- Embora a ideia de deixar o dinheiro investido “trabalhar para você” pareça tentadora, os especialistas aconselham o investidor interessado nos proventos a analisar se aquele é realmente o tipo de investimento que se encaixa em seu perfil
- A remuneração de proventos pode ocorrer mensal, semestral ou até anualmente, a depender do tipo de ativo escolhido pelo investidor. E quem faz esse tipo de investimento conhece bem a sensação de ver o dinheiro rentabilizar e cair na conta limpo, sem desconto de Imposto de Renda
Viver de renda é um sonho para grande parte dos investidores que estão no mercado financeiro atrás da famosa “independência financeira”. E os dividendos – parte do lucro de uma empresa distribuído entre os acionistas de tempos em tempos – podem tornar tal desejo uma realidade.
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A remuneração de proventos pode ocorrer mensal, semestral ou até anualmente, a depender do tipo de ativo escolhido pelo investidor. E quem faz esse tipo de investimento conhece bem a sensação de ver o dinheiro rentabilizar e cair na conta limpo, sem desconto de Imposto de Renda.
Quer saber por onde começar? Então veja aqui algumas dicas de como investir em dividendos.
Como investir em dividendos?
O primeiro passo para investir em dividendos é analisar a taxa de remuneração do ativo escolhido, seja de renda fixa ou de renda variável. O dividend yield é o indicador fruto da relação entre o preço do investimento e o quanto este investimento remunera em proventos.
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Por exemplo: se a cota de uma empresa custa R$ 10 na bolsa de valores e ela remunera aos investidores R$ 1 anualmente, o dividend yield é de 10%. Na prática, quanto maior é esse indicador, maior é o valor a ser distribuído pelas empresas.
Essa métrica é fundamental para o investidor saber quais são as empresas que mais remuneram em forma de proventos, mas é importante se atentar às variações na taxa, que acompanham as cotações dos ativos.
Para José Cataldo, da Ágora Investimentos, um bom norteador quanto à remuneração dos investimentos é a Taxa Selic, atualmente a 13,75% no ano. Na visão do analista, um dividend yield competitivo precisa estar acima disso.
Rob Correa, analista de investimentos CNPI, aconselha quem está começando a se dedicar à estratégia de aportes mensais, que permite construir a carteira gradativamente sem a necessidade de colocar um grande capital de uma só vez.
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“O investidor vai pegar o primeiro rendimento em dividendos e somar com o aporte do próximo mês, construindo aquela bola de neve. No começo, vai receber pouco mesmo, porque investe pouco e recebe pouco. Com o passar do tempo você vai aumentando seu patrimônio”, explica Correa.
Como viver de dividendos? É possível?
Ainda que a ideia de deixar o dinheiro investido “trabalhar para você” pareça tentadora, os especialistas aconselham o investidor interessado nos proventos a analisar se aquele é realmente o tipo de investimento que se encaixa em seu perfil.
Para receber uma quantia de R$ 5 mil por mês, por exemplo, seria necessário investir pelo menos R$ 1 milhão em um ativo de dividend yield de 6% ao ano – valor muito distante para quem estiver começando a fase de acumulação de capital.
“A gente vê muitas pessoas buscando uma carteira mensal que pague dividendos, mas que elas não precisam. A primeira coisa que se deve pensar é se realmente faz sentido”, afirma João Beck, da BRA.
Para Beck, pode ser melhor buscar investimentos de prazos mais longos e que não paguem rendimentos. “Se eventualmente precisar de algum dinheiro, ela pode resgatar o valor que precisa, da forma mais adequada à necessidade dela. É melhor que ela venda ou resgate somente aquele montante que vai precisar pontualmente, explica.
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Larissa Quaresma, analista da Empiricus, acrescenta que o percentual da carteira investido em proventos pode variar de acordo com a fase da vida em que o investidor está. “De repente, você está na fase de construção de patrimônio, de multiplicação de capital. Na minha opinião, é mais interessante você investir em ativos que vão aumentar seu patrimônio porque você ainda tem energia para trabalhar, você ainda tem o seu capital humano próprio que pode te gerar renda”, afirma.
