- A Petrobras atingiu o maior lucro líquido da história para um 1° trimestre entre todas as companhias de capital aberto, de acordo com levantamento feito pela TC/Economatica
- O montante de R$ 44,5 bilhões é 3,718% maior que o R$ 1,1 bilhão obtido no mesmo período de 2021
“O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo”. Essas foram as palavras utilizadas pelo presidente Jair Bolsonaro, em uma transmissão ao vivo realizada na última quinta-feira (5), para se referir ao resultado líquido da Petrobras (PETR4) entre janeiro e março deste ano.
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A petrolífera estatal atingiu o maior lucro líquido da história para um 1° trimestre entre todas as companhias de capital aberto, de acordo com um levantamento feito pela TC/Economatica que leva em conta os balanços divulgados até sexta-feira (6). O montante de R$ 44,5 bilhões é 3718,42% maior que o R$ 1,1 bilhão obtido no mesmo período de 2021.
Além de maior resultado nominal, este percentual (+3718,42%) é o maior crescimento de lucro reportado até o momento na temporada de balanços do 1° trimestre de 2022. Na sequência, a Vale (VALE3) aparece com o segundo maior lucro, de R$ 23 bilhões. Ainda assim, este não é o maior da história da mineradora para a primeira fase de balanços.
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No 1° trimestre do ano passado, a produtora e exportadora de minério de ferro obteve um lucro líquido de R$ 30,5 bilhões – este sim, o maior montante já registrado em um primeiro trimestre pela empresa e 32,6% maior que o atual.
Dentro do ranking dos maiores lucros da primeira temporada de balanços de 2022, a Vale foi a única que não alcançou também o maior lucro histórico para a companhia no período.
Já a Suzano (SUZB3) não só alcançou o terceiro maior lucro da temporada, como também o maior da história da empresa no intervalo de janeiro a março.
O valor apurado pelo player de papel e celulose foi de R$ 10,3 bilhões, uma expansão de 473,73% na comparação como mesmo período ano passado, quando a companhia havia tido prejuízo líquido de R$ 2,7 bilhões.
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Em comum, as três empresas com os maiores lucros dessa primeira temporada de resultados tiveram o favorecimento pelo ciclo de alta das commodities no 1° trimestre do ano.
“São as maiores empresas brasileiras da bolsa e, não por acaso, tiveram os maiores lucros”, afirma Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos. “Estamos em um tempo em que o mundo está vendo aumento de juros, da inflação, e isso para commodities tende a ser um ponto. O investimento em commodities tende a ser um hedge (proteção) contra a inflação. Esse é o primeiro fator que junta Petrobras, Vale e Suzano", destaca.
Aparecem também em quarto e quinto lugar do ranking de maiores lucros do 1° tri os bancos Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11), com montantes recordes para o período de R$ 7 bilhões e R$ 3,9 bilhões, respectivamente.
O choque do petróleo
No caso da Petrobras, a guerra entre Rússia e Ucrânia apenas pressionou ainda mais os preços do petróleo, que já vinham inflados há alguns meses. Cotações mais altas da commodity beneficiam a estatal brasileira. “Já vimos uma oferta muito pequena e uma demanda forte e isso segue. O conflito apenas aumentou essa disrupção”, afirma Arbetman. “Vemos também dificuldade dos países membros da Opep em cumprirem as metas.”
Para o especialista da Ativa, essas questões seguram os preços do óleo em patamares acima de US$ 100. No acumulado de 2022, o barril de petróleo Brent subiu 35,4%, passando de US$ 77,78 para US$ 105,31 no fechamento da última segunda-feira (9).
Segundo o analista da Ativa, o investidor deve continuar vendo lucros robustos nos próximos trimestres, apesar dos riscos políticos que cercam a estatal. Somente na última semana, os papéis PETR4 subiram 9,2%, aos R$ 33,06, com os investidores repercutindo os resultados. No ano, a alta é de 12,86%.
