A última reunião do Comitê aconteceu em 18 de junho deste ano, e já havia estabelecido a taxa básica de juros em 15% anuais. O Boletim Focus de segunda-feira (28), relatório semanal de expectativas do mercado, também previa que a Selic permaneceria nesses pontos percentuais – além disso, a expectativa é que a taxa apenas mude a partir de 2026.
Com a manutenção, alguns investimentos influenciados pela Selic podem sofrer uma mudança em sua rentabilidade anual, como a popular poupança e outras modalidades como aplicações no Tesouro Direto, Certificado de Depósito Bancário (CDB), Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), entre outras.
Veja, a seguir, como fica a rentabilidade da poupança e se as cadernetas ainda são mais atrativas do que outros investimentos com a Selic a 15%.
O que esperava o mercado e qual o cenário futuro para a Selic?
De acordo com Antônio Santos, analista do time de research da Rico, a visão do mercado é consensual: o Copom manter a Selic nos 15% ao ano. “Isso se deve, um pouco, ao cenário atual, principalmente porque a política monetária contracionista está fazendo efeito”, diz.
O mestre em economia, Luan Cordeiro, explica que, “apesar da inflação acumulada em 12 meses ainda girar em torno de 5,3%, os núcleos permanecem relativamente ancorados”.
“O próprio Banco Central, na ata da última reunião, reconheceu que os efeitos das altas anteriores seguem em curso e que é prudente observar os desdobramentos nos preços, na atividade econômica e nas expectativas”.
Isso significa, de acordo com o economista, que a inflação está em tendência de ser cada vez mais controlada, muito devido à taxa de juros aplicada em 15%. Entretanto, ainda deve se manter a cautela e observar as atividades econômicas – principalmente aquelas que envolvem crédito e consumo – antes do BC começar a cortar a Selic.
Apesar disso, Cordeiro alertou: “embora improvável, observa-se a possibilidade de um último ajuste residual de 0,25 ponto percentual, caso os dados do IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, medição oficial da inflação no Brasil], câmbio ou expectativas de inflação tragam surpresas negativas de última hora”, mas acrescenta que tal movimento teria um peso simbólico, e não prático.
Valter Police, planejador financeiro da Droom Investimentos, concorda. “Se vai subir, cair ou se manter em 15% nas próximas reuniões, eu não sei. Mas, na verdade, nem acho tão relevante. Isso porque a expectativa de mercado é soberana e não é 0,25 ou 0,5 ponto para cima ou para baixo que vai mudar a vida de ninguém”.
Além de todos os analistas considerarem que a taxa de juros se manteria, outra unanimidade entre os especialistas é que o corte da Selic só acontecerá no ano que vem. “O mercado espera que a Selic fique no patamar de 12,5% ao ano até o final de 2026”, explica Santos.
Selic e sua relação com a inflação
A Selic, sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, é a taxa básica de juros da economia brasileira e um dos principais instrumentos de política monetária utilizados pelo Banco Central no controle da inflação. Ela funciona como o ‘custo do dinheiro’, influenciando diretamente o valor dos empréstimos, financiamentos e demais operações de crédito.
Por isso, quando a inflação está em alta, o Banco Central tende a elevar a Selic para encarecer o crédito e desestimular o consumo. Com menos dinheiro circulando na economia, a pressão sobre os preços diminui, ajudando a conter a inflação causada pelo excesso de demanda.
“Há uma relação inversa entre a taxa de juros e a inflação visto que, quanto maior a taxa de juros, menor é o interesse dos agentes econômicos em demandar moeda, isto é, fica mais favorável poupar, investindo em renda fixa do que consumir. Ou seja, os agentes optam por consumir no futuro do que no presente”, explica Luan Cordeiro.
É por isso também que, em um cenário de Selic elevada, os investimentos em renda fixa atrelados a juros se tornam ainda mais atrativos. Afinal, a lógica desses ativos consiste em o investidor “emprestar” dinheiro a bancos ou ao governo por meio de títulos, sendo remunerado com juros após determinado período. Com a taxa em 15% ao ano, essa remuneração se torna significativamente mais vantajosa.
Veja como fica a poupança e se ela é mais atrativa do que outros investimentos
Entre as modalidades de investimento que funcionam como forma de empréstimo, está a poupança, super popularizada entre os brasileiros. Um levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em maio de 2025 apontou que 32 milhões de pessoas ainda escolhem investir em cadernetas de poupança, embora esse número seja 2% menor do que o levantamento anterior.
Mesmo favorita de muitos, diferente de outros investimentos de renda fixa, a taxa básica de juros em 15% quase não afeta positivamente a rentabilidade da poupança, tornando-a menos atrativa do que outras modalidades.
Bruna Centeno, economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos explica: “A poupança é menos resiliente, porque existe uma regra do Banco Central de que, se a Selic operar acima de 8%, a poupança fica travada no patamar de rentabilidade de 0,5% mensal. Então, para a poupança, com esse nível de manutenção não há ajuste de remuneração”.
Centeno afirma ainda que, apesar da média da população brasileira ainda concentrar um bom valor na poupança, especialistas como ela evitam considerar essa modalidade como investimento. “A poupança acaba sendo um recurso para quem ainda não tem acesso a outras opções”.
“Agora, os outros investimentos como o Tesouro Selic, CDBs, LCI, LCA, principalmente os pós-fixados, eles acompanham a Selic ou o CDI [Certificado de Depósito Interbancário], dependendo do indexador. Então isso significa que, quando a Selic está mais alta, esses investimentos têm uma maior rentabilidade [neste caso, de 15% ao ano], e quando está mais baixa, o oposto”, acrescenta.
A pedido do E-Investidor, Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), elaborou uma análise sobre o rendimento de investimentos na poupança e em outros ativos de renda fixa considerando a atual taxa Selic. A simulação calcula a rentabilidade bruta, líquida (descontadas taxas e impostos) e real (ajustada pela inflação) de um investimento de R$ 10 mil em diferentes tipos de títulos.
Confira os resultados a seguir:
Comparativo de Investimentos
Investimento |
Rent. Bruta em 1 ano |
Tx Adm. |
Imposto de Renda% em Reais |
Rentabilidade Líquida (R$) |
Valor Real (descontado da Inflação) |
LCA 97% |
14,55% |
– |
0,00 |
1.455,00 |
871,94 |
LCI 97% |
14,55% |
– |
0,00 |
1.455,00 |
871,94 |
CDB 116% |
16,50% |
– |
330,00 |
1.320,00 |
743,81 |
Tesouro Selic + 0,01% a.a. |
15,01% |
0,25% |
294,45 |
1.177,80 |
608,85 |
Fundo DI |
15,00% |
0,50% |
288,50 |
1.154,00 |
586,26 |
Poupança Nova |
8,30% |
– |
0,00 |
830,00 |
278,75 |
Poupança Antiga |
8,30% |
– |
0,00 |
830,00 |
278,75 |
Fundo DI2 |
15,00% |
1,00% |
277,00 |
1.108,00 |
542,60 |
Fundo DI3 |
15,00% |
2,00% |
254,00 |
1.016,00 |
455,29 |
Para além do cenário de juros, Police ressalta que o melhor investimento depende do perfil e dos objetivos de cada pessoa. Por isso, recomenda que todo investidor mantenha uma carteira diversificada, independentemente de a taxa de juros estar em 15% ou 5% ao ano.
Com essas explicações, o investidor pode reavaliar se a poupança ainda é uma alternativa vantajosa – especialmente considerando que grande parte do mercado já reconhece a existência de opções mais rentáveis em cenários de Selic em alta e, em muitos casos, até mais seguras.