- Buscas no Google detalham extensão da crise na rotina dos brasileiros
- Mercado financeiro foi o primeiro reagir
- Insegurança em relação ao dinheiro pode ser uma consequência da crise
Conforme o coronavírus avançou pelo País, o brasileiro foi alterando seu comportamento e suas prioridades e preocupações com relação ao dinheiro. Os históricos de buscas no Google, reunidos na pesquisa “Coronavírus: o mundo nunca mais será o mesmo”, deixam essa situação muito clara. Trata-se de um relatório interno do Google Brasil, ao qual o E-Investidor teve acesso.
Leia também
Dividido em três ondas, o relatório detalha as reações da população ao aprofundamento da crise provocada pela covid-19. Logo no início da pandemia, na chamada “onda zero” (20 de fevereiro a 14 de março), o mercado financeiro é destacado como o primeiro setor a perceber o (até então) possível choque econômico.
Na fase seguinte, denominada primeira onda (entre 14 e 22 de março), os riscos relacionados ao coronavírus ficam mais claros e a preocupação com formas de obter ajuda financeira cresce entre os brasileiros.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Já a última onda (a partir de 22 de março) é marcada pelo impacto em todas as necessidades da população. A seguir, entenda as principais mudanças comportamentais na relação do brasileiro com o dinheiro, de acordo com as pesquisas feitas no navegador.
1 – Onda zero: pré-crise
Mercado financeiro é o primeiro reagir
A população ainda não tinha sido efetivamente atingida pelo coronavírus quando o mercado financeiro começou a dar os primeiros sinais que o ambiente de negócios poderia ficar ruim.
Ainda era a segunda semana de março quando o circuit-breaker, mecanismo que paralisa as negociações na bolsa de valores, começou a ser acionado após quedas sucessivas do Ibovespa.
1 – Primeira onda: o aumento da percepção de risco
Crises recentes acendem um alerta no brasileiro
Quando os possíveis impactos econômicos do coronavírus começaram a ficar mais evidentes, o brasileiro passou a relembrar as crises recentes que o País enfrentou. As buscas por “Confisco da Poupança” cresceram 250% no Google, entre 14 e 25 de março.
A alta desse tipo de pesquisa reflete um trauma ainda presente na memória do brasileiro, no Governo Collor, e a preocupação em deixar as economias a salvo para enfrentar um novo período de estresse econômico.
Insegurança alavanca buscas por auxílio financeiro
Com a sensação de insegurança se espalhando pela população, o brasileiro começou a procurar por socorro financeiro. Ainda na primeira onda, as pesquisas por saque do FGTS cresceram 71%.
Após o anúncio das primeiras medidas econômicas emergenciais do Governo Federal e Estaduais, que ocorreram a partir da segunda semana de março, as buscas por “auxílio financeiro” expandiram 157%.
População procura por Instituições públicas
Procura por empréstimos em bancos públicos sobem 12,8%, junto com as buscas por auxílio do Governo, que se elevaram 20.547%.
Na outra ponta, a demanda por empréstimos em instituições privadas caiu 18,8% e só mostrou recuperação após campanha conjunta dos principais bancos privados do País.
2 – Segunda onda: o aprofundamento da crise
Números do varejo começam a refletir a crise
O varejo começa a sentir o impacto do isolamento social a partir da primeira semana de março. O setor de serviços foi o mais afetado, com queda de 50% em comparação ao mês anterior.
Publicidade
Por outro lado, o varejo de farmácias foi “beneficiado”, com alta de 16% na comparação mensal. A demanda por bens não-duráveis (principalmente alimentos e medicamentos), reflexo da necessidade de abastecimento das casas por conta da pandemia, teve crescimento expressivo de 33%.
E-Commerce se destaca
O isolamento social começou a ter efeito também sobre a forma pela qual o consumidor realiza suas compras. No final de março, pesquisas por “como fazer compras online” tiveram aumento de 198% na comparação com o mês anterior.
Essa tendência ao e-commerce é confirmada pelas buscas que mostram a intenção de compra no Google, que cresceram 18% na segunda onda.
Vistas as novas necessidades dos brasileiros, as marcas começaram a se mobilizar para auxiliar os “imigrantes digitais” – pessoas nascidas antes da popularização da internet – a acessarem os canais digitais. Foi o caso do Itaú e Banco do Brasil, por exemplo.
Buscas por financiamento estudantil continuam em alta
Mesmo com a desaceleração do FIES, a demanda por crédito estudantil privado é crescente. Atualmente, ainda existem mais de 20 milhões de buscas por FIES e crédito estudantil por ano. O aperto financeiro gerado pela crise também pode ser um dos fatores que mantém a alta nas buscas.
Aumenta o interesse por produtos financeiros
Mesmo com a crise econômica chacoalhando o mercado, o interesse por produtos financeiros se acentuou a partir de março, com destaque para investimentos, cartões, conta corrente e linhas de crédito.
- Investimentos: as buscas por termos relacionados ao mercado acionário e por produtos de renda fixa cresceram 160% em março. O interesse foi motivado pelos sucessivos circuit-breakers na bolsa de valores.
- Conta corrente: vários brasileiros procuraram informações sobre como abrir conta digital no google entre março e abril, principalmente na Caixa Econômica Federal. No total, a procura aumentou 62% em comparação com o bimestre anterior.
- Cartões: Os cartões da Nubank tiveram a maior procura entre os bancos, com 31% das buscas relacionadas. No total, a pesquisa por cartões cresceu 21% no período entre 20 de março e 20 de abril.
- Linhas de Crédito: A partir de abril, o interesse por crédito começa a crescer entre os brasileiros pessoas físicas, especialmente na modalidade de imobiliário (38%), consignados (15%) e institucional (14%). Em relação às pessoas jurídicas, o termo “empréstimos para MEI” foi o mais buscado, com alta de 28% entre abril e maio.
Legado da crise: impactos em todos os setores
De acordo com a pesquisa, a crise provocada pelo coronavírus irá impactar fortemente o comportamento da população brasileira, para além das consequências econômicas. O primeiro desses impactos seria na aceleração da digitalização para ocupações fundamentais, como trabalho e educação, da confiança nos processos digitais, com o aumento das compras online, e da consolidação de plataformas de conteúdo, como os streamings.
Por outro lado, a crise levará ao empobrecimento da população, aumento de problemas emocionais e de saúde, além do abalo nas relações familiares. O isolamento, que interrompeu os sonhos de muitos brasileiros, poderá reverberar no sentimento de urgência na retomada de decisões e planos e na criação de uma maior consciência coletiva, por meio do compartilhamento de renda.
Publicidade