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Stefany Oliveira, head de trade na Toro investimentos, ressalta a recompensa dos acionistas perante um lucro tão expressivo. “Um ponto que chamou a atenção é que o conselho de administração aprovou a distribuição de dividendos de mais de R$ 48 bilhões, cerca de R$ 3,71 por ação preferencial e ordinária em circulação.”
Produção de minério decepciona
Certos indicadores da Vale decepcionaram os analistas nesses primeiros três meses. A mineradora enfrentou dificuldades com o excesso de chuvas no Sudeste e com a obtenção de licenças de exploração no norte. Por isso, apresentou níveis de produção de minério abaixo do esperado.
Ainda assim, a demanda do mercado chinês sustentou os resultados entre janeiro e março. A restrição de oferta por conta dos eventos climáticos e regulatórios também contribuiu para que os preços do minério subissem. “Vimos um mercado de minério de ferro apertado no 1° trimestre. As siderúrgicas chinesas já estavam com uma demanda normalizada”, afirma Arbetman.
Entre janeiro e março deste ano, os papéis da Vale subiram 22,63%, refletindo justamente o aumento nos preços do minério de ferro. O insumo subiu 24,5% no 1° tri de 2022, para US$ 150. A partir do mês de abril, o cenário para a companhia se tornou mais complexo.
Os lockdowns na China ameaçam desacelerar a economia chinesa e derrubar os preços das commodities metálicas. Pressionada pelas incertezas no país asiático, a VALE3 inverteu o sinal no quarto mês do ano e cedeu 12,88%.
Em maio, as ações continuaram a descer a ladeira e já devolveram a maior parte da alta registrada em 2022. Até a última segunda (9), os papéis acumulavam valorização de 2,13% no ano, aos R$ 76,30.
Papel e Celulose
A Suzano também teve dificuldades em licenças, com várias fábricas tendo que fazer paradas para manutenção. A situação naturalmente diminuiu a produção de celulose no primeiro trimestre. Contudo, o resultado da companhia foi favorecido pela conjuntura.
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“Nesse primeiro tri, vimos várias restrições à oferta, como greve nas fábricas da UPM na Finlândia, complicações logísticas decorrentes da covid-19, com os portos da China já trabalhando em circuito fechado, as próprias paradas de manutenção na América do Sul. Tudo isso contribuiu para que tivéssemos uma oferta escassa”, diz Arbetman. “E no caso de celulose, a demanda segue ‘ok’, especialmente em China, Europa e EUA.”
Entre janeiro e abril, os papéis da Suzano apresentaram quedas de 17,4%. Na esteira da divulgação dos resultados, as ações subiram 4,41% na primeira semana de maio. O acumulado no ano é de uma baixa de 15,97%.
Bancos
De acordo com Oliveira, da Toro Investimentos, o mercado já vinha monitorando de perto os resultados das instituições financeiras, já o segmento financeiro também surpreendeu no exterior. No final, os bancos brasileiros apresentaram números ligeiramente acima das expectativas, mas já o suficiente para atingirem o recorde para o período.
A explicação para os dados positivos em um ambiente de juros e inflação altos - e consequentemente de alta inadimplência - está nos provisionamentos feitos ainda no período de pandemia.
De acordo com Leo Monteiro, analista de research da Ativa Investimentos, uma combinação de fatores havia mascarado a inadimplência em 2020 e 2021, como o Auxílio Brasil e flexibilização das condições de crédito para as instituições.
“Apesar de terem feitos grandes provisões em 2020, acabaram não consumindo essas provisões. Mas em 2022, com o aumento da Selic de forma consistente, inflação, contração de renda e desemprego alto, foi inevitável que a inadimplência aumentasse. E aí os bancos que saíram na frente foram os que tinham grandes índices de cobertura, como o Bradesco fez”, explica Monteiro.
