- Tarcísio de Freitas, do Republicanos, foi eleito governador do Estado de São Paulo neste domingo (30)
- A principal expectativa é de que a eleição de um representante de direita acelere a agenda de privatizações estaduais, como a da Sabesp (SBSP3)
- Mas, para analistas, o processo de desestatização não deve ser simples. Ainda assim, vale ficar de olho nessas ações, dizem
O carioca Tarcísio de Freitas, do Republicanos, foi eleito governador do Estado de São Paulo neste domingo (30), no segundo turno das eleições de 2022. Com 100% das urnas apuradas, o ex-ministro de Infraestrutura, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), recebeu 55,27% dos votos válidos.
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Tarcísio já havia largado na frente na disputa contra Fernando Haddad (PT) no primeiro turno, um resultado contrário ao que vinha sendo desenhado pelas pesquisas de intenção de voto e que deu ânimo ao mercado financeiro já no início do mês de outubro.
A principal expectativa é de que a eleição de um representante de direita acelere a agenda de privatizações estaduais. Reflexo disso, as ações da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp, SBSP3), cuja eventual desestatização é debatida há anos, acumulavam alta de 20,04% até a sexta-feira (28) antes do segundo turno.
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O próprio ex-ministro se mostrou a favor de vender o controle da Sabesp. “Vou estudar privatização desde o primeiro dia e se eu chegar à conclusão que a privatização vai promover esse objetivo, vai melhorar a prestação de serviços e proporcionar uma tarifa mais baixa, nós vamos seguir com a privatização”, declarou Tarcísio, em entrevista à Rádio Eldorado na semana passada.
“Mas se a gente observar que a privatização, em alguma medida, pressupõe risco à prestação de serviço para o cidadão, nós não faremos. A gente vai seguir com a empresa pública”, completou o agora governador eleito. No entanto, questionada pelo Estadão, a campanha de Tarcísio havia reforçado que o plano de governo do candidato não prevê a privatização. Veja os detalhes nesta reportagem.
Segundo analistas, apesar de haver a expectativa de que a agenda de desestatizações seja acelerada, o processo pode não ser tão fácil assim. “É preciso lembrar de 2018, quando João Doria foi eleito. Todo mundo deu como certa a privatização da Sabesp e no fim das contas não rolou nada”, destaca Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal “O Analisto”.
Para caminhar, a privatização da Sabesp ou de qualquer outra empresa paulista exigiria a aprovação de um projeto de lei na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e a concordância dos prefeitos das cidades atendidas pela companhia. No final de 2021, 21 deputados estaduais formaram uma frente parlamentar contra a privatização.
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“Se nem o Doria, que colocou o Rodrigo Maia para privatizar a Sabesp, não conseguiu avançar com a agenda, parece bem travada a situação. Não é um tema que vai ser tão fácil de aprovar na Alesp”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Ainda assim, a vitória de Tarcísio é vista pelo mercado como positiva para a empresa. Haddad, do PT, vinha em campanha dizendo que a privatização da companhia de saneamento seria “a pior coisa que poderia acontecer ao Estado”.
“Em sua campanha e nos debates, Haddad disse que, se eleito, faria uma revisão nos contratos da Sabesp e de pedágios, que ele considera que tiveram reajustes abusivos”, explica Cruz. “Não é nem que precise avançar em termos de privatização, a vitória de Tarcísio beneficia a ação por não ter o risco de precisar revisar contratos nos próximos 4 anos”, diz.
A expectativa é de que a SBSP3 abra o pregão desta segunda-feira (31) com altas, reagindo à eleição do candidato eleito.
Se privatizar, tem oportunidade?
A privatização da Sabesp é entendida pelo mercado como uma maneira de destravar valor na companhia. Segundo o JP Morgan, privatizada, a ação da companhia paulista pode valer R$ 100 por papel – um aumento de cerca de 68% frente aos R$ 59,54 a que negociava no último pregão antes do segundo turno.
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“Uma eventual privatização da Sabesp pode desbloquear muito valor para a empresa e o mercado costuma ver tal movimento com bons olhos, podendo se tornar uma oportunidade para o investidor”, destaca Heitor de Nicola, especialista de renda variável da Acqua Vero.
O especialista dá como exemplo a recente privatização da Eletrobras, concluída em julho deste ano. Mas, segundo ele, vai depender de como esta possível privatização será feita. “A depender do estudo da privatização, de como seria feito, sim, essas ações podem ser uma boa opção. Até o momento, tudo se trata de expectativas”, afirma.
O analista Mario Goulart concorda que as ações da Sabesp ainda são boas opções para o investidor, pois a companhia ainda opera distantes das margens pré-pandemia e pode ter novas oportunidades de alta em um cenário de melhora da economia. Mas pondera: “O pessoal precisa ter em mente que a ação realmente já subiu demais desde o fim do primeiro turno e que todo mundo apostava que o Doria ia privatizar e não privatizou”, diz.
Segundo Goulart, além da Sabesp, o Estado de São Paulo tem apenas uma outra participação relevante em companhias possíveis de privatização, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (Emae). “Ela teve nos últimos anos um desempenho até bom, apesar de não estar sendo muito positiva em 2022. Era uma pequena joia, mas é uma empresa pouco negociada, pouco conhecida”, diz o analista. Até a sexta-feira (28), a EMAE4 tinha salta de 14,03% em outubro, cotada a R$ 46,74. No entanto, caia 36,94% em 2022.
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