- Na prática, a Selic serve como referência para todas as outras taxas de juros no País, como empréstimos e financiamentos. Logo, quando a Selic sobe, a tendência é que o crédito fique ainda mais caro
- Ainda assim, existem alguns 'segredos' para conseguir empréstimos e financiamentos a juros menores
- O primeiro passo é nunca aceitar a taxa padrão oferecida pelos bancos. Primeiro tente negociar para obter uma taxa personalizada, adequada ao seu perfil de cliente
A taxa básica de juros da economia chegou aos temidos ‘dois dígitos’ na quarta-feira (2). O Comitê de Política Monetário (Copom) do Banco Central elevou a Selic de 9,25% para 10,75%, isto é, um aumento de 1,5 ponto percentual. Até o fim do ano, o mercado espera que os juros estejam na casa dos 11%, segundo as projeções divulgadas no último Boletim Focus.
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A necessidade de subir a taxa de juros vem da tentativa de conter a inflação, que terminou 2021 em 10,06%, com destaque para a disparada dos alimentos e combustíveis. O ‘remédio amargo’ para o aumento generalizado dos preços afeta diretamente a economia e o dia a dia das pessoas. Na prática, a Selic serve como referência para todas as outras taxas de juros no País, como empréstimos e financiamentos.
Logo, quando a Selic sobe, a tendência é que o crédito fique ainda mais caro. “É uma métrica para definir as taxas de juros que serão cobradas em diversos setores da economia”, afirma Carol Stange, especialista em finanças pessoais. “Na vida real, se a Selic sobe, é muito provável que as taxas cobradas nos empréstimos pessoais, financiamentos de automóveis e imóveis, no cartão de crédito e cheque especial, subam também.”
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Se por um lado, os juros se tornam mais agressivos, por outro, algumas oportunidades podem aparecer. De acordo com Stange, o aumento das taxas tem como consequência também a desaceleração da busca por crédito.
“A falta de compradores pode até resultar em uma possível redução dos preços por parte de proprietários de imóveis, por exemplo, favorecendo a negociação”, explica Stange.
Aliás, antes de fechar qualquer negócio, é importante buscar as menores taxas possíveis em empréstimos e financiamentos. De acordo com Myrian Lund, planejadora financeira CFP pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros), contratar crédito de forma consciente e planejada é a principal dica para quem não quer ficar amarrado a juros exorbitantes.
“O fato de a Selic estar subindo obviamente impacta as taxas de mercado. O financiamento imobiliário já subiu, antes estava sendo praticado em 7%, agora já está em 9% ou 10%. O crédito pessoal da mesma forma”, afirma Lund. “Mas tem ‘segredinhos’ que podem baratear esse crédito”, garante a especialista.
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Leia as dicas de Lund para conseguir taxas mais baratas:
1 – Não aceite a taxa de juros ‘padrão’
Não contrate empréstimos ou financiamentos via aplicativos ou nos terminais automáticos do banco, porque a taxa de juros apresentada será a ‘padrão’. Ou seja, utilizada para a média dos clientes de varejo. Opte por conversar com o gerente para contratar uma taxa personalizada, que seja adequada ao seu perfil.
“Atualmente os bancos têm mais conhecimento sobre os clientes, principalmente com a chegada do open banking”, afirma Lund. “A tendência é que a taxa seja diferenciada de acordo com suas características. Então se você é um bom pagador, a taxa pode ser menor que a taxa padrão. Você merece uma taxa customizada.”
2 – Venda seu peixe
Quando estiver conversando com o gerente, o interessado precisa deixar claro alguns pontos básicos:
- Quanto você precisa;
- Para o que você precisa;
- Em quantas vezes irá pagar (tente sempre optar pelo menor número de parcelas possível);
- De onde você tirará os recursos para pagar.
Essa ‘proposta’ deve ser entregue ao gerente para ser analisada pelo banco em um prazo de até uma semana. “Com certeza virá uma taxa infinitamente menor”, afirma Lund. “A taxa é mais alta quanto maior a inadimplência. Se o banco tem confiança que você não ficará inadimplente, a taxa pode ser reduzida”, afirma.
3 – Peça a simulação
Não deixe de pedir uma simulação do seu empréstimo ou financiamento. Isso porque podem estar inclusas algumas ‘pegadinhas’, como taxas adicionais e desnecessárias. As chamadas ‘taxas de abertura de crédito’, as ‘TACs’, são exemplos desse tipo de cobrança bancária.
“São comissões que, se você é já é cliente, são desnecessárias. Você já está pagando juros, porque vai pagar mais taxas?”, ressalta Lund.
Caso você identifique esse tipo de taxação, basta ligar para o banco e pedir para retirá-las. Nesse caso, o cliente está respaldado já que a cobrança de TACs (ou qualquer outro nome dado a essa taxa) é ilegal.
4 – Cooperativas podem ser boas opções
De acordo com Lund, por vezes as cooperativas de crédito concedem melhores taxas aos clientes do que os bancos, principalmente aos clientes de varejo. Por isso, vale pesquisar antes de ir direto nas instituições financeiras tradicionais.
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“Se você é cliente de alta renda é mais fácil conseguir boas condições de crédito em bancos tradicionais. Para clientes de varejo, normalmente as taxas são altas e as cooperativas acabam oferecendo juros melhores. E claro, eles vão te analisar, ver seu perfil”, afirma a especialista CFP.
5 – Organização
Nenhuma das estratégias citadas acima serão possíveis de serem feitas sem organização. O ideal é que o contrato de um empréstimo ou financiamento aconteça de forma planejada, para que o interessado tenha tempo hábil de negociar melhores taxas com o banco.
Geralmente, entre o envio da proposta ao gerente e a análise do banco existe um prazo de pelo menos dois dias.
Já pago juros altos. O que fazer?
Se você já fez um empréstimo ou financiamento a juros mais altos do que gostaria ou se precisou de crédito de forma emergencial, ainda existe a possibilidade de realizar a ‘portabilidade’.
Fazer a portabilidade significa migrar seu financiamento ou empréstimo para uma instituição financeira que ofereça condições melhores. Nessa alteração, não é necessário pagar IOF (imposto sobre operações financeiras), o que é uma grande vantagem.
“Quando você pega um empréstimo e não está conseguindo pagar, renegociar é mais complicado, porque vai para o Banco Central. Você pode até conseguir reduzir, mas nem sempre isso acontece”, afirma Lund. “O melhor é fazer portabilidade para um local com taxas menores.”
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Essa dica é essencial para momentos, como o atual, em que a Selic está em alta. “A portabilidade é uma grande saída que teremos para os próximos anos. Hoje, é difícil encontrar taxas mais baixas, mas daqui 1 ou 2 anos será possível porque a taxa básica da economia voltará a cair”, diz Lund.
Já para Stange, a melhor forma de negociar as dívidas de empréstimos e financiamentos é primeiro entender quais são as taxas cobradas e o ‘CET’ (Custo Efetivo Total). “Por lei, o CET precisa estar apontado de forma legível e clara nos contratos. Isso é importante porque quando o consumidor quer fazer uma portabilidade de dívida ou trocar uma dívida cara por uma barata, ele precisará comparar o CET”, explica a especialista.