- O primeiro ponto que o investidor deve avaliar é que ter aplicações ESG no portfólio é, sim, vantajoso e rentável
- Os produtos ESG estão disponíveis em diversas modalidades, como fundos de investimentos em ações, Imobiliários (FIIs), em Direitos Creditórios (FIDCs), em Participações (FIPs), ou nos chamados bonds
(Bruna Camargo) – A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) já está na reta final em Glasgow, na Escócia, mas toda a discussão sobre sustentabilidade pode ter “plantado uma sementinha” – para aproveitar a temática – no investidor que quer entender mais ou aprofundar as aplicações na carteira conforme os quesitos ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).
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O primeiro ponto que o investidor deve avaliar é que ter aplicações ESG no portfólio é, sim, vantajoso e rentável. Para especialistas, a desconfiança de que o algo que é sustentável ou ESG não é capaz de dar bons retornos é um dilema já superado.
Veja o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, por exemplo. No mês de novembro, o ISE bate a rentabilidade do Ibovespa, com +2,85% ante +1,92%. No ano, ambos seguem negativos, mas o ISE perde menos, com -10,05% ante -11,37% do IBOV. (Dados coletados às 12h de 08/11.)
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“Esse dilema entre ESG e rentabilidade é absolutamente um mito”, afirma Gustavo Pimentel, diretor da consultoria Sitawi Finanças do Bem. Ele explica que falar em “produto ESG” é extremamente amplo, sendo necessário analisar cada estratégia apresentada, como a de filtro negativo – que exclui determinadas empresas ou setores -, de valuation, de gestão de risco, de soluções sustentáveis, entre outras. “Tem muitas abordagens possíveis que podem ser complementares. O investidor precisa entender o que está comprando e às vezes isso não está claro”, diz.
Levar a sério dá (muito) trabalho
Os produtos ESG estão disponíveis em diversas modalidades, como fundos de investimentos em ações, Imobiliários (FIIs), em Direitos Creditórios (FIDCs), em Participações (FIPs), ou nos chamados bonds, instrumentos de dívida como títulos verdes, sociais, de sustentabilidade ou vinculados à sustentabilidade.
Mas só aceitar no carimbo “ESG”, “Verde” ou “Impacto” no nome do produto não resolve nada, e o investidor que quer ir além do marketing que se desenha ao redor do tema precisa empenhar algum tempo em análise, além de “gastar saliva e sola de sapato” nas conversas com gestores de recursos quando possível, como diz Celso Funcia Lemme, professor de Finanças e Sustentabilidade do Coppead/UFRJ.
No caso de fundos com essa classificação, Lemme sugere que o alocador levante algumas questões, como: Qual tipo de abordagem o fundo usa? A equipe da gestora é qualificada para essa abordagem? Qual porcentual da carteira do fundo está alocado em empresas verdadeiramente envolvidas com ESG? Há empresas na lista que estejam na contramão desses princípios? As empresas mais populares “da vitrine ESG” são as que trazem rentabilidade para essa carteira?
Lemme acredita que nem sempre a confusão com essas informações é um caso de greenwashing, como é chamada a tentativa de vender um produto como ESG apenas pelo benefício do marketing. “É um tema em expansão e, naturalmente, há aqueles que estão mais à frente, os que estão aprendendo e, bom, os que estão falando sem fazer. Mas às vezes é apenas falta de alinhamento entre a área técnica e a área de comunicação da gestora”, diz.
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Um investidor qualificado teria maior acesso aos gestores para conseguir essas informações, mas o investidor de varejo pode fazer sua pesquisa por meio das lâminas dos fundos e dos sites das companhias listadas, além de acompanhar relatórios e newsletters disponibilizadas por escritórios de investimentos, diz Lemme. Mas e o tempo para tudo isso?
Selos e indicadores
Cada vez mais populares, selos ESG e indicadores de sustentabilidade aparecem para oferecer um filtro ao investidor que quer se engajar mas não consegue fazer uma avaliação mais refinada dos produtos disponíveis.
Um exemplo é a iniciativa da Órama Investimentos, que há um ano “carimba” em sua plataforma fundos que seguem estratégias sugeridas por instituições como a Global Sustainable Investment Alliance: triagem negativa/excludente; triagem positiva/melhor da classe; triagem baseada em normas; integração ESG; investimento com tema de sustentabilidade; investimento na comunidade/de impacto; e engajamento corporativo e ação dos acionistas. Atualmente, dos 15 fundos com selo, 11 apresentam rentabilidade superior aos -11,37% do IBOV neste ano, conforme mostra a plataforma da Órama.
Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama, conta que o selo surgiu a partir de pesquisas de marketing e de interesse dos investidores, além de uma intenção de destacar gestoras engajadas no tema e incentivar as demais. “O investidor quer retorno financeiro, mas não a qualquer custo”, afirma Blanco. Para ela, as empresas – e consequentemente os produtos de investimento – dificilmente conseguirão ser 100% ESG, mas o investidor já busca um “balanço positivo” em suas aplicações.
Outros parâmetros aos quais o investidor pode ficar de olho são os do Principles for Responsible Investment (PRI) ou os índices de sustentabilidade que estão sendo preparados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Oportunidades na iliquidez
Se o investidor tem uma causa pela qual ele preza muito, algo em que ele quer aplicar dinheiro mas não encontra via empresas listadas, uma alternativa possível é recorrer às plataformas de financiamento coletivo (equity crowdfunding).
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Trata-se de uma modalidade regulamentada pela instrução 588 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acessível para todos os perfis de investidores, na qual empresas de capital fechado captam recursos em algo similar a uma “vaquinha virtual”. “Às vezes é um projeto pequeno para os padrões do mercado financeiro, mas você investe em algo direcionado, vinculando a um desejo pessoal”, afirma Lemme, da UFRJ.
Vale destacar que é um investimento ilíquido, de longo prazo e que demanda análise das empresas investidas.