- O Tesouro Selic é o mais beneficiado pela alta de juros. Além de estar com bons rendimentos, o título tem liquidez diária e não sofre reprecificação diária nos valores
- De acordo com Christopher Galvão, analista da Nord Research, e André Alírio, operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, o Tesouro Selic é o título público mais indicado para o momento
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (3) o reajuste de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros da economia. Com a mudança, a taxa Selic sobe de 13,25% para 13,75% ao ano, o que impacta diretamente os rendimentos da renda fixa.
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No Tesouro Direto, programa da Secretaria do Tesouro Nacional do Brasil, o Tesouro Selic é o mais beneficiado. Este título público é mais conservador do que as demais categorias disponíveis (Tesouro Prefixado e IPCA+).
O produto segue bem de perto a variação da ‘Selic Over’, uma taxa que geralmente é 0,10 ponto percentual abaixo da Selic divulgada pelo BC.
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Com a elevação, portanto, o Tesouro Selic passa a ter rentabilidade bruta (sem contar imposto de renda ou inflação) de 13,65% ao ano ou 1,072% ao mês. Uma quantia de R$ 5 mil, por exemplo, renderia R$ 53,60 em 1 mês e R$ 682,50 em 12 meses.
Quanto rende R$ 5 mil com os juros a 13,75%
Descontando a alíquota de Imposto de Renda de 20% para 360 dias, a rentabilidade líquida no final dos 12 meses é de R$ 546. Para efeito de comparação, o mesmo valor renderia cerca de R$ 308,39 na Poupança ao final de 1 ano, mesmo com a isenção de IR que a caderneta possui. Veja quanto rende a Poupança com a Selic atual.
O Tesouro Selic é o melhor título?
De acordo com Christopher Galvão, analista da Nord Research, e André Alírio, operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, o Tesouro Selic é o título público mais indicado para o momento.
Além da remuneração atrativa, devido ao atual patamar dos juros, o papel possui liquidez diária e não enfrenta marcação a mercado. O termo refere-se à oscilação dos preços dos títulos Prefixados (cuja rentabilidade anual é ‘travada’) e IPCA+ (que pagam a variação da inflação mais um percentual prefixado), conforme mudam as expectativas para os juros e inflação no País.
Em linhas gerais, esses papéis tendem a se desvalorizar quando as perspectivas são de que a taxa Selic ou inflação subam nos próximos meses, assim como podem se valorizar caso um ciclo de baixa dos juros se inicie.
Os efeitos das oscilações são sentidos principalmente nos títulos com vencimentos mais longos. Quanto maior o prazo, mais difícil prever as condições econômicas e maior é a carga especulativa.
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Por exemplo: há 12 meses, o Título Prefixado com Juros Semestrais 2031 oferecia uma rentabilidade anual de 9,7% ao ano e poderia ser adquirido por R$ 1.028,12. Atualmente, o mesmo título paga 12,95% ao ano e custa R$ 868,22.
O investidor que comprou esse papel há um ano e quiser vendê-lo hoje, antes do vencimento, arcará com um prejuízo de 15,5%. O mesmo ocorre com o Tesouro IPCA+ 2055 com juros semestrais, que apresenta desvalorização de 13% em 12 meses. Para fugir dos efeitos da marcação a mercado, o único meio é manter o prefixado e IPCA+ até os vencimentos, que nos exemplos acima são 2031 e 2055.
Na visão de Alírio, da Nova Futura, para adquirir prefixados ou IPCA+ com mais segurança, é preciso que se confirme o fim do ciclo de alta da Selic. “Se ocorrerem novas altas nas expectativas de juros, o preço desses ativos desvalorizarão com o aumento de suas taxas”, afirma o operador.
Segundo Galvão, da Nord, apesar de estarmos próximos do fim do aperto monetário, ainda existem muitas incertezas no mercado. Ele ressalta que a mediana das expectativas dos especialistas, registrada no Boletim Focus, aponta para uma inflação de 5,33% para 2023, bem acima da meta de 3,25%.
“O Banco Central já tinha mostrado uma preocupação com essa dinâmica das perspectivas de mercado, mas não conseguiu ancorar as expectativas”, afirma Galvão. “O risco fiscal também está muito presente na nossa economia, principalmente se tratando de ano eleitoral, em que geralmente os candidatos adotam posturas em prol de políticas expansionistas.”
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A relação entre as condições de fiscais de um país e suas expectativas para inflação e juros é intrínseca. Quando um governo gasta irresponsavelmente e as contas públicas se deterioram, o resultado é inflação e consequentemente juros mais altos para conter o aumento de preços.
“É um cenário complicado. Diante disso, o melhor é ter cautela e ficar no Tesouro Selic”, afirma Galvão. “O investidor que entrar em prefixados e IPCA+, principalmente em prazos mais longos, deve estar ciente dos riscos.”