- Muito do que precisamos entender sobre a dinâmica econômica e a força da atividade nas economias pode estar relacionada às inovações tecnológicas
- Sob o ponto de vista de ganho de renda e de redução da desigualdade, o avanço em relação à redução da desigualdade se mostrou limitado
- Se o uso da IA gerar novas tarefas para os trabalhadores, ela pode ter consequências mais benéficas em termos de produtividade
Na minha última coluna neste espaço, abordei os efeitos da inteligência artificial (IA daqui em diante) sobre o mundo dos investimentos. Temos observado muitas outras discussões sobre o tema, como, por exemplo, quanto dos resultados surpreendentes das empresas, principalmente as sete magníficas (Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Tesla e Nvidia) têm sido influenciados por isso.
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Muito do que precisamos entender sobre a dinâmica econômica e a força da atividade nas economias mesmo com juros altos, principalmente na economia americana, pode estar relacionada às inovações tecnológicas a partir da IA.
Sabe-se que junto dos avanços tecnológicos vêm inúmeras inovações e mudanças na estrutura das tarefas realizadas pelos trabalhadores. No Brasil, tivemos um pequeno experimento sobre isso, no início da década de 90, quando a Lei da Informática que, a grosso modo, limitava a venda de computadores estrangeiros e forçava o mercado local a utilizar computadores produzidos no Brasil, que tinham uma tecnologia extremamente defasada.
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Depois da revogação da lei, o choque de tecnologia trouxe mudanças relevantes na forma do trabalho do Brasil, aumentando o número de tarefas analíticas e não rotineiras, normalmente ligadas a maior produtividade e inovação, e reduzindo as rotineiras manuais.
O momento atual traz grande similaridade ao descrito, mas em escala infinitamente maior. Em seu artigo recente, o professor do MIT Daron Acemoglu trouxe uma modelagem para entender os efeitos da IA sobre a economia em termos de crescimento econômico e desigualdade, afinal, qual seria o ganho potencial desse avanço tecnológico e quem ganharia com isso?
O artigo visa entender os efeitos da IA sobre a automação das tarefas, o que envolveria redução de custos (poderia ser uma explicação para os melhores resultados das sete magníficas mesmo com redução de pessoal?) e novas tarefas complementares, podendo aumentar a produtividade dos trabalhadores com o auxílio da IA para a realização de suas tarefas.
Esses dois efeitos, tanto o de redução de custos quanto o de complementaridade das tarefas dos trabalhadores devido a maior automação, a consequência macroeconomia é de um ganho de produtividade estimado entre 0,53% e 0,66% em 10 anos. Esse ganho de produtividade tende a gerar mais investimentos que, trariam um ganho de crescimento econômico entre 1,6% e 1,8%. Pode parecer pouco, a princípio, mas apenas 20% da força de trabalho nos Estados Unidos está sujeita ao uso da IA e, além disso, apenas 23% das tarefas podem ser automatizadas com IA. É claro que esses números médios têm grande heterogeneidade, e o efeito de ganho de produtividade pode ser muito maior para algumas empresas em relação a outras.
Sob o ponto de vista de ganho de renda e de redução da desigualdade, apesar da IA trazer aumentos de produtividade, que significa mais crescimento econômico e mais renda, o avanço em relação à redução da desigualdade se mostrou limitado, de acordo com os resultados trazidos no artigo. Os resultados mostram que, quanto mais intensivo é o uso da IA, mais improvável é observar uma queda da desigualdade, mas sim um aumento do gap entre renda do capital e renda do trabalho.
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Essas são as primeiras estimativas dos efeitos macroeconômicos da IA. Se o uso da IA gerar novas tarefas para os trabalhadores, ela pode ter consequências mais benéficas em termos de produtividade, salários e desigualdade e pode até aumentar salários. A jornada da inteligência artificial está apenas começando…