- A Bolsa brasileira (B3) possui 10 índices de empresas que atendem a critérios de sustentabilidade ambiental, social ou de governança (ESG).
- Os índices incluem critérios como descarbonização, diversidade, condições de trabalho, entre outros
- Os investidores devem avaliar a metodologia utilizada antes de comprar ações, para se certificar de que o propósito está sendo atingido
A rentabilidade da ação e a solidez da empresa costumavam ser os principais critérios para uma decisão de investimento. Mas, cada vez mais, os compromissos ambientais, sociais e a governança (ESG, na sigla em inglês) das companhias têm se tornado fatores importantes para os investidores na hora de comprar uma fatia de um negócio.
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A Bolsa brasileira possui 10 índices ESG com base em critérios como diversidade, descarbonização, condições de trabalho, entre outros. Mas será que todas as companhias listadas nesses grupos são realmente sustentáveis?
O crescimento desses índices é reflexo da necessidade sentida pelas companhias por mostrar que fazem parte da mudança e que atendem aos parâmetros de ESG. Principal índice desse tipo da Bolsa brasileira, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, por exemplo, registrou no ano passado o maior número de empresas já cadastradas para participação no processo desde a sua criação, em 2005. Ao todo, foram 183 companhias inscritas, um crescimento de 38% em relação a 2021. Desse total, 83 foram consideradas elegíveis.
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Em janeiro, a B3 anunciou as empresas que passaram a compor a 18ª carteira do ISE. Pela primeira vez, o índice atingiu a marca de 69 companhias (eram 46 em 2022), representando 27 setores diferentes da economia. Juntas, as empresas somam R$ 1,741 trilhões em valor de mercado, equivalente a 41,08% do total das companhias com ações negociadas na B3, com base no fechamento de 23 de janeiro de 2023.
Apesar de os índices serem uma boa base para que o investidor decida quais ações irá comprar, é importante ficar atento à metodologia utilizada, para se certificar de que o propósito ou impacto do investimento está, de fato, sendo atendido.
O Índice Carbono Eficiente (ICO2), por exemplo, inclui companhias de petróleo e mineração, que, devido à própria natureza da sua atividade produtiva, contribuem fortemente para a emissão de carbono. Isso ocorre porque a metodologia considera o grau de exposição da receita da empresa frente ao seu volume de emissões de carbono, e não necessariamente um compromisso de carbono zero.
“O Índice Carbono Eficiente não se propõe a ser um índice de empresas que emitem baixo carbono, é simplesmente uma reponderação do índice IBX da Bolsa, e tira um pouco de peso das empresas que são grandes emissoras e aumenta o peso daquelas que são baixas emissoras. Mas o que acontece é que o investidor leigo pode achar que está investindo em empresas responsáveis e que emitem pouco carbono”, explica Fabio Alperowitch, sócio da FAMA Investimentos, gestora brasileira com foco em ESG.
Outro exemplo é o ISE, que seleciona as empresas com melhores práticas na B3. Segundo Alperowitch, esse tipo de metodologia faz pouco sentido em mercados como o do Brasil, em que há poucas empresas com ações negociadas em Bolsa.
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“A gente tem uma Bolsa com poucas empresas, cerca de 400, e de repente vai ter duas ou três empresas de um setor. E aí qual a vantagem de ser a melhor entre duas ou três? Você pode ser muito ruim e mesmo assim ser o melhor do seu setor. Só faria sentido em um mercado com muita profundidade de empresas, como Estados Unidos, que tem 5 mil empresas, e vai ter 200, 300, em um segmento”, avalia Alperowitch.
Por isso, se o objetivo do investidor é comprar ações de empresas que tenham um impacto positivo na sociedade, é importante checar quais companhias fazem parte desses índices e quais medidas têm sido realmente implementadas no âmbito do ESG.
Veja os índices ESG disponíveis na Bolsa brasileira:
– Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3)
É o principal índice ESG do mercado brasileiro. Criado em 2005, foi o quarto índice de sustentabilidade no mundo. Seu objetivo é reunir as empresas de capital aberto com as melhores práticas de sustentabilidade, que participam voluntariamente de um processo de seleção que avalia seu desempenho em diversos aspectos. É um índice best in class (que seleciona as empresas com melhores práticas), que considera as três letras do ESG. A B3 faz o processo de seleção anual baseado nas respostas autodeclaratórias das empresas, do questionário CDP Climate Change e do Índice de Risco ASG da RepRisk, dentre outros critérios específicos de seleção. Todas as respostas ao questionário da B3 são públicas no site do ISE B3.
– Índice Carbono Eficiente (ICO2 B3)
Criado em 2010, o ICO2 B3 busca evidenciar ao mercado as empresas que já deram o primeiro passo na agenda de mudança do clima, preparando seu inventário de gases de efeito estufa. O índice também antecipa a visão de como as integrantes da carteira estão se preparando para uma economia resiliente e de baixo carbono.
– S&P/B3 Brasil ESG
Lançado em setembro de 2020, em parceria com a S&P, o índice S&P/ B3 Brasil ESG usa critérios baseados em práticas ambientais, sociais e de governança para selecionar empresas brasileiras para sua carteira. A metodologia considera o universo das empresas listadas na B3 e que compõem o S&P Brazil BMI (Broad Market Index), com exceção das que não têm aderência aos princípios do Pacto Global ou que fazem parte de setores específicos (armas, tabaco e carvão térmico, por exemplo).
– IGPTW B3
Este índice é o primeiro no mundo a fazer um recorte e avaliar o desempenho das empresas certificadas como as melhores para trabalhar, de acordo com a pesquisa Great Place to Work (GPTW). Criado em 2021, o IGPTW B3 considera as empresas certificadas pela GPTW no período válido para o Ranking das 150 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil no ano anterior, elaborado pela consultoria SAD. A composição da carteira anunciada em janeiro de 2023 incluiu 65 empresas, certificadas no ranking nacional de 2022.
– Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC B3)
Reúne empresas listadas no Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. Nesses segmentos, as companhias precisam seguir regras de governança corporativa diferenciadas – que vão além das obrigações exigidas pela Lei das Sociedades por Ações (Lei das S.As.). O objetivo é melhorar a avaliação daquelas que decidem aderir, voluntariamente, a um desses segmentos de listagem.
– Índice de Governança Corporativa Trade (IGCT B3)
Integrado por empresas listadas no Novo Mercado, no Nível 1 ou Nível 2. Além de considerar os níveis de governança das empresas listadas, possui critérios mais restritivos de liquidez.
– Índice de Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG B3)
Reúne ações de empresas que oferecem melhores condições aos acionistas minoritários, no caso de alienação de controle.
– Índice de Governança Corporativa – Novo Mercado (IGC-NM B3)
Inclui exclusivamente os papéis das empresas que negociam ações no Novo Mercado, segmento de listagem em que estão as companhias que se comprometem espontaneamente a adotar práticas de governança corporativa que vão além das exigidas por lei.
– Índice de Crédito de Descarbonização B3 (ICBIO B3)
Em setembro de 2022, foi lançado o primeiro índice ASG da B3 no mercado de Balcão: Índice de Crédito de Descarbonização B3 (ICBIO B3). O indicador acompanha a variação do preço médio ponderado do Crédito de Descarbonização (CBIO), registrado na B3.
– IDIVERSA B3
Primeiro índice latino-americano a combinar num único indicador critérios de gênero e raça para selecionar as empresas que irão compor a carteira. O novo indicador é uma maneira de reconhecer as companhias listadas que se destacam em diversidade, além de promover maior representatividade de grupos sub-representados (gênero feminino, pessoas negras e indígenas) no mercado.