- A marcação a mercado fica muito simples no caso de ativos de elevada liquidez
- A alternativa à marcação a mercado é a marcação na curva de compra
Diante de uma situação de perigo o avestruz adota a “brilhante” estratégia de enfiar a própria cabeça em um buraco de modo que o problema “desapareça”. A sabedoria popular também descreve este comportamento com a sábia frase “O que os olhos não veem, o coração não sente”.
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É justamente esta a estratégia usada pelos investidores que preferem olhar o saldo dos seus ativos empregando preços irreais.
Explico.
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Considere, por exemplo, a compra de um carro zero quilômetro. Se a pessoa pagou R$ 100.000,00 na compra do carro novinho, qual valor esta pessoa deveria atribuir para este bem na sua contabilidade pessoal?
Se respondeu R$ 100.000,00, você não utilizou o conceito de “marcação a mercado”. Se usasse, deveria atribuir um valor que refletisse quanto colocaria no bolso caso resolvesse vender o carro agora. Como sabemos que o simples fato de tirar o carro da concessionária já se perde dinheiro, o valor justo ou “a mercado” deste automóvel seria de, digamos, R$ 90.000,00.
Este é ponto: os saldos dos seus investimentos podem estar marcados na “curva de compra” (o que neste caso, indicaria valor de R$ 100.000,00 paro carro) quando, na verdade, deveriam estar “marcados à mercado”, que neste exemplo automobilístico indicaria um saldo de R$ 90.000,00.
Quando você olha o saldo de sua carteira de ações negociadas em bolsa, quase que seguramente ela está marcada a mercado. A marcação a mercado de ações e de outros ativos de Bolsa é muito simples pois basta verificar seu respectivo preço no pregão. Se a ação (ou outro ativo de Bolsa) não tiver liquidez, a marcação a mercado fica prejudicada.
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Contudo, o grande desafio da marcação a mercado são os ativos de renda fixa.
- Títulos públicos
Se o ativo de renda fixa for um título público, colocar como saldo o valor que seria obtido caso o título fosse vendido hoje é muito simples pois tais papéis possuem elevada liquidez. Ainda assim, muitas carteiras de renda fixa recheadas de títulos públicos não são marcadas a mercado.
Um dos argumentos (que, aliás, não concordo) usados por quem não emprega a marcação a mercado para títulos públicos está em evitar introduzir volatilidade na carteira do cliente. Ora, se a volatilidade existe, ela deve ser mostrada e não escamoteada.
- LIGs, CRIs, CRAs e Debêntures
Estes ativos de renda fixa de emissão privada podem ter ou não liquidez no mercado secundário.
Se o ativo tiver negociações no mercado secundário, a marcação a mercado fica fácil e você, investidor, deveria solicitar essa visão sobre os ativo de quem apresenta o saldo de suas aplicações.
Se o ativo não tiver liquidez, aí efetivamente a marcação a mercado fica comprometida e seria tolerável ver o seu saldo dia a dia usando o valor que você aplicou corrigido pela taxa de juros que você operou na data da compra do papel. Este tipo de método é chamado de ver o saldo na “curva de compra” do ativo.
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Logo, dois métodos de valorização dos ativos da carteira são usados nos ativos de renda fixa: marcação a mercado ou marcação na curva de compra. Se quiser realmente saber qual é o seu saldo verdadeiro, use marcação a mercado. Se quiser usar um saldo provavelmente descolado da realidade, use curva de compra.
Mas será que há algum caso em que seja possível “perdoar” o investidor que, mesmo tendo à disposição o saldo marcado a mercado, prefere vê-lo na curva de compra? Sim, mas a “licença” não é consenso.
Exemplo: Digamos que uma pessoa buscando renda compre uma NTN-B (Tesouro IPCA) vencendo em 2055. Esta pessoa está de olhos nos cupons que a NTN-B proporciona e não no trade do papel (vendê-lo mais caro do que foi comprado). Neste caso, olhar o saldo da aplicação financeira marcada na curva de compra seria tolerável e muitos investidores preferem ver seu saldo desta forma.