O que este conteúdo fez por você?
- A Viver Incorporadora tem uma história de mudança de foco no negócio, recuperação judicial e administração por grandes fundos de investimento
- Desde seu IPO, a VIVR3 apresentou lucro em apenas dois exercícios fiscais, mas nunca distribuiu dividendos a seus acionistas
A Viver Incorporadora e Construtora (VIVR3) faz parte do grupo seleto de 23 companhias que compõem o Índice Imobiliário da B3 (IMOB B3).
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Porém, a empresa tem uma história peculiar em relação às suas concorrentes que têm ações negociadas em bolsa.
A construtora abriu seu capital em 2007, durante o boom de ações de Oferta Pública Inicial (IPO) na bolsa brasileira. Dois anos depois, foi lançado o Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), impulsionando todo o setor da construção civil.
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No entanto, diferente de seus concorrentes, a Viver enfrentou uma sequência de resultados negativos, o que resultou em uma forte desvalorização de suas ações.
Em 2011, a situação culminou na recuperação judicial da companhia em 2016 para negociar uma dívida de R$ 1 bilhão, um processo que foi finalizado em agosto de 2021.
O plano de retomada da Viver envolve finalizar as obras inacabadas da própria companhia e de outras construtoras. “Existem muitos desafios, como o custo de construção atualmente elevado e o aumento dos juros, que torna financiamentos imobiliários mais caros”, comenta Ivan Barboza, sócio do Ártica Investimentos.
Histórico de dividendos da VIVR3
Desde que ingressou na B3, a Viver somente gerou lucro em dois anos, mas nunca distribuiu dividendos a seus acionistas. “Nos últimos cinco anos, de 2017 a 2021, a Viver teve um prejuízo acumulado de aproximadamente R$ 780 milhões”, lembra Barboza.
Com o fim da recuperação judicial, a empresa esperava melhorar seu desempenho financeiro e oferecer proventos para seus acionistas.
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Em 2021, a construtora teve um prejuízo líquido de R$ 57,9 milhões, uma redução de 68% em comparação ao ano anterior, quando registrou R$ 181,2 milhões.
No primeiro trimestre de 2022, a VIVR3 teve prejuízo líquido de R$ 8,3 milhões, o que significa uma diminuição de 81% em relação ao trimestre anterior. Contudo, o resultado ainda não permite a distribuição de dividendos.
O que faz a empresa Viver Incorporadora?
A Viver foi fundada em 1992, com o nome de Inpar S.A., e atuava em todas as etapas da incorporação imobiliária, desde a compra de terrenos até a venda final dos imóveis construídos para os clientes de alta renda.
A companhia já negociou mais de 25 mil unidades em 14 estados brasileiros e no Distrito Federal, com valor global de venda de R$ 8,7 bilhões.
A construtora foi responsável por grandes empreendimentos imobiliários, como condomínios no Wellness Beach Park Resort (Ceará) e a fábrica Alpargatas (Paraíba).
Mudança de foco
Com a crise dos flats no final do século 20, a construtora passou a atuar nos segmentos de imóveis populares. A estratégia deu certo, e a empresa se consolidou no mercado, culminando com a abertura de capital.
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Em 2008, o fundo de investimentos Paladin Realty Partners assumiu o controle da empresa, melhorando a performance operacional dela. Em 2011, a construtora foi renomeada para “Viver”, em meio a uma grande desvalorização das ações.
Cinco anos depois, foi iniciada a recuperação judicial da Viver e, em 2018, a empresa passou a ser controlada pela Jive Asset Management. Com o fim do processo em 2021, a VIVR3 virou uma holding com duas companhias.
De acordo com Eduardo Edart, especialista em investimentos, “o grupo está com outro nome para tentar retomar as obras abandonadas e dar sequência nas construções”.
A Solv é especializada em obras paradas e tem como foco as construções de perfil superior do programa Casa Verde Amarela, antigo MCMV.
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Enquanto isso, a Viver Incorporadora está voltada para a construção de imóveis em bairros de classe média na região metropolitana de São Paulo.
O que está acontecendo com as ações VIVR3?
Com tantos resultados desfavoráveis, as ações da Viver despencaram desde a sua abertura de capital. Em 2022, a VIVR3 é negociada por valores próximos a R$ 0,60.
O primeiro período de grande baixa aconteceu em 2008, durante a crise financeira mundial provocada pelo colapso imobiliário nos Estados Unidos.
Pouco mais de um ano após o IPO, o papel da companhia era vendido a R$ 2,5 mil. Em outubro de 2009, após a criação do MCMV, a VIVR3 ultrapassou os R$ 4 mil.
Desde então, nunca mais recuperou esse patamar. O mergulho em um viés baixista associado a alguns desdobramentos das ações jogou o valor nominal do papel para abaixo de R$ 1 mil no final de 2012, menos de R$ 200 no fim de 2013, inferior a R$ 100 em 2014, e não mais que R$ 20 em 2015. Em 2018, a VIVR3 estava sendo negociada por menos de R$ 2.
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Em junho de 2021, com o anúncio do fim da recuperação judicial, as ações VIVR3 dispararam e se aproximaram dos R$ 10. No entanto, a cotação não se sustentou, apesar da melhora no balanço contábil da empresa.
Vale a pena investir na VIVR3?
O preço “baixo” da VIVR3, com uma perspectiva otimista em relação aos números da construtora, pode parecer atrativo ao investidor. Se a empresa conseguir se reestruturar e fortalecer a atuação no mercado, a ação deve ter uma grande valorização, mas é preciso cautela em relação à opinião de especialistas.
“O potencial investidor deve avaliar criteriosamente os próximos passos da empresa antes de comprometer o seu investimento”, recomenda Barboza, sócio do Ártica Investimentos.
O cenário é desafiador e o histórico da companhia é instável. “É um risco alto investir na empresa no momento. O ideal é aguardar essa retomada”, aconselha o especialista em investimentos Edart.