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Banco Central prevê maior alta do PIB: como isso pode afetar a Selic e os investimentos?

Especialistas discutem se a revisão do PIB para cima deve fazer ou não fazer com que o Banco Central suba a Selic acima do esperado nas próximas reuniões

Banco Central prevê maior alta do PIB: como isso pode afetar a Selic e os investimentos?
Analistas dizem que Banco Central manteve tom duro ao revisar as estimativas para o PIB (Imagem: Adobe Stock)

O Banco Central revisou suas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira de 2,3% para 3,2% após surpresa positiva no resultado do PIB do segundo trimestre. O BC também comentou que o mercado de trabalho segue aquecido com a “menor taxa de desocupação em décadas”. Mas o BC relata haver uma persistência de pressão inflacionária, o que, na visão dos analistas ouvidos pelo E-Investidor, deixa claro o tom duro da autarquia na última ata do Copom sobre a reunião, em 18 de setembro, que subiu a taxa Selic para 10,75% ao ano..

Parte dos especialistas argumenta que a revisão do PIB não deve fazer com que o Banco Central eleve a Selic acima do esperado nas próximas reuniões do Copom. Segundo Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, essa mudança já era esperada, visto que todo o mercado já tinha precificado esse crescimento do PIB maior nos últimos meses.

“Então, quando a precificação para a Selic ao fim de 2024 oscila ao redor de 11,75%, isso acontece pela expectativa de crescimento que o mercado vem calculando. Desse modo, vimos nesta quinta o Banco Central corrigindo a sua estimativa do PIB, mas é algo que já foi feito pelo mercado e que já reflete na estimativa de Selic para o fim do ano”, afirma Abdelmalack.

Rafael Yamano, economista da SulAmérica Investimentos, também diz que essa revisão de crescimento de PIB era esperada. Segundo ele, o ritmo de alta da Selic deve acelerar na próxima reunião, para 0,50 pontos porcentuais, mas isso já era projetado pelo especialista e já estava precificado no mercado de juros futuros.

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O único lugar em que essa alta ainda não aparece é no boletim Focus, que ainda estima uma pequena alta de 0,25 ponto porcentual para a próxima reunião. “Mesmo assim, estimamos que o Copom deve subir a taxa de juros em 0,50 ponto porcentual nas duas reuniões restantes do ano, levando a Selic a 11,75% no final desse ano”, explica Yamano.

Já Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, observa que a revisão do PIB para 3,2% eleva as chances de o Copom adotar uma postura mais rígida. Com o crescimento econômico mais forte, espera-se pressão sobre a inflação. Para ele, isso pode levar o BC a subir a Selic além do esperado para conter os riscos inflacionários.

“O mercado de trabalho aquecido e as pressões inflacionárias persistentes aumentam o risco de o BC ser mais agressivo com a Selic. Essas condições reforçam que a autoridade monetária pode endurecer sua política monetária, contudo, a princípio, não vejo o BC indo muito além das expectativas já traçadas pelo mercado” argumenta Lima.

O analista estima que se o BC for mais duro com a Selic, a taxa tende a terminar 2024 a 11,75% ao ano. Já se a decisão for a que ele estima para a atualidade, a taxa básica de juros da economia deve encerrar 2024 a 11,25% ao ano. Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, também não tem uma expectativa totalmente definida.

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Ela comenta que calculava um juro terminal para 2024 em 11,25%, mas deve seguir a linha do mercado, com uma Selic de 11,75%. “Como nossa estimativa está em processo de mudança, estamos com a Selic para o fim de 2024 em revisão”, salienta a economista da Veedha Investimentos.

Quais serão os impactos do relatório do BC no Ibovespa?

Segundo os analistas, os impactos no principal índice da Bolsa de Valores do Brasil tendem a ser diferentes a depender do período em que o investidor deixar o investimento aplicado.

De acordo com Rafael Yamano, da SulAmérica Investimentos, algumas ações do Ibovespa podem ser impactadas pela perspectiva de uma Selic mais alta e maior por mais tempo, em especial as ações de empresas de menor porte. “No entanto, hoje e nessa semana, as ações estão reagindo mais a eventos externos, em especial a anúncios de políticas de estímulo pelo governo chinês, o que está sendo positivo para os investidores”, diz Yamano.

Lima, da Ouro Preto Investimentos, também concorda que a alta da Selic deve gerar volatilidade no Ibovespa no curto e médio prazo, com queda dos ativos ligados ao consumo. “No longo prazo, um controle mais firme da inflação com um tom mais duro do Copom pode estabilizar o índice, trazer mais credibilidade para investimentos”, explica o analista.

Já a Veedha estima que o Ibovespa deve encerrar o ano cotado a 145 mil pontos, uma alta de 9,71% na comparação com o fechamento de quarta-feira (25), quando o índice encerrou o pregão aos 132.155,76 pontos. Camila Abdelmalack diz que os analistas de sua casa estimam que mesmo com o ciclo de alta de juros, existem outros dois pontos a serem avaliados.

“Um deles é que existem setores que se beneficiam com a alta de juros. Por isso, os investidores devem comprar ações na Bolsa, mas com seletividade. O segundo fator é que os EUA estão em corte de juros e isso favorece os ativos de risco no mercado global com o aumento de liquidez”, esclarece a analista ao comentar o relatório do BC que prevê uma maior alta do PIB.

Projeção maior para o PIB pode respingar no dólar?

Para o dólar, as estimativas são de uma melhora para a moeda brasileira ante a americana. Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, aponta que a moeda tende a encerrar o ano cotada a R$ 5,45, mas ela diz haver possibilidade de a moeda americana cair ainda mais. Isso ocorreria se o BC subisse a Selic para a casa dos 11,75% e se o banco central americano continuasse contando juros lá fora.

“O tom do relatório do Banco Central brasileiro é duro, ele diz que não vai ser leniente com a inflação. Isso faz com que o dólar opere em queda hoje. Claro que há influência do cenário externo, mas o tom duro do Banco Central ajuda o real a se valorizar”, ressalta.

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A SulAmérica Investimentos também diz acreditar que o dólar deve terminar o ano cotado a R$ 5,45. Entretanto, ele discorda de que a revisão do Banco Central para a alta do PIB tenha pesado na moeda hoje. “Os movimentos da taxa de câmbio nos últimos dias e no futuro são ditados pelos termos de troca (afetados bem mais por notícias vindas da China), pela aversão maior ou menor ao risco no mercado global (afetados por notícias vindas dos EUA) e pelas notícias sobre política fiscal brasileira” afirma o especialista.

Em linhas gerais, os analistas apontam que a Selic pode subir, algumas ações da Bolsa devem surfar nessa onda e o dólar tende a encerrar próximo ao patamar atual. Com essas informações, cabe ao investidor decidir o que fazer com o seu patrimônio após a revisão do Banco Central para a alta do PIB.