- Depois do pior janeiro em oito anos, o Ibovespa voltou a subir em fevereiro para encerrar o mês com uma alta de 0,99%
- Ainda que variáveis macroeconômicas permaneçam no radar, a Bolsa conseguiu apoio nos bons resultados trimestrais de empresas no Brasil e no exterior
- Para março, além da temporada de balanços, a Super Quarta também pode ditar o tom do mercado
O Ibovespa voltou a subir em fevereiro para encerrar o mês nesta quinta-feira (29) aos 129.020,02 pontos, com uma alta mensal de 0,99%, depois que a Bolsa passou pelo pior janeiro em oito anos. A valorização pode parecer modesta, mas é o melhor desempenho da Bolsa brasileira para o segundo mês do ano desde 2017, mostram dados levantados pela Economatica.
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O desempenho de fevereiro marca a reversão de parte das quedas acumuladas no início de 2024, quando a perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos e mais a incerteza na China levou o mercado a reprecificar um cenário pior do que aquele que se desenhava ao final de 2023. Depois da correção brusca em janeiro, parece que os ânimos se estabilizaram no segundo mês do ano, permitindo algumas altas aqui e ali.
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“Houve uma certa ausência de indicadores em fevereiro, o que fez com que os mercados ficassem mais tranquilos e investidores começassem a olhar para o que estava barato em busca de barganhas”, diz Max Bohm, estrategista da Nomos.
Mas não é como se os fatores que pressionaram a Bolsa em janeiro tenham saído do radar. Pelo contrário, explica Ricardo França, analista da Ágora. “Olhando as variáveis macroeconômicas, não vimos um grande alívio. Os juros de longo prazo nos Estados Unidos avançaram em fevereiro, o que não deveria ser um fator positivo para a renda variável”, destaca.
O que segurou a Bolsa, então, mesmo com esse cenário? Os bons resultados trimestrais apresentados pelas companhias, diz ele.
Balanços de empresas ajudam a Bolsa em fevereiro e podem impactar março
A temporada de divulgação dos balanços financeiros referentes ao quarto trimestre de 2023 das empresas de capital aberto começou ainda no fim de janeiro, no Brasil e no exterior. Os números apresentados até então são vistos com bons olhos por analistas e ajudaram a sustentar a Bolsa em fevereiro mesmo frente a uma “agenda esvaziada”.
E não foi só no Brasil: nos Estados Unidos, a excelente performance das empresas de tecnologia levou os índices acionários americanos S&P 500 e Nasdaq ao "all-time high", termo utilizado no mercado para se referir a novas máximas históricas. “Esse mês foi um desempenho muito positivo do S&P, muito por conta da Nvidia, que faz uma diferença grande nesta conta. Ainda assim, no geral, os resultados das empresas lá fora têm vindo positivos e isso sempre ajuda a nossa Bolsa por aqui”, explica Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed.
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Ricardo França, da Ágora, destaca que cerca de 70% dos resultados apresentados por empresas acompanhadas pela corretora vieram em linha ou superiores às expectativas. “Isso retrata que os resultados, em geral, são de razoáveis a positivos. Acabou sendo um fator que justificou a melhor performance da Bolsa”, diz.
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A temporada se encerra no dia 28 de março, com a divulgação dos números de nomes como Azul (AZUL4) e Simpar (SIMH3). Até lá, se os resultados continuarem positivos, o quarto trimestre de 2023 pode seguir dando suporte a maiores altas na Bolsa. "Sem dúvida alguma, a continuidade da temporada ainda deve ser um direcionador para os preços das ações", pontua França.
Super Quarta no radar em março
O Comitê de Política Monetária (Copom) fará sua próxima reunião nos dias 19 e 20 de março, data em que o Federal Open Market Committee (FOMC) – órgão equivalente dos Estados Unidos – também se reúne para discutir os rumos da taxa de juros americana. É mais uma “Super Quarta”.
Por aqui, o Banco Central deixou claro em encontros anteriores que manterá o atual ritmo de cortes de 0,50 ponto porcentual na Selic. O mercado não espera grandes surpresas e a tendência é que os juros brasileiros caiam para 10,75% ao ano – o menor patamar desde março de 2022. É lá fora que estão os possíveis impactos da Super Quarta no mercado.
A expectativa pelo tão sonhado início dos cortes na taxa de juros americana vem movimentando os mercados. A possibilidade deste ciclo começar em março é, atualmente, descartada pela maioria dos analistas, mas foi um dos principais motivos por trás do rali vivido pelo Ibovespa em novembro e dezembro do ano passado. Da mesma forma, a reversão desse otimismo ajudou a Bolsa brasileira a ter em 2024 seu pior janeiro em oito anos.
Por isso, a reunião de março vai ser acompanhada de perto por investidores em busca de sinais mais claros do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, sobre os próximos passos.
“Se o Fed indicar uma postura de manter os juros mais baixos do que o esperado, isso pode resultar em maior liquidez no mercado global, com investidores buscando maiores retornos em mercados emergentes como o Brasil. Isso poderia atrair capital para o mercado brasileiro, beneficiando o Ibovespa”, explica André Sandri, sócio da AVG Capital e fundador do EDUCA$.
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“Porém, se adotar uma postura de aumento de juros visando combater a inflação nos EUA, a tendência é que haja uma fuga de capitais dos mercados emergentes, o que poderia pressionar negativamente o Ibovespa”, completa.