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Conheça a lenda da Bolsa que possui 9,6% da OSX (OSXB3), de Eike Batista

Sem medo de correr riscos, Roberto Lombardi fez história no mercado brasileiro e explica aportes no grupo EBX

Conheça a lenda da Bolsa que possui 9,6% da OSX (OSXB3), de Eike Batista
Roberto Lombardi é considerado um dos maiores traders da B3 (Crédito: Amarofoto)
  • Roberto Lombardi é considerado um dos maiores traders do Brasil
  • O legado do investidor na Bolsa passa pela aposta nas pessoas físicas na corretora Interfloat até o envolvimento no lançamento dos minicontratos na Bolsa
  • No mercado à vista, uma das posições mais conhecidas de Lombardi é na OSX, de Eike Batista. O trader detalha a estratégia de alto risco nos papéis

No coração da Faria Lima, em São Paulo, a antiga sede da corretora Interfloat está lotada de fardos de bebidas orgânicas da marca WeWish, empresa em que o mega investidor Roberto Lombardi de Barros é sócio. Hoje, a lenda do trade — criador da corretora e um dos responsáveis pelo lançamento de minicontratos na Bolsa de Valores brasileira — divide seu tempo entre as operações no mercado de futuros, feitas no período da manhã durante a abertura do mercado, e o apoio a empreendimentos atrelados à sustentabilidade, na parte da tarde.

“Os meus investimentos precisam buscar algum legado importante nessas letrinhas de ESG (sustentabilidade social, ambiental e de governança)”, ressalta Lombardi, que também é sócio-fundador da empresa de gestão de biomassa ComBio Energia, ao E-Investidor.

Se a grande preocupação com sustentabilidade fomentou o investimento do mega trader na WeWish e na ComBio, o apreço pelo risco e tino para oportunidades o fez se tornar sócio de empresas fundadas por Eike Batista. Com exceção do próprio Eike, Lombardi é atualmente o maior investidor pessoa física da OSX (OSXB3). Até 30 de janeiro deste ano, dado mais recente, ele possuía 9,6% do capital social da companhia do segmento de construção naval.

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Até a última sexta-feira (5), a posição valia R$ 1,25 milhão e só será encerrada caso as ações cheguem ao preço considerado “justo” pelo investidor. Isto é, de quatro a cinco vezes o valor atual (R$ 16 a R$ 20). Na avaliação do empresário, os papéis estão muito “amassados”, isto é, sendo negociados a preços muito baixos. Além disso, a falta “total” de liquidez (baixo volume de negociação) dificulta que Lombardi consiga vender sua posição. E se o fizesse, derrubaria ainda mais os preços das ações.

Contudo, não foi só na OSX em que Lombardi aportou capital. O trader já teve ações de todas as empresas do Grupo EBX, holding que concentrava os diversos negócios de Eike Batista na Bolsa durante os anos 2000. Operador de derivativos há pelo menos 35 anos, especialista em juros e dólar futuros, as companhias “X” foram um dos poucos ativos do mercado à vista em que o trader direcionou a atenção. “Eu diria que ‘à vista’ eu faço pouquíssimo trading. O trader não pode pegar muita coisa para ficar olhando ao mesmo tempo”, diz Lombardi.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

Entre 2006 e 2010, Eike Batista levou à Bolsa pelo menos quatro companhias: MMX, de mineração; MPX, de energia; OGX, de petróleo; OSX, da indústria naval. A partir de uma cisão de ações da MPX, ainda surgiu em 2012 a CCX, de carvão. Por último, a LLX, de logística. Vale lembrar que as empresas “X” estavam envoltas em grandes promessas. Por exemplo, o empresário afirmava que a MMX se tornaria uma “quase Vale”, enquanto a OGX, seria uma Petrobras em miniatura.

Ambas estavam em fase pré-operacional, e mesmo assim foram avaliadas em cifras bilionárias na abertura de capital – a mineradora captou R$ 1,1 bilhão em 2006, o maior IPO daquele ano, enquanto a petroleira captou R$ 6,7 bilhões, em 2008, assumindo o posto de maior oferta pública inicial de história do país até então.

Mês após mês, entretanto, as projeções do bilionário ficavam mais distantes de se tornarem realidade. A MMX nunca chegou perto de se tornar uma Vale, enquanto a OGX nunca conseguiu um grande nível de produção de petróleo. A lacuna entre o que era alardeado por Eike e a realidade fez com que as ações do grupo EBX desabassem na Bolsa, principalmente após 2010. O empresário chegou a ser condenado, em 2021, a mais de 11 anos de prisão por crimes contra o mercado de capitais.

Foi somente após o “crash”, quando o império EBX começou a desabar, que Lombardi decidiu comprar as ações. Juntos, os papéis chegaram a representar 10% da sua carteira. Lombardi afirma nunca ter acreditado na “loucura” propagandeada por Eike no início das negociações das companhias na B3. “Tendo em vista os patamares de preço que essas empresas chegaram na Bolsa, claramente aquilo não ia acabar bem”, diz Lombardi. “Mas quando as ações das empresas do Eike caíram mais de 90%, teve toda a derrocada (do Grupo EBX), eu pensei: ‘nem tanto ao mar, nem tanto à terra’”.

