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“Vamos pagar até 110% do lucro societário em dividendos”, diz diretor financeiro da B3 (B3SA3)

Executivo André Milanez fala sobre como a empresa pretende enfrentar o ciclo de alta de juros, um fator temido pelos analistas do mercado

“Vamos pagar até 110% do lucro societário em dividendos”, diz diretor financeiro da B3 (B3SA3)
André Milanez é o CFO da B3 B3SA3 (Imagem: B3/Divulgação)
  • Diretor financeiro (CFO) da B3 conta como a empresa pretende enfrentar o atual ciclo de alta de juros
  • Executivo conta planos da empresa para explorar a plataforma do desenrola e obter novas receitas com o produto
  • André Milanez relata quanto a empresa pretende pagar em dividendos no próximo ano

As expectativas dos agentes do mercado no começo de 2024 eram muito positivas. O primeiro boletim Focus de 2024 estimava uma inflação de 3,9% e a Selic a 9% ao ano. Isso faria o mercado acionário decolar e traria bons lucros e dividendos para o investidor da B3 (B3SA3). No entanto, esse cenário não se concretizou e o Brasil entrou (de novo) em um ciclo de alta de juros, com previsão dos juros encerrarem o ciclo em 12% ao ano o que, na visão de analistas, pode trazer uma volatilidade extra aos papéis da companhia.

Em meio a esse pessimismo de parte do mercado com as ações da empresa, o E-Investidor conversou com o diretor financeiro (CFO, na sigla em inglês) da B3, André Milanez, sobre o que o investidor pode esperar dos lucros e dividendos da B3

Durante a entrevista, o executivo comentou que espera um crescimento do lucro da empresa e consequentemente bons dividendos para o investidor. “A perspectiva para o mercado de ações não é positiva, mesmo assim, estamos esperando um crescimento do nosso lucro e consequentemente uma boa geração de dividendos para o investidor devido à diversificação de receitas”, afirmou Milanez.

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O executivo explicou como a empresa tem diversificado suas receitas e também falou de planos para novos negócios com a plataforma do Desenrola, o programa de renegociação de dívidas do governo. A B3 desenvolveu a plataforma e, com o fim do programa, procura novas formas para rentabilizar o produto. Confira os principais trechos da entrevista:

E-Investidor — Analistas e investidores estavam animados no começo do ano com a perspectiva de que a empresa conseguiria surfar na queda da taxa básica de juros da economia brasileira. No entanto, o cenário não se confirmou e algumas casas estão com recomendação neutra para a ação da B3. Como a companhia está se preparando para esse ciclo de alta de juros?
André Milanez — De fato, os juros brasileiros não caíram como esperávamos e ele voltou a subir. Isso afeta os nossos negócios, principalmente o negócio de ações. Por outro lado, as transações com ações representam cerca de 25% das receitas da companhia. Sendo assim, temos outros 75% de receitas de outros segmentos, que não são afetados negativamente pelo nível de taxas de juros. Lembrando que temos outras linhas de negócios que vão bem nesse cenário atual, como a renda fixa. O próprio mercado de renda fixa tornou-se um grande financiador das empresas no Brasil. Outro ponto é que o nível da taxa de juros fora do Brasil é mais importante que o nível da taxa de juros local. Então, mesmo com este cenário de juros, pode ser que tenhamos alguma melhoria no sentimento com relação ao mercado de ações por conta do que está acontecendo fora do Brasil.

A questão fiscal pode ser um dos fatores para a queda de juros no Brasil. A B3 está descontente com essa questão?
Não nos parece que as medidas que têm sido tomadas até agora nos levem a um descontrole das contas públicas ou dos gastos públicos. Todavia, vejo que algumas sinalizações dadas pelo governo ao longo do ano fazem com que os agentes de mercado tenham um pouco mais de receio sobre a condução da política fiscal. Por essa razão, esses pontos acabam exigindo um prêmio maior, que se reflete em juros maiores para o investidor aceitar correr esses riscos. No entanto, não me parece que estamos em um cenário de deterioração da política fiscal. Sempre há uma série de incertezas, mas as medidas tomadas até aqui não nos levam para um cenário de descontrole das contas públicas e abrem espaço, sim, para os juros poderem cair novamente.

Os juros elevados podem reduzir o lucro e os dividendos da B3 para o investidor?
A perspectiva para o mercado de ações não é positiva, mas podemos ter algumas melhorias, dependendo do fluxo de investidores estrangeiros. De modo geral, a empresa voltou a crescer após um longo período de estagnação. Por conta disso, estamos esperando um crescimento do nosso lucro e consequentemente uma boa geração de dividendos para o investidor devido à diversificação de receitas. Nossa projeção de distribuição de resultados é pagar de 90% a 110% do lucro líquido societário via dividendos, juros sobre o capital próprio e compra de ações. Olhando nossas estimativas de crescimento de lucro, vejo que isso se mantém.

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Vocês enxergam a Bolsa do Rio de Janeiro anunciada neste ano como uma potencial concorrente?
Nós já vivemos em um ambiente extremamente competitivo com o mercado internacional, visto que se uma empresa brasileira decide abrir capital lá fora e não aqui, e se o investidor decide negociar um ativo fora do Brasil, estamos perdendo esse fluxo. Por isso, consideramos isso uma competição. Então, não é novidade para a B3 ter concorrência. No entanto, mesmo que a outra Bolsa tenha sido aprovada, ela de fato não está pronta para funcionar. Então, ainda é muito prematuro dar qualquer resposta direta. Nosso foco é garantir que estamos atendendo de maneira adequada todas as demandas dos nossos clientes, o que tende a tornar a vida de um novo entrante mais difícil.

Quais foram os erros e acertos da plataforma do Desenrola?
No começo do ano, a plataforma apareceu nas nossas despesas e isso chamou a atenção do mercado pelo fato de nossas despesas serem muito menores que as nossas receitas. Entretanto, vejo que tivemos um resultado positivo com esse projeto. O programa foi algo rentável para a empresa em alguma medida, mas acho que o principal ganho foi ter uma plataforma robusta.

O que vocês pretendem fazer com a plataforma?
O grande desafio nosso agora é achar outros usos e outras aplicações para este projeto. Poderíamos usar a plataforma para as instituições financeiras renegociarem as dívidas de seus clientes. Na esfera pública, o programa poderia ser utilizado para a renegociação de dívidas dos Estados e Municípios. Temos uma agenda de diversificação de receitas com esse e outros produtos.

Quais seriam esses outros produtos?
Lançamos recentemente o futuro do bitcoin, que tem sido bem aceito pelos investidores. A gente vê espaço para avançar na agenda de produtos que têm apelo pelo investidor pessoa física, como a própria renda fixa também. Não tem uma balada de prata, mas sim várias iniciativas para melhorar ainda as receitas da B3 (B3SA3).

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