- O setor de papel e celulose tem o pior desempenho acumulado de 2022 entre todos da bolsa de valores brasileira
- Embora o preço da celulose esteja em alta, as ações das principais empresas brasileiras do setor não acompanharam, com o mercado precificando uma série de incertezas no radar
- No entanto, analistas seguem acreditando na tese de investimento em longo prazo
As empresas de commodities viveram um boom nos primeiros meses de 2022, com a guerra entre Ucrânia e Rússia ajudando a elevar os preços dos insumos a patamares, muitas vezes, históricos.
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Mas engana-se quem pensa que o cenário foi positivo para todas as companhias que dependem de commodities. Até o fim de agosto, o setor de papel e celulose teve o pior desempenho acumulado de 2022 entre todos da bolsa de valores brasileira, de acordo com um levantamento feito pela Rico Investimentos.
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Embora o preço da celulose esteja em alta, as ações das principais empresas brasileiras do setor, Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11), não acompanharam. Até segunda-feira (12), os papéis acumulavam queda de 22,56% e 22,39%, cotados a R$ 45,47 e R$ 19 respectivamente.
Os desempenhos refletem uma série de fatores micro e macroeconômicos que geram incerteza. Em uma primeira análise, parece que o mercado não acredita que os preços da celulose vão se sustentar nos atuais patamares por muito tempo. A alta recente do insumo foi impulsionada por problemas logísticos que restringiram a oferta, mas que devem se normalizar em breve, explica André Vidal, Head de Óleo, Gás e Materiais Básicos da XP. “Além disso, dois importantes centros consumidores de celulose de mercado, a China e a Europa, vem sofrendo com problemas econômicos”, destaca.
Com uma desaceleração nas economias desenvolvidas no radar, analistas têm olhado com mais cautela para o setor de commodities no geral. Uma possível recessão tende a reduzir a demanda pelos insumos e causar uma queda nos preços.
Tratando-se das empresas de papel e celulose, o receio é ainda maior – e se reflete nos descontos nas ações do setor. “Tem uma visão mais pessimista para essas empresas porque se elas não subiram nem quando a celulose estava em alta, porque subiriam agora quando o cenário já não é mais tão favorável?”, questiona Frederico Nobre, head da área de análise da Warren.
Mas, olhando apenas para os fundamentos das companhias, há ainda um receio com os investimentos que Klabin e Suzano estão colocando em prática.
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As duas companhias estão investindo na expansão de suas capacidades de produção, importante para os modelos de negócio no longo prazo, mas que abrem um espaço para o mercado questionar que tipo de retorno terá com as operações. “As ações da Irani, que não está fazendo esses projetos de investimento e portanto não está muito endividada, sobem no ano. Se as quedas do setor estivessem ligadas somente ao macro, esses papéis estariam sofrendo junto”, diz Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.
As ações da Irani (RANI3), smallcap do setor de papel e celulose, acumulam ganhos de 25,59% no ano, cotadas a R$ 8 até o pregão da segunda-feira (12).
Vale investir?
As empresas do setor de papel e celulose costumam ser boas pagadoras de dividendos, figurando com frequência nas carteiras recomendadas e no portfólio do investidor. Com a possibilidade de queda no preço da commodity, podem remunerar menos os acionistas. Mas mesmo o cenário mais adverso não muda a recomendação dos analistas ouvidos pelo E-Investidor.
“Por enquanto, o mau resultado das ações ainda não se reflete nos resultados das empresas. Ambas estão com uma série de projetos em expansão e apresentando uma forte geração de caixa positiva”, afirma João Abdouni, analista da Inv.
Na Warren, a recomendação é de compra para as três empresas: Suzano, Klabin e Irani. “Como uma tese de longo prazo, o estrutural é bem favorável, já que são empresas que se beneficiam da agenda ESG e da captura de crédito de carbono no futuro, além de muito eficientes em termos de custos”, diz Frederico Nobre. Na visão dele, a Klabin acaba sendo uma opção menos arriscada, pois está presente em todos os segmentos do setor, mas a preferida ainda é a smallcap Irani.
A XP cobre apenas a Klabin, mas acredita que a cotação atual do ativo já precifica boa parte de uma futura queda no preço da celulose. “A Klabin é uma empresa diversificada, com uma ampla gama de produtos, alguns deles sem precificação direta com a celulose, o que garante uma resiliência de resultados, geração de caixa e, consequentemente, de dividendos”, diz André Vidal.
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