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A tese de Lombardi era de que entre as então desacreditadas empresas de Eike, algumas sobreviveriam e proporcionariam um retorno exponencial. Ou seja, uma rentabilidade que poderia compensar o risco de ver alguns dos papéis do grupo EBX virarem pó na carteira. Como era difícil prever qual dos projetos conseguiria avançar, o trader comprou todos ao preço de quase R$ 1 por ação.

Perdeu principalmente com MMX e CCX – ambas viraram pó. Por outro lado, lucrou consideravelmente com a MPX, que originou a Eneva, e LLX, que virou a Prumo Logística. Nesta última, precisou se posicionar para tentar valer seus direitos enquanto acionista minoritário.

“Eles tentaram fechar o capital da Prumo em um preço que a gente considerava muito abaixo do mercado. Eu briguei para que o preço fosse mais justo”, conta Lombardi, que chegou a entrar com um processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que a autarquia investigasse o caso. “Eu era o principal minoritário e consegui dobrar o preço da oferta”, afirma. A Prumo fechou o capital em 2018, pelo valor de R$ 11,50 por ação.

A OSX, à beira de uma possível segunda recuperação judicial, segue na carteira. Apesar de as sinalizações para o futuro da empresa não serem tão positivas, a posição já rendeu frutos, especialmente em 2020. Naquela época, alguns papéis atrelados ao antigo Grupo EBX passaram por um forte movimento especulativo.

Lombardi aproveitou as altas e baixas para operar. E foi neste período em que sua posição em OSX ficou conhecida. “De repente o papel subia 2.000% em 15 dias, uma coisa absurda. Então eu vendia inteira a minha posição”, diz o investidor. Quando os papéis mergulhavam, logo ele repunha a posição.

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Apesar de ter conseguido uma rentabilidade com a estratégia nas empresas de Eike, Lombardi não recomenda que outros investidores façam o mesmo. Sobretudo se esses investidores não tem bagagem de gestão de riscos ou um caixa confortável.

“É um risco que, para um investidor comum, não vale a pena”, afirma. “Já um investidor que tem uma condição de caixa, pode fazer sentido pegar um pedaço e fazer esse investimento extremamente arriscado. Sabendo que a chance de virar pó é muito alta.”

No final, a experiência de investir nas empresas X gerou uma reflexão sobre o mercado brasileiro, que para Lombardi, não possui ainda mecanismos eficientes de proteção aos investidores minoritários. Hoje, um pequeno investidor prejudicado por fraudes em empresas de capital aberto, por exemplo, quase não tem como recorrer.

A maioria das grandes empresas listadas conta com cláusulas de resolução de conflitos por arbitragem, uma via caríssima, muitas vezes inacessível a quem não tem os bolsos recheados. E na justiça comum, não há histórico consistente de sucesso, como mostramos nesta reportagem.

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“Talvez a proteção no Brasil ainda seja muito frágil e este seja um dos motivos que faz esse nosso mercado ainda ser tão pequeno”, afirma o mega trader. “O investidor não pode gastar mais com advogados do que têm na posição, e os advogados são caríssimos. Eu, no caso da Prumo, por exemplo, tinha uma posição grande. Os investimentos que eu fiz em assessoria foram importantes porque eu tinha uma posição grande.”

Lado a lado com o risco

Apesar de sua posição na OSX ter chamado a atenção nos últimos anos, os trades nas empresas X foram um pequeno trecho de uma história de quase 40 anos no mercado financeiro. Lombardi acompanhou o surgimento em 1985 da antiga “Bolsa Mercantil & de Futuros”, conhecida como BM&F, fruto de um projeto criado por um grupo de corretores da Bovespa.

Na BM&F funcionava o “mercado de commodities”, atualmente chamado de “mercado de derivativos”, em que era possível negociar contratos futuros. A novidade logo chamou a atenção de Lombardi, que já tinha tido contato com o mercado financeiro por meio de sua família. O avô do investidor já havia tido uma corretora.

“Eu achava o mercado de commodities um negócio fantástico, porque era um mecanismo em que você podia comprar sem ter dinheiro e vender sem ter o ativo”, diz Lombardi. “Comecei a fazer cursos à noite na recém-fundada BM&F. Eles ofereciam muitos cursos de introdução ao mercado para nivelar um pouquinho de conhecimento e trazer novos participantes.”

Em 1987, Lombardi fez sua primeira “operação de alto risco”: participou do primeiro leilão de operador especial da BM&F. Neste leilão, foram vendidos títulos de “operador especial”, ou seja, que davam direito a uma pessoa física de frequentar o pregão e operar por conta própria. Contudo, os títulos saíram a um valor muito mais alto do que Lombardi imaginava, a cerca de 2 milhões de cruzados, que era o nome da moeda nacional na época.

