- A chegada de Marcelo de Araújo Noronha ao cargo de CEO do Bradesco (BBDC4) foi bem recebida pela Faria Lima
- A expectativa é que o lucro e o ROE já comecem a reagir no curto prazo, mas não o suficiente para superar os pares, segundo especialistas
- E para quem quer dividendos, qual é a hora certa de se posicionar na ação? Veja as análises
Mudança de rota e uma tentativa de recuperar a rentabilidade do passado, esses foram os sinais que o mercado captou com a chegada de Marcelo de Araújo Noronha ao cargo de CEO do Bradesco (BBDC4) para substituir Octávio de Lazari Júnior. E a mudança foi bem recebida pela Faria Lima, dado o histórico de queda do ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) e o aumento da inadimplência que o banco já amargava há alguns trimestres.
A queda dos juros já anuncia dias melhores, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo Bradesco para recuperar o tempo perdido, apontam os analistas. A expectativa é que o lucro e o ROE já comecem a reagir no curto prazo, mas não o suficiente para superar os pares. E para quem quer dividendos, qual é a hora certa de se posicionar na ação? Agora ou é melhor esperar? O E-investidor consultou alguns especialistas e apresenta alguns cenários a seguir:
Passando a tesoura em tudo…
Não é crise, mas está na hora de cortar gastos, pelo menos este é o cenário que o mercado já projeta para a nova gestão de Noronha no Bradesco. “Fechar o bolso” virou palavra de ordem.
Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research, explica que o principal desafio da gestão do novo CEO será recuperar o índice de eficiência do Bradesco, que nada mais é do que a relação das despesas divididas entre o produto bancário – ou seja, ou o Bradesco precisaria reduzir as despesas ou aumentar os produtos bancários para este objetivo.
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Acontece, segundo Nigri, que um aumento nos produtos seria complexo para o banco, que diante da sua inadimplência elevada está mais seletivo com os clientes aos quais concede crédito. Desta forma, reduzir despesas ficou como a única opção viável.
Nigri avalia que a estrutura do Bradesco é muito inchada, com muitas diretorias e remunerações pagas a diretores e administradores. Ele lembra que uma reestruturação e corte de gastos semelhante foi feita no Itaú no passado, quando Milton Maluhy Filho chegou para suceder a Cândido Bracher e por sinal “Foi muito benéfico para o Itaú”, reforça.
Embora tenha que reduzir despesas, há melhorias que precisam de atenção, por exemplo o desenvolvimento tecnológico e o atendimento nas agências, que ficou um pouco desfasado diante dos pares, observa Renato Reis, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos. “São coisas que não se mostram com números, mas são de percepção e dá para sentir que o Bradesco ficou atrás dos concorrentes e vai ser necessário resolver presencialmente”, aponta.
Inadimplência
A inadimplência elevada é outra das marcas registradas na história do Bradesco, após uma safra de crédito ruim que fez esta disparar.
Milton Rabelo, analista do setor financeiro da VG Research, acredita que a gestão de Noronha pode buscar estabilizar o índice de inadimplência, o que permitiria uma maior originação de crédito. Segundo o analista, nos próximos trimestres a melhora deve ser lenta e gradual.
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Para Reis, o trabalho do novo CEO acontece realmente depois de finalizar as safras de crédito ruins, com a decisão de quais produtos e clientes o banco terá na carteira de crédito no futuro.
Reis destaca que a inadimplência já apresentou sinais de queda e deve continuar nessa tendência, fazendo com que o ROE do Bradesco possa melhorar nos próximos trimestres.
Crédito seguro
Mesmo diante de melhoras no cenário econômico e de inadimplência, os analistas concordam que o Bradesco deve manter uma postura conservadora ainda por um bom tempo, isto é, priorizando crédito seguro e spread (taxas) menores.
Para Nigri a concessão de crédito deve focar em produtos que tenham garantia “São produtos que tem um retorno menor, mas em compensação menos possibilidade de inadimplência”, comenta. O analista acredita que o Bradesco use esta estratégia pelo menos até acabar com a safra de crédito ruim que ainda possui no portfólio.
Reis partilha a mesma visão e acredita que mesmo com melhorias operacionais e crescimento na carteira, o Bradesco ainda deve se manter no crédito seguro por alguns meses.
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Na visão de Rabelo, pode haver um aumento gradual na originação de crédito para safras de melhor qualidade em função das melhorias recentes.
E o lucro e ROE?
Diante da redução da inadimplência prevista para os próximos trimestres, o conservadorismo na safra de crédito e a redução de custos na operação do Bradesco, analistas já projetam crescimento no lucro e no Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE).
Para Rabelo, a expectativa é ter um lucro de R$ 23 bilhões em 2024 e um ROE de 13,8%. Reis, da DV Invest, projeta um ROE de 13% e um lucro de R$ 22 bilhões.
Já Nigri, espera por um lucro de R$ 21 bilhões.
Vale a pena para dividendos?
Os analistas estão divididos sobre o cenário para dividendos. Para alguns, vale a pena aproveitar o desconto da ação com um objetivo de médio e longo prazo, enquanto para outros ainda é muito cedo para se posicionar no papel e existem outras alternativas que poderiam entregar dividendos maiores no curto prazo.
Para Nigri, da Dica de Hoje Research, o banco está barato e tem capacidade de entregar dividendos entre 7% e 7,5% em 2024. Ele recomenda a compra do papel até o preço de R$ 20.
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Na VG Research a recomendação é de compra, mas apenas para o investidor que esteja pensando em usufruir do desconto da ação atualmente com uma perspectiva de médio ou longo prazo (ou seja a partir de 2 anos ou mais de investimento). Rabelo espera que as ações BBDC4 apresentem um dividend yield (retorno em dividendos) de 7% em 2024. O preço máximo aconselhável para compra é de R$ 16,50.
Mas para quem prefere receber dividendos elevados já logo no curto prazo, Rabelo tem como preferida a ação do Banco do Brasil (BBAS3) com dividend yield projetado de 9% para 2024.
Reis, da DV Invest, é mais cético com a companhia e embora reconheça que está barata não aconselha a compra. O analista espera que o Bradesco tenha um dividend yield de 4% em 2024. Mas diz que prefere o Itaú, que pode entregar entre 4,5% e 5,5% de proventos no próximo ano.
Na Levante Investimentos, a recomendação para o papel é neutra, com preço alvo de R$ 19, segundo o analista do setor, Matheus Nascimento. Em relatório da casa, Bradesco também está presente na carteira de dividendos, com valor de entrada até R$ 18, sendo que o banco ocupa 5% do portfólio. A projeção é de um dividend yield de 9,02%.
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Segundo os analistas, Noronha terá a missão de reinventar o Bradesco, com estratégias que incluem reformular o varejo, ter maior ênfase na experiência do cliente, revisão dos canais digitais e foco na alta renda. “Suas declarações iniciais indicam consciência dos desafios e a necessidade de enfrentá-los com uma visão renovada”, consta no relatório.