Na fase madura, com um nível de patrimônio já conquistado, mas sem a mesma força de trabalho para bancar o custo de vida, os dividendos são uma estratégia melhor. “Precisa ser consciente. Uma regra de bolso é que quanto mais velho você está, mais adequado é alocar dinheiro em ativos geradores de renda”, reforça Quaresma.
Ações de dividendos
Após decidir que o objetivo da carteira é a geração de proventos, é preciso escolher em quais ativos investir. Beck, da BRA, explica que nem todas as empresas remuneram dividendos. Algumas reinvestem o lucro gerado para financiar o próprio crescimento – e, portanto, não são as que o investidor deve buscar para compor a carteira de dividendos.
“As empresas que pagam dividendos o fazem porque não faz sentido investir para crescer mais dependendo do setor em que ela atua. Todo o lucro que elas geram vai para o bolso dos acionistas e, se você comprar a ação dessas empresas, você participa disso também”, diz.
Nesse sentido, o economista destaca as empresas classificadas como Utilities, que prestam serviços de utilidade pública e estão inseridas em setores que já estão muito consolidados, como saneamento básico, setor de logística e transporte, ou de distribuição de energia.
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Quaresma, da Empiricus, chama atenção também para as blue chips – as ações de primeira linha –, como Petrobras, Vale, Itaú ou Santander, que estão remunerando nas máximas dos últimos anos. A analista explica que as empresas continuam pagando a mesma quantidade de dividendos, apesar da depreciação dos preços no último ano.
“Quanto mais depreciado está o valor da ação, matematicamente, maior tende a ser o yield. E também quanto mais lucro e caixa a empresa está gerando, maior percentual do lucro ela tende a distribuir para os investidores”, afirma.
Para Cataldo, da Ágora, além da rentabilidade, a carteira de dividendos pode gerar um ganho de capital com a valorização dos ativos. “Quem monta essa carteira sabe que vai ter uma rentabilidade inferior à de uma carteira de crescimento, mas é uma carteira mais resiliente em momentos de queda da bolsa”, afirma.
Rob Correa acrescenta que, além de escolher as empresas, é preciso acompanhá-las ao menos uma vez no ano para saber se os balanços seguem positivos. “Um lado bom dessas empresas pagadoras de dividendos é que elas têm maior previsibilidade, maior estabilidade. Então não muda muito de um ano pro outro, geralmente, elas costumam entregar resultados mais perenes”, afirma.
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Além de Itaúsa e Telefônica Brasil, já mencionadas no relatório da Ágora, Correa recomenda os ativos da Transmissora Paulista (TRPL4), do Banco do Brasil (BBSA3), da Engie Brasil (EGIE3) e da Odontoprev (ODPV3).
Retorno com menos risco
Construir uma carteira que pague proventos também é uma opção para investidores com perfil mais moderado – ou até mesmo conservador –, e é possível fazer isso fora do mercado de capital. Os dividendos pagos pelos Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs), assim como as ações, são isentos de imposto de renda para pessoa física, mas, ao contrário dos ativos da Bolsa, remuneram os investidores mensalmente.
“Em momentos com a Selic mais elevada, a atratividade dos FIIs tende a ser um pouco menor. Mas, ainda assim, para aquele investidor que quer renda esse pode ser um bom item para ter no portfólio”, explica Cataldo, da Ágora.
Rob Correa destaca ainda que, por remunerar mensalmente, os FIIs dão maior segurança ao investidor, que precisa se preocupar menos com as oscilações do mercado. “Isso acaba fazendo com que ele foque naquilo que é importante, que é o quanto de renda ele está recebendo, o quanto o patrimônio está aumentando. Quanto mais você investe, mais você recebe. As cotações das ações você já não controla”, diz.
O analista destaca algumas opções com boas taxas de retorno para o investidor que está começando no mercado:
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– HGLG11, de galpões logísticos;
– KNRI11, de escritórios;
– XPML11, de shoppings centers;
– BCFF11, um fundo de fundos, para os que não querem se preocupar ou ficar acompanhando.
Outra opção de menos risco, destinada principalmente aos investidores mais conservadores, são os títulos de renda fixa. O Tesouro Prefixado e o Tesouro IPCA podem gerar proventos semestrais desde que o investidor escolha a opção com “cupom semestral”.
No Prefixado, a rentabilidade é definida ainda no momento da compra, enquanto no IPCA somente após o vencimento da aplicação.