Os mercados brasileiros estão cada vez mais desvalorizados. Como se não bastasse a Bolsa brasileira figurar como a pior do mundo, com queda de 15,96% em rentabilidade em 2024, o real superou o peso argentino como a moeda de menor valor entre os países emergentes na segunda-feira (17).
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Na data, o real fechou o dia desvalorizado em 10,54% no acumulado do ano em relação ao dólar, enquanto a moeda Argentina encerrou em recuo de 10,48%.
Já no fechamento da quarta-feira (19), o real acumulou desvalorização de 12,88% em 2024, em relação ao dólar e o peso encerrou o dia em queda de 12,06%, segundo dados levantados por Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria.
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Por que o real recuou tanto?
Para Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos, a queda da moeda brasileira está relacionada à visão de risco global, com a perspectiva de taxa de juros mais alta nos Estados Unidos, mas também à preocupação fiscal no Brasil e, consequentemente, o andamento das reformas. "O limite de despesa no Brasil vai crescer acima da inflação em 2025. Há uma dívida bruta do governo que está chegando a uma projeção de quase 81% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025; o ciclo de cortes na taxa de juros vai ser menor do que o esperado pelo mercado, junto com a inflação mais elevada", elenca Meira.
"Tudo isso, principalmente, por conta do fiscal e das reformas que estão sendo postergadas. Estamos diante de um governo que tem aumentado o gasto e não consegue fazer o aumento da receita", afirma o especialista e sócio da Valor Investimentos.
Já Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, acredida que o fato de os EUA ter adiado esse corte da taxa de juros aumenta a percepção de risco no mundo inteiro, o que penaliza moedas emergentes.
Além disso, o especialista comenta que as questões internas brasileiras ampliaram a desvalorização. "Na semana passada, foi a primeira vez que vimos o governo falar em cortar despesas. Ou seja, estamos falando de um governo que gasta mais, não tem um plano claro para ganhar uma arrecadação que compense esses gastos maiores no futuro", afirma.
Como a Argentina driblou o risco global
Horta acredita que a alavancagem da Argentina está atrelada à gestão de Javier Milei, que conseguiu aprovar uma reforma econômica, em que se tem mais autonomia para fazer esse manejo dos gastos e vai poder fazer privatizações sem passar pelo Congresso. "A Argentina vem, desde a eleição do Milei, implementando algumas medidas para poder melhorar justamente essa questão fiscal e a questão inflacionária", afirma o analista.
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"Recentemente, a Argentina registrou menor dado de inflação em dois anos, além de registrar cinco meses de superávit fiscal seguidos. Então, se olharmos por uma questão de perspectiva, o Brasil apresenta piora, enquanto a Argentina tem uma expectativa de melhora. Como o mercado é sempre movido à expectativa, essa relação entre Brasil e Argentina fica de forma oposta para a moeda dos países", comenta o especialista da GTF Capital.