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As duas crises do fundo de Ray Dalio, o maior gestor de hedge do mundo

Bridgewater apresenta desempenho ruim na pandemia e sofre processo de ex-CEO por discriminação

As duas crises do fundo de Ray Dalio, o maior gestor de hedge do mundo
Ray Dalio, fundador do Bridgwater: afastado do dia a dia da empresa desde 2017, ele impôs o estilo gestão que chama de "transparência radical". (Ruben Sprich/ Reuters)
  • Ray Dalio fundou a Bridgewater em 1975 e, até 2020, a empresa tinha faturado US$ 58,5 bilhões líquidos para os seus clientes
  • Em 2020, principais fundos da casa tiveram queda entre 7% e 21%, bem inferior aos concorrentes
  • Desempenho ruim levou Bridgewater a fazer demissões e adiar contratações por um ano
  • Ex-CEO, Eileen Murray processa empresa com a acusação de ter recebido na demissão menos que os colegas homens

(The Economist) – “Ganhamos mais dinheiro para nossos clientes do que qualquer outro fundo hedge na história”. Esta declaração foi feita em 2017 por Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, maior gestora mundial de fundos hedge.

No início de 2020 a Bridgewater estava à frente das concorrentes com várias cabeças de vantagem: desde sua fundação, em 1975, havia faturado US$ 58,5 bilhões líquidos para seus clientes, já descontadas as taxas de administração. Com sua fortuna de US$ 17 bilhões, o próprio Dalio é uma das pessoas mais ricas do mundo.

Embora tenha se afastado do comando da empresa no mesmo ano em que disse a frase acima, Dalio é o grande responsável pela linha de análise econômica seguida pela Bridgewater – e impôs um estilo de gestão que ele mesmo chama de “transparência radical”. Mas a administradora de fundos tem sofrido nos últimos meses, botando em dúvida a transparência alardeada por seu fundador.

A primeira crise do Bridgewater: desempenho

O primeiro problema é o desempenho da Bridgewater, que deixou a desejar durante a pandemia. O portfólio da companhia tem dois tipos principais de fundos: os pure alpha (puro alfa), que fazem apostas pró-ativas baseadas em previsões sobre os rumos da economia, e os all weather (para qualquer clima), que reúnem desde ações a títulos de dívida e buscam proteger contra a volatilidade dos ativos.

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Os all weather perderam cerca de 7% no primeiro trimestre, enquanto os pure alpha se saíram ainda pior: em meados de março, Dalio disse que a queda desses fundos variou entre 7% e 21% desde o início do ano. Relatórios indicam uma leve recuperação posterior e uma freada das perdas em junho – mas mesmo assim a baixa ao longo do ano é significativa.

Esses resultados se opõem ao que tem sido visto em outros fundos hedge “macro”. De acordo com a empresa de dados e análises Preqin, portfólios semelhantes registraram retorno positivo, ainda que baixo, no primeiro semestre – de 1,4% na média. Diante das perdas e da saída de vários investidores, o volume de ativos administrado pela Bridgewater caiu de US$ 163 bilhões no fim de fevereiro para US$ 138 bilhões no final de abril.

Os fundos all weather têm custos fixos de gestão baixos, e não cobram comissão sobre desempenho. Ou seja: a saúde financeira da Bridgewater é determinada sobretudo pelos pure alpha. Talvez isso explique o recuo nos resultados gerais da empresa.

A despeito da onda de demissões em outros setores durante a crise do coronavírus, os fundos hedge têm escapado relativamente ilesos desse movimento. Mas a situação na Bridgewater é diferente: no dia 24 de julho o Wall Street Journal publicou uma reportagem dando conta de que a Bridgewater reduziu seu quadro nas áreas de pesquisa, atendimento ao cliente e recrutamento, colocando na rua dezenas de colaboradores de um total de 1.500 funcionários. A contratação de vários analistas de investimento recém-saídos da pós-graduação foi adiada por um ano.

A segunda crise do Bridgewater: processo movido pela ex-CEO, Eileen Murray

Eileen Murray, ex-CEO do Bridgewater
Eileen Murray, ex-CEO do Bridgewater, move um processo contra a empresa por discriminação em relação aos seus colegas homens. (Patrick T Fallon/ Bloomberg/ Washington Post)

A Bridgewater também está envolvida numa refrega pública com Eileen Murray, co-CEO da empresa que deixou o cargo em março. Ela acusa a ex-empregadora de discriminação, argumentando que o pacote recebido na saída foi inferior ao oferecido a colegas homens.

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A Bridgewater reagiu com uma tentativa de reter o bônus diferido de Murray, cujo valor é estimado entre US$ 20 milhões e US$ 100 milhões. Segundo a empresa, as declarações da executiva podem representar uma violação da cláusula de confidencialidade de seu contrato.

No mesmo dia em que foi publicada a reportagem do Wall Street Journal, Murray ajuizou uma ação no estado de Connecticut afirmando que respeitou e continuará a respeitar as regras da empresa para informações sigilosas e segredos comerciais. Nos documentos entregues ao tribunal, ela afirma que a Bridgewater está “agindo de má-fé” para evitar o pagamento do bônus diferido, e alega que a medida faz parte de “um plano cínico para intimidá-la e silenciá-la”.

Qualquer fundo hedge está sujeito a tropeços esporádicos – mesmo aqueles com gestores inteligentes e estratégias bem-sucedidas a longo prazo. Muitos se recuperam sem demora. Mas diante do aumento nos casos de covid-19 nos Estados Unidos, da economia cambaleante e do embate cada vez mais intenso com Eileen Murray, os problemas da Bridgewater podem piorar.

(Tradução: Beatriz Velloso)

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© 2020 The Economist Newspaper Limited. Direitos reservados. Publicado sob licença. O texto original em inglês está em www.economist.com

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