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Ele, que tinha um emprego na área de marketing da Antártica, comprou o título de forma parcelada e alugou. Depois de dois anos juntando reservas conseguiu quitá-lo, m 2 de janeiro de 1989, e passou a operar na BM&F – deixando para trás seu emprego na Antártica, em outra decisão de alto risco.

Os primeiros três meses foram difíceis, quase sem ganhos. “Ganhava dinheiro de segunda a quinta, na sexta devolvia tudo. Apesar de gostar do mercado, não tinha bagagem”, ressalta Lombardi. Depois, começou a entender melhor o direcionamento do mercado e ser mais assertivo nas operações. “Passei a alongar as posições em que eu estava certo. Já quando eu errava uma operação, saía fora o mais rápido possível. Assim, consegui ter uma sucessão de ganhos”, diz o investidor.

Um potencializador para os ganhos foi o colapso provocado pelo investidor Naji Nahas na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ), em junho de 1989. O empresário libanês inflou o preço dos papéis da Petrobras realizando negociações entre suas empresas. Contudo, quando cheques sem fundo utilizados para alavancar operações de Nahas foram descobertos, o mercado desabou e a crise quebrou corretoras e a própria BVRJ.

Lombardi aproveitou a volatilidade causada por esse evento para aumentar a rentabilidade nas operações de trade. “O mercado de índice foi suspenso por 2 anos após o que aconteceu com Nahas. Aí a gente foi operar no mercado de ouro”, diz. “Eu já tinha um pouquinho mais de experiência, então comecei a ter resultados melhores.”

Para pessoa física

Em 1992, Lombardi abriu a Interfloat Corretora, uma das primeiras a dar palco para pessoas físicas. A ideia era promover educação financeira e atrair novos investidores para as operações em Bolsa.

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“Naquela época, ‘pessoa física’ era como um palavrão no mercado. Ninguém queria atender”, ressalta o trader. “Mas como a minha história era de pessoa física, eu montei a Interfloat para esse público, principalmente aqueles que gostavam de operar mais.”

A sala do escritório, hoje cheia de bebidas “WeWish”, era a antiga sala de operações. “O meu cliente vinha para o ambiente da corretora todo dia, tinha um lugar que ele sentava, ligava a plataforma e ficava operando para si, e aí me pagava corretagem”, diz Lombardi. “Tinha muito apoio de educação financeira, disponibilizávamos muitos cursos. Eu ministrei vários cursos presenciais.”

A intenção em oferecer um suporte de educação financeira, era de que o cliente conseguisse independência e “sobrevivesse” no mercado. Um cenário diferente do que é visto atualmente, segundo Lombardi. “Me parece que a taxa de mortalidade das pessoas físicas que começam (a operar em corretoras) está muito alta, não aguentam um ano no mercado. Me assusta um pouco”, diz.

Em 2011, vendeu a Interfloat para a XP, e desde então, vive um pouco mais afastado do mercado financeiro. Ainda assim, nunca deixou de operar. “Foi uma corretora icônica, tivemos uma trajetória bacana de 25 anos”, afirma o investidor.

Minicontratos

Lombardi relembra ter sido o idealizador do projeto para lançamento dos minicontratos de índice e dólar na Bolsa brasileira. Atuante na BM&F, ele relata ter apresentado o modelo para funcionamento desses instrumentos em 1999, mas que só conseguiu a aprovação pela instituição três anos depois, com data de lançamento em setembro de 2001.

“Naquela época, o contrato de dólar era um contrato de US$ 100 mil. Só era possível operar no mínimo 5 contratos, portanto, era um valor de operação de US$ 500 mil, com ganhas e perdas acima deste valor. Então, quando a pessoa física começava a negociar, às vezes em 15 minutos saía do mercado”, afirma Lombardi.

Os minicontratos seriam uma opção para baratear esse acesso aos contratos futuros, ao permitir que os investidores adquirissem uma fração do “contrato cheio”. A ideia era trazer para os investidores brasileiros os instrumentos que já estavam disponíveis no exterior, como na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos.

“A Bolsa achava que a pessoa física não ia trazer volume, ia dar problema, ia ser muito risco”, diz o investidor. “Mas eu tenho muito orgulho de ter sido o idealizador desse projeto e insistido nele por três anos”, afirma. Um relato de Lombardi sobre a liderança desse projeto de lançamento dos minicontratos pode ser encontrado no Museu da B3 (MUB3). Entretanto, o posicionamento oficial da Bolsa é de que o lançamento dos minicontratos é creditado à “equipe da BM&F”. A B3 diz não ter registros sobre quem fez parte do projeto.

De acordo com levantamento feito pela B3 a pedido do E-Investidor, somente em 2023 a média de minicontratos negociados por dia foi de 15,4 milhões. Em cinco anos, entre 2018 e 2023, o crescimento do volume médio de negociações foi de 431%.

Apesar de ter dedicado quase toda a vida ao mercado financeiro, Lombardi não olha para para trás com saudosismo. “Acho que cumpri minha trajetória”, diz. Antes de sair pela porta, o investidor ofereceu à reportagem do E-Investidor dois pequenos fardos de bebidas WeWish – demonstrando, mais uma vez, que é para frente que ele olha.

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