- Para março, a principal ansiedade do mercado brasileiro tem nome: novo arcabouço fiscal
- A regra que substituirá o teto de gastos deve ser apresentada em breve. Os investidores temem que a nova estrutura não seja eficaz o suficiente para conter os gastos
- Os atritos entre o poder Executivo e o Banco Central também devem ser acompanhados de perto pelo mercado
Fevereiro foi um mês de perdas no Ibovespa. Na esteira das incertezas fiscais no cenário doméstico e das perspectivas de recessão nos EUA, o índice caiu 7,49%, aos 104.931,93 mil pontos – o valor representa um dos piores desempenhos para o mês em 22 anos.
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Para março, a principal ansiedade do mercado brasileiro tem nome: novo arcabouço fiscal. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a regra que substituirá o teto de gastos deve ser apresentada até o fim do mês. Os investidores temem que a nova estrutura não seja eficaz o suficiente para conter os gastos.
“Não adianta só apresentar a nova regra fiscal. O mercado precisa entender que a regra será cumprida”, afirma Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos. “Haddad pode trazer até uma proposta fiscal muito boa, mas se o Governo começar a driblar ela, o efeito não será positivo.”
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Os atritos entre o poder Executivo e o Banco Central também devem ser acompanhados de perto pelo mercado. Durante o mês de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teceu várias críticas ao Roberto Campos Neto, que está à frente da autoridade monetária desde 2019.
O líder do PT culpa a instituição pelos juros altos, de 13,75% ao ano atualmente. Uma primeira ideia ventilada pelo Executivo e que já entrou no radar do mercado é uma eventual revisão das metas de inflação para um patamar mais elevado – que resultaria em juros menores, em teoria.
“A revisão das metas de inflação do BC não é um problema em si, é um debate técnico e plausível. Só que da maneira com que foi colocado, causa a deterioração dos prêmios de risco e das expectativas inflacionárias”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. Isto ocorre porque a postura crítica de Lula à política monetária alimenta a ideia de que uma revisão da independência da autarquia possa acontecer.
As discussões em torno da reforma tributária devem avançar em março, primeiro mês “completo” de funcionamento do Congresso Nacional em 2023. O grupo de trabalho voltado à proposta deve apresentar o planejamento ainda nesta quarta-feira (1). “Existe toda uma expectativa em torno da reforma tributária, que é um assunto muito presente entre os investidores”, ressalta Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.
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É também no terceiro mês de 2023 que a temporada de balanços referente ao 4° trimestre de 2022 será finalizada. Já nesta quarta (1), os resultados da Petrobras (PETR4) devem ser divulgados ao mercado. Com o fim da desoneração dos combustíveis, decidida na última terça-feira (28), os holofotes se voltam novamente para o risco de ingerência política na petroleira.
No último pregão de fevereiro, a PETR4 acumulou uma desvalorização de 3,48% após rumores de que a política de dividendos da estatal poderia ser modificada. De acordo com informações publicadas pelo G1, as mudanças na distribuição de proventos foram acertadas durante reunião conduzida pelo presidente Lula no Palácio do Planalto na terça-feira (28).
Já no exterior, a grande expectativa fica em torno da reunião do Federal Reserve (Fed, banco central americano) sobre os juros. A decisão de política monetária está marcada para o dia 22 de março e deve trazer alguma volatilidade aos mercados. No mês passado, os dados de atividade econômica e de inflação dos EUA foram mais fortes do que o esperado, o que sinaliza que a autoridade monetária norte-americana precisará elevar mais os juros para conter a subida de preços.
Segundo Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos e especialista em renda variável, uma corrente do mercado já aposta em uma alta de 0,5 ponto percentual. “Antes, a visão era de que o Fed faria uma elevação de 0,25 ponto percentual”, afirma. “O mercado aguarda ansiosamente a decisão de juros por conta dessa inflação mais forte que o esperado”, diz. A visão é de que já há uma recessão contratada pela maior economia do mundo em função do aperto monetário.
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No final, há vários gatilhos que podem influenciar o desempenho do Ibovespa em março, seja para cima ou para baixa. Boragini aponta, entretanto, uma tendência de queda no curto prazo. “Tecnicamente o Ibov perdeu o suporte de 106,7 mil pontos e deve buscar os 103,8 mil pontos. O fato é que, sem dúvida nenhuma, volatilidade será o nome do jogo em março”, diz o sócio da Davos.
Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, tem uma visão mais otimista. “Existem muitos fatores de risco, mas a Bolsa brasileira está descontada. Se eventualmente tivermos mais resoluções favoráveis, como a do novo regramento fiscal, pode ser que viremos oportunidade de compra pelo investidor estrangeiro”, afirma.