O dólar foi abaixo da marca psicológica de 5 reais pela primeira vez desde meados de 2021 nesta quarta-feira, com juros domésticos elevados continuando a atrair fluxos estrangeiros –que deixavam a moeda brasileira com o melhor desempenho global tanto neste pregão quanto no acumulado do mês e do ano.
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Às 11:50 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,86%, a 5,0075 reais na venda, depois de chegar a tocar 4,9978 reais (-1,05%).
Caso mantivesse esse patamar até o fim das negociações, o dólar registraria uma mínima desde a cotação de encerramento de 4,9764 reais atingida em 30 de junho do ano passado, que também foi a última vez que a divisa norte-americana fechou abaixo dos 5 reais.
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Na B3, às 11:50 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,06%, a 5,0095 reais.
Com o desempenho desta manhã, o dólar à vista aprofundava as perdas no acumulado de fevereiro para cerca de 5,6%, intensificando a queda em 2022 para mais de 10%. O real –que liderava os ganhos contra o dólar entre uma cesta de mais de 30 divisas de todo o mundo nesta sessão– também ostenta o melhor desempenho no mês e no ano.
Por trás da intensa desvalorização da moeda norte-americana está um “fluxo grande de dólar para o mercado, depois que o Brasil –e mercados emergentes, em geral– se adiantou em relação a países desenvolvidos na normalização da política monetária”, disse à Reuters Bruno Mori, planejador financeiro da Planejar.
O mercado aguarda para as 14h30 (de Brasília) desta quarta-feira os mais recentes dados do fluxo cambial ao país. Apenas nas duas primeiras semanas de fevereiro o Brasil recebeu 5,077 bilhões de dólares via câmbio contratado (acima dos 3,383 bilhões de dólares do mesmo período de 2021), elevando o saldo no acumulado do ano para 6,570 bilhões de dólares, contra 6,180 bilhões de dólares um ano antes.
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Quanto maior o diferencial de custos de empréstimo entre Brasil e economias desenvolvidas, como os Estados Unidos, maior tende a ser a atratividade do real para estratégias de “carry trade”, que tentam lucrar com a compra de divisas que oferecem retornos elevados.
A taxa Selic está atualmente em 10,75%, enquanto os juros da maior economia do mundo seguem perto de zero –embora o banco central dos EUA, o Federal Reserve, tenha indicado que começará a elevá-los no mês que vem.
Mori afirmou que a leitura de fevereiro do IPCA-15, divulgada mais cedo pelo IBGE, pode fazer com que os participantes do mercado elevem suas estimativas para o patamar dos juros ao fim do ciclo de aperto do Banco Central, o que tenderia a reforçar a pressão de baixa sobre o dólar.
O IPCA-15, considerado prévia da inflação, acelerou a alta para 0,99%, maior variação mensal para um mês de fevereiro desde 2016 (+1,42%).
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Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina no Goldman Sachs, disse em relatório divulgado após a leitura do IPCA-15 que “o desafiador pano de fundo atual e prospectivo da inflação” e a recente guinada mais agressiva do Fed no combate à alta dos preços “requerem uma calibração conservadora da política monetária” no Brasil.
Além da perspectiva de juros mais altos, Mori, da Planejar, apontou os preços altos das commodities como fator de impulso para a moeda brasileira, uma vez que tendem a intensificar o ingresso de dólares em países exportadores desses insumos, caso do Brasil.
Na terça-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a taxa de câmbio brasileira tem sido afetada por uma série de variáveis –como o juro mais alto, desempenho fiscal melhor do que o esperado e rotação de fluxos para ativos– que estão contribuindo para sua apreciação e gerando entre investidores uma percepção de que é “importante entrar agora”.
No exterior, o índice do dólar caía 0,1%, conforme investidores aguardavam os próximos desdobramentos envolvendo os atritos entre Rússia e Ucrânia.
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