Publicidade

Mercado

Vale (VALE3) reage com o fim de um dos fatores de risco. Mas qual é o preço justo para a ação?

Analistas apontam desafios que a empresa deve superar para fazer as pazes com o mercado

Vale (VALE3) reage com o fim de um dos fatores de risco. Mas qual é o preço justo para a ação?
Vale (VALE3) (Imagem: Chalabala em Adobe Stock)
O que este conteúdo fez por você?
  • Analistas se preocupam com queda do preço do minério de ferro, desaceleração da China, novo CEO e acordo de Mariana
  • Parte dos analistas estão neutros com a ação, pois dizem que alguns desafios são difíceis de superar
  • Uma segunda ala recomenda compra, pois diz acreditar que papel está barato e os retornos em dividendos serão robustos

O anúncio do novo CEO da Vale (VALE3), Gustavo Pimenta trouxe alívio para o mercado após a tensão de possível interferência política na mineradora com a saída de Eduardo Bartolomeo, programada para dezembro deste ano. Na terça-feira (27), as ações da companhia subiram 3,38%, cotadas a R$ 60,01, oscilando entre a segunda e a terceira alta no Ibovespa ao longo do diaveja aqui os detalhes do pregão.

Trata-se de uma reviravolta considerando o acumulado de 2024 até a sexta-feira (23), período no qual os papéis da empresa recuaram 19,92%. A queda seguiu em linha com a baixa do preço do minério de ferro. A commodity recuou dos US$ 136,37 por tonelada em 29 de dezembro de 2023 para os US$ 98,05 por tonelada no dia 23 de agosto de 2024. Um tombo de 28,1% no acumulado do ano.

No entanto, no pregão de ontem, coincidindo com a data do anúncio do novo CEO da mineradora, os contratos futuros de minério de ferro avançaram para o maior nível em quase três semanas, impulsionados pelo aumento das compra das siderúrgicas na China, o maior consumidor global do metal, à medida que se aproxima o período de alta demanda.

Para se ter uma ideia, o contrato de minério de ferro mais ativo para janeiro na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE), na China, fechou com um aumento de 3,34%, a 758 iuanes (US$ 106,38) por tonelada, alcançando seu valor mais alto desde 7 de agosto. Na Bolsa de Cingapura, o contrato de referência para setembro subiu 1,5%, para US$ 101,75 por tonelada, o maior nível desde 9 de agosto.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Segundo Felipe Moura, analista da Finacap, as duas primeiras décadas do século 21 foram de ouro para o minério, com o seu preço acima dos US$ 200 por tonelada. Isso porque a China manteve o seu crescimento econômico em patamares elevados. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) do país asiático cresceu 11,4% em 2005 e 10,6% em 2010. Ao longo desses anos, o pico de maior crescimento foi o de 14,2% em 2007 e o menor crescimento, de 9,4% em 2009.

Para analistas, com a escolha de Pimenta para o cargo e uma possível melhora nos preços do minério de ferro, a mineradora diminui duas grandes cargas sobre a cotação das ações, deixando a indenização de Mariana (MG) como o principal desafio para a companhia hoje.

Impactos do acordo de Mariana para os dividendos da Vale

O acordo do desastre de Mariana ainda preocupa os investidores. Em 10 de agosto, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou uma carta aberta na qual pede a rejeição da proposta das mineradoras Vale e BHP Billiton, apresentada na Mesa da Repactuação Rio Doce.

Conforme o MAB, as empresas buscam um acordo estimado em aproximadamente R$ 100 bilhões, porém o montante, conforme a entidade, não é suficiente para garantir uma reparação integral a todas as famílias atingidas. A associação estima que o valor relativo ao desastre deveria ser de pelo menos R$ 500 bilhões, quando comparado ao acordo firmado pela Vale na tragédia de Brumadinho.

Em nota enviada ao E-Investidor, a companhia disse que, como uma das acionistas da Samarco, segue engajada no processo de mediação conduzido pelo Tribunal Regional Federal da 6⁠ª Região. A empresa afirma que busca, junto às autoridades envolvidas, estabelecer um acordo que garanta a reparação justa e integral às vítimas e ao meio ambiente.

Publicidade

“A empresa reitera que as tratativas sobre o tema ocorrem exclusivamente no âmbito do processo de mediação, de acordo e em observância aos princípios norteadores desse tipo de método de solução de conflitos, sob a liderança do desembargador responsável pela condução do procedimento. A Vale reafirma seu compromisso com as ações de reparação e compensação relacionadas ao rompimento da barragem de Fundão, da Samarco”, aponta a mineradora.

