Entre o fechamento de 28 de dezembro de 2024 e esta quarta-feira (3), o dólar sobe 4,32%, indo de R$ 4,85 para a casa dos R$ 5,06. Segundo Roberto Motta, estrategista macro da Genial Investimentos, o dólar está subindo globalmente. “Essa alta acontece após o mercado questionar se o banco central americano, o Federal Reserve (FED), vai cortar juros em junho ou não. Essa incerteza faz a moeda se valorizar perante todas as divisas”, explica Motta.
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O Fed Funds, taxa de juros dos EUA, está na faixa de 5,25% e 5,5%. Quanto maior o juro nos EUA, mais valorizada a moeda americana se torna. Entre o fim de 2023 e o início de 2024, a expectativa do mercado era de um corte de juros pelo Fed em março. No entanto, essa expectativa foi prorrogada para junho e agora está sendo postergada por parte do mercado para julho.
“O mercado chegou a precificar um corte na reunião de 12 de junho. Todavia, os dados da economia americana e da inflação global com a alta do petróleo trazem incertezas sobre o corte em junho. No entanto, mesmo que o Fed não reduza juros no fim do primeiro semestre, o mercado espera um corte de 0,25 ponto porcentual em 31 de julho, segundo a curva futura de juros americanos”, explica Felipe Corleta, sócio da GTF Capital.
Governo Lula também pesa no dólar
Na visão de Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, o cenário fiscal brasileiro segue como uma incerteza para os investidores. “O mercado não acreditava em déficit zero para esse ano, mas caso venha um déficit pior do que o mercado espera, isso deve estressar ainda mais o cenário local e isso acaba refletindo no câmbio e nos juros”, afirma.
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Segundo Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, o mercado espera que o déficit só zere a partir de 2027, ou seja, o mercado já precifica que o governo Lula não conseguirá atingir a meta fiscal. Na visão dela, o governo não está com um plano de ação definido para melhorar a situação.
Ela diz acreditar que o governo tem tentado fazer ajustes, mas ainda assim a sinalização não é suficiente para convencer o mercado, que até aceita o não cumprimento do déficit zero, mas que deseja ver algum esforço maior do governo em tentar reduzir o rombo. “O temor do mercado é em relação ao governo não sinalizar nenhum plano para controlar essa situação”, diz Quartaroli.
Gianluca di Mattina, especialista em investimentos da Hike Capital, lembra que além dos receios no Brasil, tensões globais como a guerra entre Israel e o Hamas pesam sobre a moeda americana. ”
O que esperado do dólar em 2024?
Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, estima que o dólar deve subir no curto prazo, mas o teto para a moeda seria a casa dos R$ 5,15. “Em outubro de 2023, o dólar chegou próximo a esse patamar, mas a moeda começou a cair após o ativo ser considerado barato por investidores internacionais, que passaram a comprar real, o que fez a moeda brasileira se valorizar”, aponta.
Tirando os riscos de curto prazo, os analistas comentam que a moeda americana deve ficar entre R$ 5 e R$ 4,70. Os especialistas do Bradesco BBI são os mais otimistas. Na terça-feira (2), a equipe do banco fez uma estimativa de que a moeda americana deve encerrar 2024 em R$ 4,70, queda de 7,11% na comparação com o fechamento de terça-feira (2).
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A equipe, liderada pelo vice-presidente do Bradesco Bruno Boetger, comenta que o dólar deve encerrar neste patamar devido à redução dos juros nos EUA e no Brasil. “Esperamos um corte de 0,25 ponto porcentual em junho. Esse é um cenário positivo para o Brasil e mercados emergentes, visto que o início do corte de juros nos EUA permite uma queda da Selic mais acelerada”, afirma Boetger.
Cristiane Quartaroli, do Ouribank, calcula que a moeda americana deve encerrar 2024 em R$ 4,80, baixa de 5,13% na comparação com o fechamento de terça-feira (2). “Temos uma percepção de melhora na economia com inflação mais baixa, atividade econômica mais resiliente e taxa de juros menor aqui no Brasil e nos EUA até o fim do ano. Então, esses fatores fazem com que tenhamos uma estimativa mais otimista que a média do mercado”, salienta Quartaroli.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, estima que o dólar deve encerrar o ano cotado a R$ 5, uma potencial queda de 1,18%. “Pontos como as incertezas econômicas e quanto ao início do corte dos juros tem trazido volatilidade para a moeda, mas considerando que o mercado é altamente especulativo, assim que toda essa turbulência passar, a moeda americana tende a recuar um pouco e se estabilizar na região dos R$ 5”, afirma Lima.
O dólar à vista perdeu fôlego ao longo da tarde desta quarta-feira (3) em meio a declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, e encerrou a sessão em baixa de 0,35%, cotado a R$ 5,04.
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