- Com o novo reajuste, a Selic sai de 11,75% para o patamar de 10,75% a.a. Para o fim de 2024, o mercado espera que a taxa encerre o ano a 9%
- O ciclo de queda da taxa de juros influencia nos juros de outras operações de crédito, mas não é determinante para torná-la mais acessível aos consumidores
- No caso dos financiamentos de veículos e imóveis, as taxas de inadimplência para essas modalidades também pesam nos possíveis reajustes dos juros pelas instituições financeiras
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu, nesta quarta-feira (20), a Selic em 0,50 pontos percentuais. Com o novo ajuste, a taxa básica de juros do País sai de 11,25% para 10,75% ao ano. A mudança repercute em todos os setores da economia, nos investimentos, e ainda ajuda a tornar os financiamentos voltados para imóveis e veículos mais acessíveis para o consumidor.
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Esse impacto acontece porque a Selic influencia nos juros praticados nos diversos tipos de linhas de crédito no País, como empréstimos e financiamentos. Segundo o relatório de estatísticas monetárias do BC, a taxa de juros praticada pelas instituições financeiras para aquisição de veículos permaneceu em 26,1% ao ano em janeiro de 2024. Já durante o mesmo período do ano passado, as financeiras cobravam em média 29,1% ao ano de juros para a mesma modalidade de crédito.
Já nas taxas de recursos direcionados ao financiamento imobiliário, houve também um movimento similar, mas em menor magnitude. Os juros atingiram 11,6% em janeiro de 2024, cerca de 0,3 pontos percentuais menor em relação ao mesmo período do ano passado. O recuo das taxas coincide com o ciclo de queda da Selic que saiu de 13,75%, em agosto de 2023, para 10,75% na reunião desta quarta-feira (20). E o mercado ainda vê espaços para novas quedas.
Para o fim de 2024, a expectativa é que a taxa básica de juros fique em 9% ao ano. “A tendência é que os consumidores encontrem financiamentos mais baratos com a queda da Selic. Isso contribui para parcelas mais baixas que impactam menos na remuneração do tomador de crédito”, diz Gecilda Esteves, professora de administração e ciências contábeis do IBMEC do Rio de Janeiro.
As variáveis que pesam nas taxas do financiamento
A condução da política monetária não é a única variável determinante para a queda das taxas de juros de outras modalidades de crédito. Isso acontece porque, além das decisões do BC, as instituições financeiras avaliam os índices de inadimplência e a demanda por empréstimos e financiamentos, entre outros fatores para definir o custo do crédito.
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Essas circunstâncias obrigaram os bancos a serem mais cautelosos na concessão de crédito. Por isso, Matheus Nascimento, analista da Levante Corp, acredita que a queda dos patamares da Selic não será determinante na melhora das condições de pagamento do consumidor. “As taxas devem se equilibrar em níveis menores, mas não a patamares que possam impulsionar a economia e o consumo de forma tão robusta”, diz Nascimento.
Ainda de acordo com os dados do BC, as taxas de inadimplência para financiamentos de veículos permanecem a 5,1% em janeiro deste ano. Ou seja, de todas as concessões de crédito, 5% dos tomadores não honraram com as suas obrigações financeiras. A taxa é 0,4 pontos porcentuais em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar do recuo no intervalo de 12 meses, a taxa de inadimplência ainda segue 1,1 pontos porcentuais acima do índice de janeiro de 2022.
Já a inadimplência para financiamentos de imóveis segue estável. Em janeiro de 2024, o percentual de inadimplentes correspondia a 1%, enquanto no mesmo período de 2023 estava a 1,1%. No entanto, no caso do crédito imobiliários, há outra variável que pode impactar as condições de compra para o consumidor, especialmente para a classe média.
Como mostramos nesta reportagem, os altos volumes de saques da poupança visto nos últimos meses podem tornar financiamentos de imóveis mais caros para a classe média brasileira. Isso porque a retirada na caderneta impacta diretamente a principal fonte de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que existe para promover o financiamento imobiliário no País.
A situação obriga o setor a buscar outras fontes de recursos para compensar os baixos volumes da poupança. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) explica que as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), os Certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e as Letras Imobiliária Garantida (LIG) têm sido as opções complementares, mas possuem um custo de operação ainda maior.
Como melhorar o seu perfil de crédito?
As taxas de juros não são uniformes para todos as pessoas. Os dados BC tratam-se apenas de uma média praticada no mercado e variam conforme o perfil de risco do tomador de crédito. Se o consumidor tiver um bom relacionamento com a instituição financeira e for classificado como bom pagador, a tendência é que consiga melhores condições de financiamentos com juros mais baixos do que a média do mercado. Caso contrário, os bancos tendem a oferecer linhas de crédito com juros maiores devido ao risco de inadimplência.
Essa avaliação prévia das instituições exige dos consumidores uma organização financeira antes de buscar linhas de crédito para a compra de um imóvel ou veículo. “Evite atrasar o pagamento de contas ou renegociar financiamentos porque transparece aos bancos uma dificuldade de pagamento. Esses hábitos impactam na sua nota de crédito”, diz Ricardo Coimbra, economista e conselheiro Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (APIMEC).
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O planejamento financeiro para construir uma reserva capaz de oferecer uma entrada maior ao banco também ajuda o consumidor a conseguir condições de pagamento melhores na compra de um imóvel ou carro. Além disso, o compartilhamento de dados via Open Finance ajuda o credor (aquele que concede a linha de crédito) a conhecer a sua relação com outros bancos. Se houver um histórico positivo, a tendência é que o credor ofereça juros mais competitivos.