Com a primeira sinalização de enfraquecimento do mercado de trabalho evidenciada pela geração de empregos formais de maio e suporte adicional vindo do exterior – da percepção de que há espaço para mais corte de juros nos EUA -, a segunda etapa do pregão desta segunda-feira (30) foi de renovação de mínimas na curva local de juros futuros, principalmente nos vencimentos mais longos – que chegaram a ceder cerca de 30 pontos-base nas mínimas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) que vence em janeiro de 2026 terminou a sessão em 14,925%, vindo de 14,931% no ajuste de sexta-feira. O DI com vencimento em janeiro de 2027 recuou de 14,181% no último ajuste para 14,095%. O DI de janeiro 2028 cedeu de 13,429% no ajuste anterior para 13,250%, e o contrato de janeiro 2029 encerrou a segunda em 13,070%, vindo de 13,316% no ajuste mais recente.
Divulgado nesta tarde pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou que 148.992 postos de trabalho foram criados no mês passado, o que foi visto como um indício, ainda que incipiente, de perda de força do emprego. O saldo entre admissões e demissões no período foi mais fraco do que o projetado pela mediana do Projeções Broadcast, de 171,8 mil vagas. O mercado de trabalho resistente, que se contrapõe aos números mais modestos de inflação das últimas leituras, tem sido um ponto de atenção para o Banco Central.
O ambiente externo também ajudou a dar alívio à curva a termo brasileira nesta segunda, que acompanhou o declínio nas taxas dos títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries), refletindo a avaliação de que o Federal Reserve (Fed) pode ter margem maior para reduzir os juros, assim como os apelos do presidente dos EUA, Donald Trump, para que o ciclo de alívio monetário na economia americana comece logo.
Para Clayton Calixto, chefe da área de especialistas de portfólio da Santander Asset Management Brasil (SAM), os números do Caged foram decisivos para o fechamento da curva de juros observado hoje, ainda que sejam “uma gota no oceano”, ou seja, uma primeira evidência de perda de fôlego da economia. Como o BC foi bastante duro em seu discurso recente de que a Selic permanecerá em 15% por um período “bastante prolongado”, quando um indicador de atividade vem mais fraco do que o previsto, o mercado tende a avaliar que o ciclo de redução de juros pode ser antecipado, aponta Calixto.
“O mercado vai ficar de olho nos dados de inflação e de atividade. Qualquer número que venha contra essa postura mais dura do BC pode provocar alívio na curva de juros”, afirma o especialista da gestora de recursos do Santander, que também ressalta a dinâmica mais benigna dos últimos números de inflação. Em revisão antecipada à Broadcast, a Santander Asset reduziu a estimativa para a alta do IPCA em 2025 em 0,2 ponto porcentual, para 5,1%, devido a surpresas baixistas com os dados de curto prazo.
Em revisão de cenário publicada nesta segunda, o Bradesco também diminuiu sua projeção para o aumento do indicador, de 5,4% para 5% em 2025. Conforme o banco, o real valorizado ante o dólar e “surpresas baixistas” de curto prazo motivaram a alteração na estimativa, ao mesmo tempo em que o ambiente inflacionário tem melhorado ao longo do ano, à medida que o repasse do choque cambial observado em 2024 está perdendo força.