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Ibovespa fecha 1º mês de 2024 com a maior queda em 8 anos. O que esperar de fevereiro?

Entenda a visão de analistas sobre as perspectivas para as próximas semanas

Ibovespa fecha 1º mês de 2024 com a maior queda em 8 anos. O que esperar de fevereiro?
Ibov começou o ano com desvalorizações (Foto: Envato Elements)
  • Como pano de fundo para as baixas do Ibov em janeiro, está uma série de fatores, como realização de lucros, atratividade da renda fixa americana, riscos fiscais no Brasil e impactos da crise imobiliária na China sobre a Vale
  • Para o próximo mês, a expectativa é de que esses assuntos continuem no radar e trazendo volatilidade ao Ibovespa
  • "Não vejo grandes mudanças para fevereiro. Enquanto os gringos não voltarem, a tendência é de que o Ibov permaneça lateralizado", afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos

O Ibovespa começou 2024 com o “pé esquerdo”. O principal índice de ações da B3 caiu 4,79% no acumulado do mês, o pior desempenho desde janeiro de 2016.

Como pano de fundo para as baixas, está um movimento de realização de lucros pelos investidores estrangeiros, que estão embolsando os ganhos obtidos com o salto de 18% do IBOV no final de 2023. Contudo, outras questões também entram nesta conta. É o caso da alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA – quando as taxas desses papéis estão sobem, investidores do mundo todo são atraídos para a renda fixa americana, o que prejudica as bolsas globais.

Já no cenário interno, o aumento das incertezas fiscais foram um terceiro fator que pesou sobre o índice. Em janeiro, o Governo anunciou uma nova política industrial. O programa, que deve disponibilizar R$ 300 bilhões em créditos e subsídios até 2026, pegou o mercado de surpresa e foi absorvida como negativa pelos investidores. No mês, também foi anunciado déficit primário de R$ 230 bilhões em 2023, segundo maior da história.

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Enquanto isso, no cenário micro, um dos principais papéis amargou perdas de 10% no primeiro mês do ano. A Vale (VALE3) foi impactada por ruídos de ingerência política, com os supostos esforços do Governo Lula para colocar o ex-ministro Guido Mantega na diretoria da companhia, e temores em relação à crise imobiliária na China, principal mercado consumidor de minério.

“Toda essa pauta fiscal do Governo mexeu, sim, com a Bolsa. Não podemos descartar também o que ocorreu com a Vale, que tem um peso bem grande no índice”, destaca Pedro Canto, analista CNPI da CM Capital. A volatilidade do petróleo também gerou incertezas no mercado brasileiro, na esteira de conflitos armados no Oriente Médio e leste europeu, como as guerras do Iêmen, Israel e Hamas e Rússia e Ucrânia.

“Os fatos que mais mexeram com a Bolsa em janeiro foram, principalmente, os temores atrelados às commodities, especialmente o petróleo. A guerra no Iêmen e o fechamento do canal de Suez deixaram o transporte muito mais custoso para os preços do óleo cru”, diz Pedro Marcatto, head de renda variável da B.Side. “Além disso, dados fracos da economia chinesa, que viveu um momento deflacionário ao longo de todo 2023, pressionaram as ações de Vale, ativo de maior peso no Ibovespa.”

Poucas mudanças no curto prazo

Para fevereiro, a expectativa é de que os assuntos fiscais no Brasil, situação econômica da China e o desenrolar das guerras no Oriente Médio e leste europeu continuem no radar dos investidores. A temporada de balanços do 4º trimestre de 2023 também deve ser acompanhada de perto pelo mercado. Entretanto, a aguardada recuperação do Ibov pode não vir tão breve.

“Não vejo grandes mudanças para fevereiro”, afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos. “Lembrando que a nossa bolsa ainda é muito dependente do fluxo estrangeiro. Enquanto os gringos não voltarem, a tendência é de que o Ibov permaneça lateralizado.”

Na visão de Boragini, para os investidores estrangeiros voltarem à B3, será necessário o avanço dos cortes na taxa básica de juros do país, a Selic, além do início do aperto monetário nos EUA – cenário que deve se consolidar nos próximos meses.

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Essa também é a expectativa de Pedro Canto, analista CNPI da CM Capital. O especialista vê um possível endereçamento das incertezas fiscais nos próximos meses. “Acredito que vai ter bastante ruído, volatilidade de curto prazo, mas a ala econômica do Governo parece alinhada em busca de encontrar uma solução adequada para a questão fiscal, pelo menos endereçar da melhor forma possível”, diz.

Marcatto, da B.Side,  vê este momento de Ibov lateralizado como oportunidade. “O Ibovespa ainda negocia a um múltiplo preço/lucro muito descontado, nos níveis em que negociava na Crise do Subprime”, diz. “Observamos um desconto elevado no índice, nos dando uma boa expectativa de upside para o futuro. Outro ponto é que queda de juros, como esperado pelo mercado, trará mais atratividade ao risco e tende a aumentar o fluxo de capital entrando na Bolsa.”

A Ágora Investimentos vê um momento oportuno para investimentos. “A combinação de um cenário de queda de juros e valuation descontado em bolsa torna “apostas contra” um risco e a maioria dos setores ainda parece ter preços atraentes, negociando com múltiplos descontados em relação à sua média histórica”, diz a casa, em relatório.

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