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Já o resultado do Santander foi considerado mais fraco, apesar do lucro ter vindo em linha com as expectativas. “ O resultado operacional teve queda de 19,1% em comparação ao 1° trimestre do ano passado e 8,4% em comparação ao 4° trimestre de 2021. O lucro foi salvo pelo resultado não operacional e imposto”, explica a Genial Investimentos, em relatório.
A Genial tem recomendação de manter os papéis do Santander. “Estamos menos otimistas para o Santander do que para demais grandes bancos, dado o menor índice de cobertura para fazer frente a elevação da inadimplência e a expectativa de crescimento de lucro modesto próximo a 5% em 2022”, afirma a casa.
Os maiores crescimentos de lucro
Fora a Petrobras, as outras duas empresas que registraram os maiores crescimentos do lucro líquido foram PetroReconcavo SA (RECV3) e PetroRio (PRIO3) - ambas também do setor de petróleo.
A PetroReconcavo S.A é uma das maiores operadoras independentes de petróleo e gás do Brasil e viu seu lucro subir 3.217% no 1° trimestre de 2022 em relação ao 1° tri de 2021, para R$ 401 milhões. A PetroRio, produtora de petróleo e gás, teve o seu lucro aumentado em 1.724%, para R$ 1 bilhão. As companhias também foram beneficiadas pelo aumento nos preços do óleo .
Para os papéis da operadora, a Genial tem recomendação de manter. “A empresa apresentou sólido resultados, com um operacional forte derivado dos atuais níveis de preço do petróleo no trimestre, Como mencionamos em nosso recente início de cobertura, apesar da alta qualidade da operação da empresa, achamos que o mercado já precificou suas operações”, explica a casa.
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O balanço da PetroRio também foi considerado ‘impressionante’. Para PRIO3, a recomendação é de compra, com preço-alvo de R$ 49 - um potencial de alta de 102,3% em relação ao preço da última sessão, de R$ 24,22.
“Nossa recomendação segue suportada por acharmos que os atuais níveis de preço não refletem apenas a qualidade da execução da operação da empresa – esse trimestre que o diga”, afirma a Genial. “Nesse trimestre, a empresa apresentou resultado acima dos nossos números e do consenso do mercado.”
Completam as maiores expansões de lucro líquido o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e a Marcopolo (POMO4). A varejista atingiu um resultado de 1,4 bilhão, um aumento de 1.138% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a Genial, a marca é fruto de impacto de ganhos não recorrentes.
“Excluindo os efeitos não recorrentes, o resultado veio abaixo do esperado, principalmente olhando para as últimas linhas do balanço. Mantemos nossa recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 28 até final de 2022”, afirma a corretora, em relatório.
Já a fabricante de carrocerias de ônibus teve um lucro líquido de R$ 99 milhões, crescimento de 843% na comparação anual. O resultado foi considerado positivo pelo Itaú BBA. “Um bom mix de modelos de carrocerias, preços mais altos e uma estrutura mais enxuta permitiram melhores margens”, diz a instituição. “Vemos espaço para melhorias adicionais à medida que os volumes aumentam, embora a inflação e a falta de oferta devam continuar no curto prazo.”
A recomendação para POMO4 é ‘market perform’, o que significa que o esperado é que a ação performe em linha com o mercado, sem grandes potenciais de alta. O preço-alvo do Itaú BBA é de R$ 3, isto é, uma valorização de 13,6% em relação ao patamar do último fechamento, de R$ 2,64.
“De forma geral, as companhias têm feito o dever de casa para enfrentar esses momentos mais turbulentos. Conseguiram se capitalizar melhor e ficaram com o balanço mais robusto. Para se ter uma ideia, apenas 7 empresas do Ibovespa estão com alavancagem acima de 3,5x, que é um número que o mercado se baseia (como um patamar saudável)”, afirma Thiago Tavares Silva, head de análise da Carteira do Investidor.