- Plano de reorganização estrutural do Banco do Brasil não agradou o presidente Jair Bolsonaro
- Interferências do governo nas estatais prejudicam a governança das empresas. "No passado você tinha o governo ditando o preço da gasolina, agora o tem ditando se uma agência de banco pode ou não ser fechada", diz Rafael Paschoarelli
A quinta-feira, 14, terminou com uma reviravolta no Banco do Brasil (BBAS3): André Brandão deve continuar como presidente da instituição financeira. A decisão aconteceu menos de 24 horas após o presidente da República, Jair Bolsonaro, ter demitido Brandão em razão do plano de reorganização do BB. O mercado financeiro esticou os olhos para a intervenção e puniu a ação do banco estatal, que recuou 4,94% na quarta, 13, dia em que o Ibovespa caiu 1,67% – na quinta mais uma queda de 0,24% ante alta de 1,27% do principal índice da B3.
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“Independentemente de André Brandão continuar ou não no governo, toda essa situação conturbada é muito negativa para o Banco do Brasil e suas ações”, afirma Leo Monteiro, analista da Ativa Investimentos. “O que aconteceu deixou bem claro que o presidente do BB não tem autonomia suficiente para exercer qualquer projeto e sempre terá de passar por essa questão política.”
O plano de reorganização estrutural, que busca aumentar a eficiência operacional da instituição financeira, prevendo uma economia de até R$ 2,7 bilhões até 2025, havia agradado os especialistas. O Goldman Sachs, por exemplo, reiterou a recomendação de compra para os papéis BBAS3 e projetou uma valorização de 9% na ação.
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Mas Bolsonaro não gostou de saber via mensagens de WhatsApp de aliados políticos sobre a expectativa de desligamento de 5 mil funcionários por meio do programa de demissão, além do fechamento de 361 unidades (112 agências, sete escritórios e 242 postos de atendimento), como mostrou o Estadão. Essa decisão mexeu, também, com o FII BBPO11, que detém 64 agências do BB pelo Brasil, vem sofrendo desde o comunicado do plano de reorganização e apresenta recuo de 5,7%.
“Questões que aparentemente tocam o controle nacional e simbolicamente o nacionalismo brasileiro certamente não terão apoio do Bolsonaro. Não é a primeira vez que o presidente faz declarações ou toma atitudes que contrariam a equipe econômica. Isso confirma a limitação prática dos planos de Guedes”, diz Gilberto Braga, economista do Ibmec-RJ.
O episódio da possível demissão de André Brandão é só mais um caso de desgaste entre o Presidente da República e o ministro da Economia, Paulo Guedes. A novela entre os dois já causou o desligamento de vários integrantes da equipe econômica, como Salim Mattar, ex-secretário especial das Desestatizações, o ex-secretário especial da Desburocratização, Paulo Uebel, e o ex-secretário da Receita, Marcos Cintra.
“Esse evento foi só para relembrar que o governo, como controlador de estatal, não visa o aumento de valor para o acionista”, diz Rafael Paschoarelli, professor de finanças no Insper, fundador da plataforma ComDinheiro e colunista do E-Investidor. “No final das contas, os acionistas minoritários são os mais prejudicados, porque o controlador não toma a decisão com o objetivo de maximizar o valor da empresa, e sim outros interesses.”
Impacto nas demais estatais
O risco político nas estatais está bastante presente na memória do investidor. A ex-presidente Dilma Rousseff prejudicou os investidores minoritários da Eletrobras (ELET6) quando interveio no setor elétrico e da Petrobras (PETR4) quando decidiu mudar a política de preços dos combustíveis.
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Para os especialistas, isso tem um preço. Tanto as ações do Banco do Brasil com as das demais estatais são negociadas a um valuation muito mais baixo que seus pares, principalmente o BB. “Não significa que ele é pior que os outros bancos, mas o mercado já precifica o risco de gestão ali dentro”, diz Monteiro.
Paschoarelli reforça dizendo que o investidor tem de ter ciência de que essas interferências afetam o valor das ações das estatais e esse efeito já está precificado. “Isso se reflete no preço sobre o lucro. O P/L do Banco do Brasil é muito menor que o dos outros bancos, ou seja, é um papel negociado com desconto. Essas interferências afetam muito as estatais”, afirma o especialista.
No cálculo do preço sobre o lucro de uma ação, verificamos se um papel está valorizado ou desvalorizado. O P/L do Banco do Brasil está na faixa de 7,14. Em contrapartida, Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) apresentam 19,82, 14,77 e 10,96, respectivamente.
A postura de Bolsonaro deve mexer muito mais na valorização das ações do banco do que na desvalorização. Por isso, a questão, agora, não é mais saber se a economia feita por meio do plano de reorganização do BB acontecerá, e sim se vai existir sinalização de que as interferências do governo irão ocorrer e prejudicar a governança das estatais.
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“No passado você tinha o governo ditando o preço da gasolina, agora o tem ditando se a agência pode ou não ser fechada”, diz Paschoarelli.