Aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e questões técnicas do mercado de câmbio local levaram a uma nova escalada da moeda americana na sessão desta sexta-feira (12). Com máxima a R$ 5,1482 no início da tarde, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,60%, cotado a R$ 5,1212 – ainda nos maiores níveis desde meados de outubro. Na semana, o dólar avançou 1,10%, estendendo os ganhos no mês a 2,11%.
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Já fortalecido globalmente pela perspectiva de que o Federal Reserve postergue o corte de juros nos EUA para o segundo semestre, o dólar subiu mais alguns degraus hoje com aumento da aversão ao risco. Sinais de ataque iminente do Irã a Israel – que, se concretizado, pode levar ao envolvimento direto dos Estados Unidos nos conflitos no Oriente Médio – provocaram um típico movimento de fuga para a qualidade.
Investidores reduziram posições em ativos de risco para se abrigar nos Treasuries e na moeda americana. Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, o índice DXY, que já operava nos maiores níveis desde novembro, chegou a superar os 106,000 pontos, com máxima aos 106,109 pontos.
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Entre divisas emergentes pares do real, o peso mexicano amargou o pior desempenho, com realização de lucros de ganhos recentes. O chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, observa que dados recentes de atividade e inflação nos EUA já levavam ao fortalecimento global do dólar. A leitura acima do esperado da inflação ao consumidor em março, divulgada na última quarta-feira, deu ainda mais força à moeda americana, ao desencadear mudanças de expectativas para a magnitude total de redução de juros pelo Fed neste ano. “O mercado passou a ver mais chances de apenas duas quedas dos juros. Tem até quem veja espaço para um corte ou até manutenção. Vimos uma grande reprecificação da curva de juros americana”, afirma Garcia, ressaltando que hoje houve um movimento de risk off com em razão do quadro geopolítico.
“Vemos as taxas dos Treasuries fechando e dólar para cima, com redução de posições em moedas emergentes na véspera do fim de semana”. Garcia observa que o real, embora sofra menos que divisas pares hoje, tem desempenho inferior a de moedas latino-americanas na semana – o que pode ser atribuído em parte ao aumento dos ruídos políticos locais e à crescente desconfiança em torno do compromisso do governo com o arcabouço fiscal.
“A manobra para mudar o arcabouço e liberar mais recursos neste ano pegou mal. E as questões envolvendo a Petrobras não ajudam”, diz Garcia, em referência ao vaivém das notícias sobre possível distribuição de dividendos extraordinários que foram retidos. Já foi aprovado pela Câmara e está no Senado projeto que muda o arcabouço fiscal e libera gastos extras de R$ 15,7 bilhões neste ano.
Além disso, está em curso debate para alterar a meta do resultado primário de 2025, de superávit de 0,5%, para algo entre zero e 0,25% do PIB. Além do fortalecimento global do dólar e dos ruídos domésticos, a formação da taxa de câmbio tem sido influenciada por questões técnicas. Na segunda-feira, 15, vencem NTN-As no valor de US$ 3,8 bilhões, cuja liquidação se dará de acordo com a taxa ptax desta sexta-feira. Na prática, quem carrega NTN-As está “comprado em dólar”.
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Quando os títulos vencem, os detentores podem ir ao mercado para recompor sua posição, o que aumenta a demanda por compra no mercado futuro e turbina a cotação da moeda. Como o Banco Central vendeu, no último dia 2, US$ 1 bilhão em swaps cambiais extras, mencionando justamente o vencimento de NTN-As, haveria ainda uma demanda de US$ 2,8 bilhões por dólar futuro.