- Os bons ventos na Bolsa de Valores brasileira no mês de abril também estão atraindo os investidores estrangeiros de volta ao País
- Os aportes feitos nas três primeiras semanas de abril já somam R$ 4,8 bilhões, maiores do que os resgates vistos em fevereiro e março
- Os motivos atraindo o capital estrangeiro são os mesmos que estão impulsionando o Ibovespa e derrubando o dólar: melhora da inflação e apresentação do arcabouço fiscal
Os bons ventos na Bolsa de Valores brasileira no mês de abril também estão atraindo os investidores estrangeiros de volta ao País. Um levantamento feito por Einar Rivero, head comercial do TradeMap, mostra que, do dia 1.º de abril até o fechamento da última terça-feira (18) (último dado disponível), a entrada de capital gringo na B3 somava R$ 4,8 bilhões. Montante suficiente para fazer o fluxo anual somar R$ 15 bilhões no positivo.
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Os aportes feitos nestas três primeiras semanas de abril já são maiores, inclusive, do que os resgates vistos em fevereiro e março, período em que o fluxo estrangeiro na Bolsa foi negativo. No segundo e no terceiro mês do ano, os estrangeiros retiraram R$ 1,6 bilhão e R$ 359 milhões da B3, respectivamente.
À época, a cautela com a recessão nos Estados Unidos, os episódios de crise bancária e a incerteza fiscal que atingia seu pico no Brasil afastaram não apenas os gringos, mas os investidores no geral. Não por coincidência, o Ibovespa teve um de seus piores ‘fevereiros’ em duas décadas e ainda deu continuidade às perdas em março – relembre os fatores que afetaram a Bolsa brasileira no período.
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O cenário agora é de maior alívio. Até o fechamento de quinta-feira (20), o Ibov acumula uma alta de 2,44% em abril, enquanto o dólar passou alguns pregões cotado abaixo dos R$ 5 pela primeira vez desde junho de 2022. Um movimento que tem tudo a ver com a volta dos investidores de fora ao mercado brasileiro.
Somente em um período de cinco dias, entre 13 e 18 de abril, a B3 recebeu R$ 1,9 bilhão de capital estrangeiro. “O forte fluxo entrando na nossa bolsa provocou uma queda mais abrupta no dólar”, afirma André Fernandes, head de Renda Variável e sócio da A7 Capital.
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A volta do fluxo estrangeiro acontece por causa dos mesmos fatores que estão fazendo a Bolsa andar em abril.
De um lado, os dados de inflação mais positivos, que permitem que o mercado passe a precificar os primeiros cortes na taxa básica de juros do País, a Selic, no segundo semestre do ano. O Boletim Focus da segunda-feira (17) trouxe uma queda na projeção da taxa de juros para o fim de 2023, que passou de 12,75% para 12,50% – o que significaria corte de 1,25 ponto porcentual em relação ao atual patamar da taxa (13,75%).
“Os investidores estrangeiros tentam se aproveitar do alto juro real do Brasil, mas a partir do momento que começar a redução da taxa de juros, vai começar também o início de um posicionamento maior na bolsa”, diz José Cataldo, estrategista de análise da Ágora Investimentos. “O que justifica alguns pregões de altas que tivemos recentemente no Ibovespa”, explica.
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O outro fator que jogou a favor do cenário foi a divulgação do novo arcabouço fiscal, tema que é de extrema importância para a trajetória da economia do País e que vinha causando muita incerteza entre investidores. A apresentação da regra no fim de março já foi suficiente para acalmar os ânimos do mercado.
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“Ao menos já temos uma definição do que o governo espera para a economia ao longo dos próximos anos”, destaca Gabriel Guimarães Bassotto, analista-chefe de ações do Simpla Club. “A imprevisibilidade em relação ao fiscal afastou muito os investidores, mas agora que a casa começa a entrar em ordem, volta a chamar mais atenção”, afirma.
A maré positiva vai continuar?
O humor do mercado para os próximos meses está melhor, seja na Bolsa ou câmbio. E a expectativa de um cenário mais positivo, fruto deste pacote de inflação mais baixo e possibilidade de corte nos juros, também deve manter o fluxo de capital estrangeiro no azul. “O estrangeiro compra crescimento. Se ele tem uma expectativa que o País deve crescer nos próximos anos, ele vai entrar na nossa bolsa”, afirma André Fernandes, da A7 Capital.
Fernandes destaca ainda um relatório recente do banco americano JP Morgan que recomenda exposição “overweight” – equivalente à compra – para o Brasil. “O estrangeiro está começando a ter uma visão mais positiva com o País”, diz.
Um outro ponto que joga a favor do Brasil para a atração de capital estrangeiro é a situação de outras economias emergentes. A China, por exemplo, não vive um contexto político favorável ao mercado de capitais, enquanto a Rússia ainda trava a guerra com a Ucrânia e a África do Sul enfrenta uma severa crise energética.
Um cenário que faz os problemas da economia brasileira parecerem menores no comparativo global. “Mesmo que não esteja 100%, o Brasil é dos mais fortes entre os emergentes, por isso as perspectivas de entrada de capital estrangeiro são, sim, favoráveis”, destaca Bassotto, do Simpla Club.
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No final de 2022, esta entrevista feita pelo E-Investidor já adiantava que, se as coisas por aqui caminhassem bem, o Brasil poderia se tornar “a única alternativa” dos investidores estrangeiros.