- A divulgação do novo arcabouço fiscal deu um novo Norte sobre o que esperar dos investimentos em 2023
- As possibilidades variam entre queda da taxa de juros, se a regra aprovada for considerada crível, ou aumento das expectativas de inflação, caso predomine o entendimento de que o arcabouço não reduzirá os gastos do governo
- Especialistas chamam a atenção para ativos indexados ao IPCA e os títulos prefixados
A divulgação do novo arcabouço fiscal deu um novo Norte sobre o que esperar dos investimentos em 2023. A regra, que vai substituir o Teto de Gastos, vai ditar a forma como o governo gerencia suas finanças, impactando nas expectativas de juros e inflação, por exemplo – dois fatores importantes para o desempenho dos ativos, especialmente os de renda fixa.
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Como mostramos nesta reportagem, a proposta de limitar o crescimento da despesa a 70% do aumento das receitas no ano anterior foi inicialmente bem recebida por agentes do mercado. No entanto, há quem diga que a regra não será suficiente para estabilizar a dívida/PIB do País mesmo se aprovada.
As possibilidades variam entre queda da taxa de juros, se a regra aprovada for considerada crível, ou aumento das expectativas de inflação, caso predomine o entendimento de que o arcabouço não reduzirá os gastos do governo.
“A grande característica do arcabouço é ser baseado em metas de resultados primários, ou seja, o sucesso dele vai depender muito das receitas. Em um cenário positivo, onde as receitas vêm altas, ele vai funcionar”, explica Claudia Ramenzoni Izzo, head do B2C da RB Investimentos. “O desafio vai ser se tivermos um cenário negativo, com comprometimento de receita.”
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E é nesse último cenário que a especialista vê uma tendência de aumento da inflação. Um sinal de alerta e que reforça a indicação de títulos de renda fixa indexados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “No desenho geral do arcabouço, existe uma tendência a gastos e as despesas que acabam gerando uma pressão inflacionária. Então faz total sentido ter IPCA+ na carteira”, diz Izzo.
Nathan Pereira, gestor de portfólio da SOMMA Investimentos, concorda que há boas opções de NTN-Bs, também conhecido como Tesouro IPCA+, ainda que o retorno oferecido por esses ativos tenha diminuído nas últimas semanas. “Houve um fechamento do prêmio, mas um título público que paga juro real acima de 6% ainda é bastante interessante”, destaca.
Pereira chama atenção apenas para a duração destes títulos: prazos muito longos, com vencimento após 2040, por exemplo, podem sofrer muita volatilidade com as mudanças que o cenário macroeconômico certamente sofrerá até lá. “Ao investidor moderado, eu indicaria NTN-Bs (Tesouro IPCA+) entre 2030 e 2040”, diz.
Um pouco de otimismo e de prefixados
Um outro ativo que começa a ganhar destaque, após a divulgação do arcabouço fiscal é o Tesouro Prefixado. A possibilidade de que a regra permita que o Banco Central inicie os cortes na Selic, estacionada em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, já faz alguns analistas verem ganhos menores no tradicional Tesouro Selic.
Como mostramos nesta reportagem, algumas corretoras projetam uma Selic na casa de 12% ao final de 2023. Os prefixados, portanto, surgem como uma alternativa para travar a rentabilidade na taxa terminal.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, explica que o início dos cortes nos juros ainda depende de muitos outros fatores, menos relacionados à atuação do governo ou do Banco Central. Preço das commodities no exterior, trajetória dos juros nos países desenvolvidos, entre outros.
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“Agora, se atribuirmos um grande peso à nova regra fiscal, como o Copom vinha fazendo a cada ata, o novo arcabouço poderia se transformar em um fator de corte. Nesse cenário, os pré-fixados são boas alternativas, considerando que essa taxa alta vai ‘sumir’ do mercado”, afirma.