O pagamento dessa indenização preocupa o mercado pelo fato de que ele pode reduzir os dividendos da Vale. Para os analistas do BTG Pactual, vários cenários estão na mesa, mas a companhia não deve pagar um valor acima do proposto inicialmente. Na visão deles, o máximo que pode acontecer é a empresa ter de aumentar suas provisões em R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões. De modo geral, o BTG vê pouco impacto do acordo nos proventos e calcula um pagamento de 9% do valor de mercado da Vale em dividendos para 2024 e um pagamento de 6,9% do preço da ação em proventos em 2025.

Já João Abdouni, analista da Levante, comenta que a empresa já tem R$ 50 bilhões provisionados em balanço e que o fato de ela querer pagar a quantia ao longo de 10 anos reduz as possibilidades de um grande impacto no balanço da Vale e nos dividendos da mineradora. O especialista estima que a empresa deve pagar cerca de 12% do seu valor de mercado em dividendos para o investidor, com pouco impacto do processo nos proventos.

Enquanto isso, Illan Albertman, analista da Ativa Investimentos, esclarece que é pouco provável que a Vale tenha que pagar os R$ 500 bilhões exigidos pela entidade e o valor tende a ficar o mais próximo da quantia proposta pela empresa. Ele reforça que o governo chegou a pedir R$ 160 bilhões no acordo final, mas isso continua indefinido. O especialista projeta que o montante fique em R$ 140 bilhões, o que não trará impacto para os dividendos.

Já Fernando Marx, do TC, ressalta que se a companhia não tivesse de pagar a indenização o pagamento de dividendos seria mais robusto, com um dividend yield (rendimento de dividendos ) de 12% a 14%. No entanto, o especialista trabalha com o cenário base de pagamento da indenização. Sendo assim, ele diz que a empresa deve pagar cerca de 8% a 10% do seu valor de mercado em dividendos.

Publicidade

A Nord, por sua vez, incorpora o pagamento da indenização em suas estimativas de dividendos para a empresa. O analista comenta que, para 2024 e 2025, a estimativa de dividend yield é de 9% a 10%.

 

Gustavo Pimenta, o novo CEO da mineradora

A Vale anunciou na noite de segunda-feira (26) que seu Conselho de Administração escolheu de forma unânime o atual diretor financeiro, Gustavo Pimenta, para ser o CEO da companhia. Na visão de analistas do mercado financeiro, a escolha foi positiva e diminuiu as incertezas sobre o futuro da mineradora. Pimenta deve assumir o controle da Vale em 1º de janeiro de 2025. O executivo tem uma extensa carreira no setor financeiro, de energia e mineração.

Aanalistas da Ágora Investimentos lembram que a sucessão da Vale domina as manchetes nos últimos meses. No início de março, a Vale anunciou que o Conselho de Administração decidiu estender o mandato atual de Eduardo Bartolomeo (que inicialmente acabaria em setembro) apenas até dezembro, bem como iniciar o processo de sucessão em linha com a sua política. “Vemos o evento como uma redução de risco para a Vale. Destacamos que a incerteza relacionada ao próximo CEO foi uma das principais preocupações entre os investidores, e o anúncio deve ser bem recebido pelo mercado”, dizem Rafael Barcellos, do Bradesco BBI, e Renato Chanes, da Ágora Investimentos, que assinam o relatório em conjunto.

Para os analistas da Genial Investimentos, a decisão reduz as incertezas e os ruídos de possível interferência estatal na companhia. O anúncio estava previsto para maio, mas foi prorrogado em meio às pressões do governo para indicar um nome. Na época, notícias circularam pela imprensa de que o governo Lula queria indicar Guido Mantega para gerir a mineradora. Os analistas apontam que o nome de Gustavo Pimenta deve refletir ventos favoráveis para as ações da Vale, afastando de vez a perspectiva de conectar o governo ao cargo de CEO. Além disso, trata-se de um nome já conhecido na companhia e no setor, não só percebido como uma blindagem contra pressões externas do ponto de vista político.

