- A expectativa do governo de São Paulo é que a oferta de ações aconteça no final do primeiro semestre
- Para uma fonte próxima à modelagem de privatização do setor de saneamento, a previsibilidade da receita aliada à baixa rentabilidade torna o investimento mais atraente para fundos de previdência
- Especialistas não descartam a compra de participação na Sabesp por parte de operadoras privadas
A maior privatização do setor de saneamento e provavelmente a maior capitalização de 2024, o follow-on da Sabesp (SBSP3), deve atrair a atenção principalmente de fundos de investimentos, segundo especialistas ouvidos pela Broadcast. A expectativa do governo de São Paulo é que a oferta de ações, que vai reduzir a participação estatal na empresa, aconteça no final do primeiro semestre.
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Para Percy Soares Neto, diretor executivo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), a oferta de ações tem potencial de atrair fundos nacionais e internacionais, principalmente os focados em infraestrutura.
Ainda falta definir os detalhes da modelagem da oferta, mas o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) não espera uma total pulverização na venda de ações da Sabesp. “Não precisamos necessariamente de operador, mas queremos ter acionistas de referência para melhorar a gestão”, afirmou a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Governo de São Paulo, em entrevista ao Estadão, no último dia 14 de dezembro.
- Privatização da Sabesp avança: é hora de comprar a ação?
Para uma fonte próxima à modelagem de privatização do setor de saneamento, a previsibilidade da receita aliada à baixa rentabilidade torna o investimento mais atraente para fundos de previdência do que para fundos de private equity (tipo de fundo que compra participação em empresas). “O negócio de saneamento pode ser visto como investimento verde, o que também abre espaço para fundos que têm alguma meta de sustentabilidade”, afirmou a fonte.
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Especialistas não descartam a compra de participação na Sabesp por parte de operadoras privadas, mas para uma fonte próxima ao setor, as especificidades da urbanização de São Paulo podem diminuir a atratividade para investidores internacionais.
O diretor de finanças corporativas da Fitch, Gustavo Mueller, avalia que o nível de alavancagem das operadoras privadas de saneamento no Brasil torna mais desafiadora a participação dessas empresas na operação de follow-on (oferta subsequente de ações). “No cenário-base dos nossos ratings para Aegea, BRK e Saab, a gente incorpora uma desalavancagem de curto, médio prazo”, explica Mueller, citando companhias de saneamento. Um aumento de endividamento pode pressionar a classificação de risco dessas empresas.
Calendário da privatização
A Sabesp, na última sexta-feira (22), anunciou as instituições financeiras que vão coordenar a bilionária oferta de ações de privatização da empresa.
Em janeiro, o governo de São Paulo prevê divulgar os estudos da privatização que estão sendo feitos pelo International Finance Corporation (IFC), o braço do Banco Mundial. Esses dados devem embasar a precificação das ações e a modelagem da oferta. Ainda está em aberto qual o tamanho final da fatia do governo, que deve ficar entre 15% e 30%, e se o follow-on será apenas uma oferta primária ou primária e secundária.
Também em janeiro de 2024, o governo espera finalizar a discussão do contrato de concessão com os municípios. A partir daí começam as audiências e consultas públicas. O desenho dos contratos é um dos pontos observados por investidores para avaliar a atratividade do negócio.
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Em março, os contratos de concessão devem ser votados pelas Uraes, os blocos regionais de municípios. A proximidade com as eleições municipais pode afetar essa etapa, com pressões para votação nas câmaras municipais.
No entendimento do governo, a Lei das Concessões aboliu a necessidade de que haja aprovação no Legislativo. Ainda assim, vereadores como o presidente da Câmara de São Paulo, Milton Leite (União), sinalizaram a intenção de exigir apreciação na Casa.
Simplificação
Um dos objetivos do governo de São Paulo ao final das negociações com municípios é simplificar a estrutura contratual, aumentar a previsibilidade de receita e reduzir o risco regulatório. A Sabesp passaria a ter um único contrato com anexo para cada cidade, com vencimento em 2060, todos regulados pela Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), em vez de incluir também agências reguladoras municipais.
A adesão dos municípios à renegociação também pode influenciar o apetite dos investidores, pois afeta diretamente a receita da Sabesp. Os municípios que não aderirem vão precisar licitar os contratos ao final do vencimento, de acordo com o novo marco do saneamento. Segundo a Sabesp, 189 contratos vencem até 2038.
Apenas 11 das 375 cidades têm viabilidade financeira, segundo dados do governo estadual. Entre elas, está a cidade de São Paulo, que representa mais de 40% das receitas da Sabesp e cujo contrato vence em 2040. Atualmente a Sabesp tem uma estrutura que prevê subsídios cruzados entre concessões, o que deve ser mantido após a desestatização.
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Para além da sustentabilidade de receita, o governo ainda aponta que muitos municípios compartilham infraestrutura de saneamento. Esse inclusive é o caso atual de São Paulo, abastecida por reservatórios localizados entre Suzano e Salesópolis, com grande parte do esgoto tratado em Barueri.
Com a conclusão do follow-on, o governo de São Paulo espera aumentar a capacidade de investimento da Sabesp de R$ 47,4 bilhões previstos até 2028, para R$ 66 bilhões até 2029.