- As ações da Petrobras (PETR4) saltaram 7,2% na última segunda-feira (26), na maior alta intradiária desde agosto de 2022
- O salto de valorização ocorreu na esteira de um novo relatório emitido pelo Morgan Stanley sobre os papéis. A instituição traçou um potencial total de retorno de 60% para os ativos
- O E-Investidor conversou com cinco analistas para entender se essa visão do Morgan Stanley encontra eco nos demais agentes de mercado
As ações da Petrobras (PETR4) saltaram 7,2% na última segunda-feira (26), na maior alta intradiária desde agosto de 2022, segundo levantamento feito por Einar Rivero, da Elos Ayta. O salto na valorização ocorreu na esteira de um novo relatório emitido pelo Morgan Stanley sobre os papéis. No documento, a instituição financeira muda a recomendação de neutra para compra.
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Chamou a atenção o potencial total de retorno estimado com os ativos da petroleira. O banco projeta um ganho de 60%, sendo 37% com a valorização do preço das ações, 16% em pagamentos de dividendos regulares e 7% relacionado a distribuições extraordinárias, que podem chegam ao montante de US$ 7 bilhões até 2025.
O Morgan Stanley reforça ainda que a estatal brasileira possui os melhores ativos petrolíferos offshore do setor, com produtividade incomparável nos poços e baixos custos de Capex (investimentos em bens de capital) e de produção. O principal ponto da tese, entretanto, são os dividendos.
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“O forte perfil de geração de caixa é o principal diferencial da Petrobras em relação aos seus pares, proporcionando financiamento mais do que suficiente para dividendos nos próximos anos”, ressaltam Bruno Montanari, Thiago Casqueiro e Carlos F Moraes, analistas que assinam o documento.
O Morgan Stanley exagerou?
O E-Investidor conversou com cinco analistas de mercado para entender se essa visão do Morgan Stanley encontra eco nos demais agentes. João Abdouni, analista CNPI da Levante Corp, concorda com a direção da análise, mas não com a magnitude. O especialista é mais conservador em relação ao potencial total de alta, que projeta ser de 30% a 40% em uma janela de 28 meses, com um preço-alvo de R$ 42. O Dividend Yield (DY), rendimento do dividendo em relação à ação, também ficaria entre 15% e 20% ao ano.
“O Morgan Stanley acha que a Petrobras, de hoje até o final de dezembro de 2025, vai pagar algo em torno de R$ 200 bilhões de dividendos”, afirma Abdouni. “Já eu imagino que a Petrobras vai pagar algo mais perto de R$ 150 bilhões. Nossas estimativas de geração de caixa operacional no período são mais conservadoras.”
Para o analista da Levante Corp, os investidores devem ficar atentos à alocação de capital da companhia de petróleo nos próximos meses. Isto porque há uma dúvida sobre possíveis novos investimentos da empresa em setores que não trazem um retorno tão atrativo, como fertilizantes, indústria naval e eólica offshore. O aumento do Capex (Capital Expenditure, na sigla em inglês) pode reduzir o pagamento de dividendos. O maior risco entre todos, entretanto, é uma interferência do governo no sentido de inverter a “lógica da petroleira”.
“No governo Dilma Rousseff, a empresa passou, em vez de exportar, a importar petróleo para vender combustível mais barato. O maior risco é esse, mas não é o cenário base. Nos governos Lula, isso não aconteceu”, diz Abdouni.
Alex Carvalho, analista CNPI-T da CM Capital, também tem visão positiva para a companhia, mas não de 60% de potencial de alta. Ele recomenda a compra e traça um preço-alvo de R$ 50 para os papéis, o que significa algo em torno de 26,3% de valorização. “Há um potencial de crescimento exponencial das empresas petrolífera de modo geral, em destaque as líderes do setor e de nossa bolsa, como Petrobras e Prio (PRIO3), que já vêm consolidadas em seus resultados trimestrais e em forte valorização no longo prazo”, diz Carvalho. No entanto, mesmo com a expectativa de demanda alta do petróleo, o avanço tecnológico e as necessidades de energia limpa e renovável são fatores que devem tirar fôlego dos papéis no longo prazo.
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A Ágora possui o mesmo preço-alvo para PETR4, de R$ 50, e tem recomendação de compra. A projeção é de que o DY fique em torno de 12% ao ano. A tese é positiva, também com foco no pagamento de proventos, mas não chega aos 60% de retorno total projetado pelo Morgan Stanley. “A nossa visão construtiva em relação à Petrobras está muito relacionada a capacidade da empresa em continuar gerando muito caixa, entregando resultados saudáveis e distribuindo dividendos na sua atual política, que é uma política de distribuição trimestral”, afirma Ricardo França, analista da Ágora.
A expectativa de França é de que os preços do barril de petróleo, um dos principais fatores que impactam os preços das ações da Petrobras, se mantenham em níveis saudáveis. Isto porque, apesar de uma esperada diminuição da demanda pela commodity nos Estados Unidos pela desaceleração econômica, a restrição de oferta do óleo no Oriente Médio em função dos conflitos na região, deve equilibrar as cotações.
O maior risco para a tese, de acordo com o analista da Ágora, também é a alocação de capital. A casa deve acompanhar de perto as sinalizações sobre as estratégias de alocação, apesar de mudanças bruscas não fazerem, por ora, parte do cenário-base.
“Entendemos que a Petrobras vai continuar investindo majoritariamente na atividade de exploração e produção de petróleo, que é a atividade em que ela consegue extrair o maior nível de rentabilidade para o acionista”, afirma França.
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Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, concorda com uma trajetória positiva dos papéis para os próximos meses, mas compreende que existirão interferências políticas na companhia apesar da governança estar mais forte.
“Temos visto um controle de preços e que a Petrobras fará mais investimentos”, diz Cruz. “Mas ainda vai ser uma empresa lucrativa para o investidor.”
O retorno não vale o risco
Entre os cinco especialistas consultados pela reportagem, apenas Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, possui visão neutra para os papéis. O analista ainda vê um risco relevante, principalmente a partir do ano que vem, de que a petroleira aumente investimentos em setores não-core e pouco lucrativos.
“Eu concordo que, dado o nível de preço do barril de petróleo Brent e do dólar atual, teremos uma excelente geração de caixa ao longo do segundo semestre. Mas existem dúvidas para frente”, diz Arbetman. “Para 2024, não dá tempo da nova gestão colocar ali um capex (investimento) tão grande, mas para 2025 isso pode mudar.”
O novo plano de investimentos da Petrobras para o ano que vem deve ser anunciado entre o final de novembro e o início de dezembro. Por enquanto, a preço-alvo da Ativa para os papéis é de R$ 44, um potencial de alta de 11,22% em relação ao patamar atual, de R$ 39,56, valor de fechamento desta quarta (28).
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“Quando você compara os preços com os pares, os múltiplos da Petrobras seguem abaixo”, diz Arbetman. “O meu ponto é: esse múltiplo é justo por conta do maior risco que a Petrobras tem.”
Até o fechamento da última quarta-feira (28), a Petrobras (PETR4) subia 8,55% no mês e 19,92% no ano.