Na visão de Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, Pimenta é um nome de mercado. O novo presidente da mineradora já trabalhou em auditoria, já foi CFO do Grupo AES. “O mandato de Pimenta tende a ter uma boa relação com o mercado, o que estava sendo algo a desejar pelo mandato do Bartolomeu. A Vale não era muito clara em sua comunicação, o que acabava gerando a sensação da empresa prometer e não entregar. No entanto, vejo que isso deve mudar na gestão do Pimenta”, diz Horta.

Qual é o preço justo das ações VALE3?

As recomendações dos analistas para os papéis da Vale não são unânimes. O BTG Pactual tem recomendação neutra para a empresa. Os especialistas do banco comentam que, de todos os temas abordados, a sucessão é o mais tranquilo e tende a ser feita de forma transparente. A negociação sobre Mariana também parece estar progredindo e eles dizem esperar um resultado melhor do que o mercado está prevendo. No entanto, os analistas dizem haver alguns problemas cruciais para a Vale que podem prejudicar a companhia.

Publicidade

“Notamos algumas melhorias na história de baixo para cima da Vale recentemente, mas preferimos esperar um pouco mais de visibilidade sobre as fontes pendentes antes de mudar de marcha. A história macro da China se deteriorou ultimamente e se tornou um obstáculo adicional para a história de ações. Para o minério de ferro, vemos que a commodity pode ficar entre US$ 110 e US$ 80 por tonelada, o que é complicado para a companhia, principalmente a última faixa de US$ 80, que faz algumas minas da Vale ficarem inviáveis”, dizem Leonardo Correa e Caio Greiner, que assinam o relatório do BTG.

O BTG tem recomendação para VALE3 como neutra, com preço-alvo de US$ 12 para as American Depositary Receipts (ADR, recibos que permitem que investidores consigam comprar nos EUA ações de empresas não americanas) da mineradora em Nova York. O preço equivale a uma potencial alta de 10,2% na comparação com o fechamento de terça-feira (27), quando a ADR encerrou o pregão a US$ 10,89.

André Motta, especialista da Valor Investimentos, também tem essa visão mais neutra para a companhia. Ele comenta que a ação da Vale até está atrativa, justamente pelo preço. Na visão dele, a ação da Vale possui uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 17% e 18%. No entanto, ele diz não considerar o papel como o melhor da Bolsa. “Temos um cenário obscuro em relação ao preço do minério com a desaceleração da China e uma série de outras incertezas que podem fazer com que a empresa não desempenhe esse retorno indicado, o que nos deixa cautelosos com o papel”, argumenta.

Já a Nord Research diz que o investidor deve comprar as ações da Vale. Victor Bueno até concorda que o papel apresenta desafios para o investidor, mas a ação cotada na B3 está tão barata que vale a pena investir no papel. O especialista recomenda a compra com foco nos dividendos de VALE3 e estipula um preço-teto para a ação de R$ 70.

Para reforçar a tese de compra, a Levante também concorda que o papel está atrativo e o preço atual da ação oferece uma boa rentabilidade em dividendos, de cerca de 12% nos próximos 12 meses. Por causa disso, a Levante tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 80 no mesmo horizonte de tempo, uma alta de 33,7% na comparação com o fechamento de terça-feira (27), quando a ação terminou o dia cotada a R$ 59,80.

Publicidade

O analista e sócio do TC comenta que a ação da Vale está atrativa. Segundo ele, de toda forma, a companhia vai continuar suas recompras e pagamento de proventos. "Sim, acredito que seja o caso e que tenha uma boa margem de segurança. Num cenário conservador, em que o minério de fato fique abaixo de US$ 100 por muito tempo, diria que comprar Vale até R$ 65 tenha bastante margem de segurança. Neste contexto, não a teria acima dos R$ 75", argumenta Fernando Marx.

Preço justo do papel da Vale

No consenso dos analistas, as ações da Vale estão no preço que pode ser o justo. A questão é se o investidor vai querer olhar o copo meio cheio ou o copo meio vazio. Caso o perfil seja mais conservador, o ideal é olhar o copo meio vazio, visto que as incertezas apontadas pelo BTG Pactual e pela Valor Investimentos são grandes.

Todavia, o papel pode ser visto como barato para compra com foco nos dividendos. Ou seja, a visão da Nord, Levante e TC não podem ser ignoradas caso o investidor seja arrojado. Nesse sentido, o ideal é olhar o copo meio cheio e comprar as ações da Vale. A visão final a ser tomada, no entanto, depende do perfil de risco do investidor.

*Colaborou Murilo Melo