas Bahia, Magazine Luiza chegou a cair enquanto Americanas ficou estável. Houve uma diminuição da exposição dos investidores ao varejo, em dificuldades, mas aposta na primeira empresa pela leitura positiva sobre a renegociação de passivos.
No fechamento, Casas Bahia registrou valorização de 34,19%, acima de R$ 7,30 (maior cotação em um mês), apagando perdas em abril. A empresa recuperou R$ 176,8 milhões em valor de mercado somente hoje. Assim, a ação BHIA3 saiu da liderança das maiores perdas do Ibovespa no ano – até sexta-feira mostrava uma deterioração de 52%, reduzida hoje a 35,85%.
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Já Magalu terminou a sessão com avanço de 1,40% e andou ainda mais no after market, para acima de 2%, com o pagamento de R$ 2,1 bilhões em notas promissórias, zerando a sua dívida curta. “Acredito que algumas empresas estejam fazendo esse movimento, porque se não fizerem ficarão ilíquidas”, diz o analista Hugo Queiroz, sócio diretor da L4 Capital. “Isso reduz o risco financeiro da empresa.”
Magalu vinha sendo questionada sobre esse vencimento e já havia dito repetidas vezes que faria o pagamento. Ele aconteceu no dia seguinte ao pedido extrajudicial das Casas Bahia, que tinha vencimentos de R$ 772 milhões em abril, e mais R$ 442 milhões em setembro.
Segundo Queiroz, da L4 Capital, como os juros ainda seguem elevados, as empresas estão alongando as dívidas para 2026, a fim de se beneficiar do efeito da Selic terminal em 2025, ainda considerando a perspectiva de ficarem abaixo de 2 dígitos. “Esse ano e o ano que vem serão de oportunidades para capturar crescimento para pagar as dívidas daqui dois anos com juros mais baixos.”
Para José Daronco, analista da Suno Research, o pedido extrajudicial feito por Casas Bahia deve pôr fim às expectativas mais negativas para a varejista. “Equalizando esse passivo, conseguirá, de maneira mais rápida, voltar a ser uma empresa lucrativa”, declara.
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Na opinião de Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos, evitar o risco de insolvência é a principal mensagem positiva para o investidor nessa decisão de Casas Bahia, com potencial de diluição “bem alta” para o acionista, na sua percepção.
“A recuperação extrajudicial foi um bom caminho, uma vez que é menos custosa do que uma recuperação judicial, e também limita o escopo às dívidas financeiras, não impactando outros pontos que uma eventual recuperação judicial poderia afetar”, diz Carlos Dalltozo, chefe de análise da Eleven Financial, mesmo considerando potencial diluição do papel que pode afetar os acionistas como viés negativo, uma vez que as dívidas com os bancos foram tomadas com a possibilidade de serem convertidas em ações entre 18 e 36 meses, com desconto em torno de 20% frente à média do preço de 90 dias anteriores à conversão.
Para ele, apesar de gerar uma diluição grande para os atuais acionistas minoritários no papel, em geral, a operação foi muito positiva para Casas Bahia. “Resolve um enorme gargalo em termos de pagamento de dívidas e traz um alívio financeiro para a companhia no curto prazo”, pondera.
Para a XP, outro ponto positivo sobre o plano, é que ele não compromete as obrigações financeiras da companhia com fornecedores e funcionários.
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