- 3ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro aponta que 62% da população brasileira não economizou em 2019 e entrou em 2020 sem qualquer reserva financeira para algum tipo de emergência
- Especialistas dizem que as pessoas que não economizaram são as que mais precisam devem rever seus hábitos financeiros
- Apesar disso, nem todos vão aprender com a experiência e educação financeira de brasileiros tende a continuar baixa
A educação financeira dos brasileiros ainda é muito pequena e a falta dela pode ser muito prejudicial em momentos de crise como o que vivemos. De acordo com a 3ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 62% da população brasileira não economizou ano passado e entrou em 2020 sem qualquer reserva financeira para algum tipo de emergência.
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Segundo especialistas consultados pelo E-Investidor, os números não surpreendem. André Fernandes, superintendente de produtos da Ágora Investimentos, explica que o Brasil ainda é um país em desenvolvimento e faz parte da nossa cultura não se preocupar com o tema.
Assim, Fernandes diz que a situação de quem não economizou se torna bem mais difícil neste momento de incertezas. “No momento de crise onde a renda diminui ou até acaba, eles não tem reserva e estão em mais dificuldades”, afirma o superintendente da Ágora.
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Ana Leoni, superintendente de Educação e Informações Técnicas da Anbima, também concorda com essa visão. Para ela, todos estão sendo afetados de alguma forma durante a crise, mas quem não tinha reserva com certeza está com maiores dificuldades.
“O esforço que estão fazendo para colocar as contas em ordem e diminuir os gastos é muito maior”, diz Ana.
Mudança de hábitos
Para os especialistas, a principal dica para sobreviver ao momento é mudar seus hábitos. Segundo eles, a primeira justificativa para quem está apertado é o baixo rendimento.
Porém, Fernandes destaca que, devido a falta de educação financeira das pessoas, elas continuaram gastando muito mesmo se ganharem mais. “Se a pessoa ganha R$ 2 mil e começar a ganhar R$ 5 mil, se você perguntar para ela como estão as coisas ela vai continuar dizendo que está apertada.”
Dessa forma, eles destacam que, independentemente de quanto é a renda da pessoa, ela deve rever seus hábitos para diminuir seus gastos. “É muito difícil abrir mão das conveniências para colocar o orçamento em dia, mas a crise veio para mostrar que isso é necessário”, diz Ana.
Assim, a superintendente da Anbima afirma que os gastos são a variável mais fácil da pessoa controlar. Por isso, é o primeiro fator que pode ser alterado no momento de crise. “É importante para passar o momento com o mínimo de sequelas possíveis”.
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As mudanças de hábitos sugeridas por eles começam desde atitudes pequenas, como tomar mais cuidado com o consumo de energia e água em casa. “Tem que fazer de tudo para passar a tempestade da melhor forma”, completa Ana.
As pessoas vão aprender com a experiência?
Segundo dados da pesquisa da Anbima, apesar do alto número de pessoas que não conseguiram guardar dinheiro em 2019, a quantidade vem diminuindo ano a ano. Em 2018, 67% dos brasileiros não economizaram. Já em 2017 o número era de 68%.
Neste contexto, será que as pessoas vão aprender com a crise e este número vai cair ainda mais ano que vem? Para os especialistas, a resposta é não.
Para eles, mais pessoas ficarão preocupadas com o tema, mas isso não necessariamente significa que elas realmente mudarão sua relação com o dinheiro.
Ana, da Anbima, compara a situação com o hábito de fumar. Segundo ela, hoje as pessoas têm mais consciência das consequências do fumo do que no passado, mas nem por isso elas abandonaram a prática. “A crise vai trazer uma consciência maior da importância da educação financeira, mas isso não significa que vão mudar seus hábitos”.
“A preocupação cresce devido à crise, mas acreditar que o brasileiro começará a guardar dinheiro todo mês pensando a longo prazo é mais um desejo do que uma realidade”, completa Fernandes, da Ágora.
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Para justificar esta afirmação, ele compara os hábitos financeiros do brasileiro com sua dedicação a realizar dietas. “As pessoas começam e em menos de um mês desistem”.
Assim, ele ressalta a importância da educação financeira começar em casa para as pessoas entenderem sua importância desde pequenos e terem hábitos mais saudáveis. “Quando a pessoa ganha dinheiro a primeira coisa que ela pensa é que tomar uma cervejinha a mais, por exemplo, não vai impactar sua renda”, completa Fernandes.
Quem tem reserva faz o que?
Segundo os especialistas, os 38% com reservas financeiras também não estão livres de preocupações com seus gastos durante a pandemia. “Despesas são que nem unha e tem que cortar sempre”, diz Ana.
Ela lembra que o objetivo da reserva de emergência é fazê-la durar o máximo possível. Por isso, rever os hábitos é importante para todos, uma vez que ninguém sabe até quando a crise vai permanecer. “Dinheiro é escasso e não deve ser usado com maus hábitos”, finaliza a superintendente da Anbima.
*A pesquisa, com apoio do Datafolha, entrevistou em novembro do ano passado 3.433 pessoas em 149 municípios nas cinco regiões do país, que representam mais de 96 milhões de brasileiros. Todas a partir de 16 anos, pertencentes às classes A, B ou C e economicamente ativas (renda ou aposentadoria)