- Os fundos atingiram o patrimônio líquido recorde de R$ 6 trilhões em 2020. A captação líquida no período foi de R$ 156,3 bilhões
- Fundos de multimercado e de ações foram os destaques do ano, com saldo positivo de R$ 97,5 bi e R$ 69,3 bi, respectivamente
- A Selic na mínima histórica, 2% ao ano, impulsionou os produtos e 2021 deve ser mais um ano positivo para os fundos
A indústria brasileira de fundos de investimentos encerrou 2020 com um patamar recorde de R$ 6 trilhões de patrimônio líquido e mais de 24 milhões de contas ativas, a maior entrada de investidores no setor, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima).
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Os resultados robustos colocaram o Brasil na 11ª posição entre as maiores indústrias de fundos do mundo, de acordo com a Associação Internacional de Fundos de Investimento (IIFA).
Considerando a captação líquida (diferença entre as aplicações e os resgates), o saldo de 2020 foi R$ 156,4 bi. Entre as diferentes classes de fundos, as que lideraram as captações foram os fundos multimercado (R$ 97,5 bi) e de ações (R$ 69,3 bi). Juntos, os fundos captaram mais de R$ 166,8 bilhões.
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A diferença entre os saldos acontece pela variação negativa dos outros tipos de fundos, como o de renda fixa. Os fundos de títulos públicos e privados, por exemplo, tiveram saldo negativo em 2020, com resgates somando R$ 41,2 bi.
Os fundos multimercado e de ações também estão entre principais os responsáveis pelo aumento de contas abertas no ano. Em 2020, as contas nas modalidades cresceram 1.144.481 e 641.190, respectivamente – números menores apenas do que os fundos imobiliários (FIIs), que registraram 1.475.754 novas contas.
“Mesmo com os efeitos da crise, a indústria de fundos se mostrou resiliente, teve uma rápida e consistente retomada e entregou ótimos resultados”, disse Carlos André, vice-presidente da Anbima, em coletiva de imprensa na terça-feira (12).
Selic a 2% impulsionou os fundos multimercado e de ações
Como a Selic estabeleceu um novo piso histórico em 2020, de 2% ao ano, os investimentos em renda fixa foram desestimulados. Isso porque a rentabilidade real de algumas aplicações, como a poupança, passou a entrar no campo negativo.
Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos, dá o exemplo de um investimento ou um fundo comercializado com rentabilidade 200% acima do CDI. Segundo ele, descontado o Imposto de Renda (IR) e a inflação, a pessoa perde poder de compra em vez de ganhar. “A rentabilidade nominal é muito boa, mas, na realidade, é um retorno real negativo, pois o valor perde para a inflação”, diz Musa.
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Para driblar a situação, os investidores se viram obrigados a buscar outros produtos e aumentar a exposição ao risco para manter suas aplicações gerando ganhos reais na carteira.
“Aconteceu um movimento natural de mudança nos portfólios. E uma das formas de conseguir um retorno melhor foi aplicar em fundos multimercado e de ações”, afirma Adriano Germenink, analista do time de estratégia da Ágora Investimentos.
Movimento deve continuar em 2021
Para os especialistas, o movimento de entrada no mercado de fundos, principalmente nos de multimercado e de ações, deve continuar forte em 2021, uma vez que a perspectiva é de que a Selic continue em um patamar baixo neste ano, ainda perdendo para a inflação.
De acordo com o último Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (11), a projeção do mercado financeiro é de que a Selic em 2021 fique em 3,25% a.a e a inflação em 3,34%. Ou seja, a atratividade da renda fixa deve continuar baixa e os investidores continuarão buscando por opções mais rentáveis.
“O cenário de 2020 da renda fixa vai se repetir esse ano”, diz o sócio da Acqua, lembrando que em um passado não muito distante a taxa básica de juros brasileira estava em mais de 10% a.a.
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O vice-presidente da Anbima também crê no aumento da captação e da rentabilidade dos fundos em 2021 e afirma que o cenário para este ano é ainda mais positivo. “Nós enxergamos a trajetória com bons olhos. É Ainda existem alguns fatores de incertezas importantes, mas as perspectivas são melhores para este ano”, comentou Carlos André.
Amplo mercado
Apesar do destaque dos fundos multimercado e de ações, os especialistas alertam que eles são indicados para investidores mais arrojados, por serem produtos com mais riscos e volatilidade maior.
O investidor deve ter consciência sobre a aplicação, respeitar o seu perfil para não correr riscos desnecessários e deve aproveitar do amplo mercado de fundos para escolher aquele que faz mais sentido com a sua atual estratégia.
“Os fundos são indicados para qualquer investidor, pois existem tipos para o perfil ultraconservador até o outro lado do espectro”, afirma Mário Avelar, superintendente de produtos da Ágora Investimentos, salientando que há fundos cambiais, de ETFs, de previdência e entre outros.
Veja os fundos multimercados e de ações mais rentáveis de 2020
Fundos multimercados | Rentabilidade* |
BTG Pactual Ouro Usd FI Mult | 53,32% |
Trend Ouro Dolar FI Mult | 53,26% |
Trend Bolsa Americana Dolar FI Mult | 50,73% |
Orama Ouro FI Mult | 49,34% |
Vitreo Ouro Fc de FI Mult | 49,32% |
Versa Fit Long Biased FI Mult | 48,90% |
Truxt Long Bias Advisory Fc Mult | 44,40% |
Hashdex Criptoatia Discovery FICFI Mult | 40,13% |
Trend Tecnologia FI Mult | 37,38% |
Versa Tracker FI Mult | 25,91% |
–
Fundos de ações | Rentabilidade* |
Ms Global Opportunities Adv Fc FIA Ie | 91,31% |
Western Asset FIA Bdr Nivel I | 66,02% |
Safra Consumo Americano Fc FIA Bdr Nivel | 42,96% |
Axa Wf Fr Dig Econ Adv Fc FIA Ie | 42,77% |
Warren Green FIA Bdr Nivel I | 41,32% |
Ip Partici Ipg Fc FIA-Bdr Nivel I | 27,59% |
Constellation Inst Adv Fc FIA | 17,69% |
Safra Arquimedes FIA Bdr Nivel I | 17,12% |
Safra Faraday Acoes Fc FIA | 16,11% |
*Até o dia 31 de dezembro de 2020 / Fonte: Economatica
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