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Dúvida em decisão de Dias Toffoli, do STF, põe novo personagem na briga pelo “último tesouro” de Eike Batista

Concorrentes disputam espólio de R$ 612 milhões da antiga mineradora MMX; reportagem procurou as defesas dos envolvidos, mas não obteve retorno

Dúvida em decisão de Dias Toffoli, do STF, põe novo personagem na briga pelo “último tesouro” de Eike Batista
Eike Batista. Foto: Andre Dusek/Estadão
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  • Em junho de 2021, a Associação Brasileira de Investidores (Abradin) descobriu que Eike Batista tinha debêntures avaliadas em R$ 612 milhões, “escondidas” debaixo de uma estrutura de três camadas de fundos de investimentos
  • Os títulos passaram a ser alvo de disputa. No dia 17 de dezembro, uma decisão judicial definiu que o fundo Itaipava, do ex-diretor do grupo EBX, Paulo Gouvea, teria a prioridade na compra dos ativos
  • Contudo, para assegurar o direito de preferência sobre as debêntures, o Itaipava teria um prazo de cinco dias após a decisão para depositar R$ 612 milhões na conta judicial. Vencido este prazo, a Orion, que teria prioridade na compra do ativo em caso de desistência do Itaipava, tenta garantir a posse dos ativos. Entenda a disputa

Em junho de 2021, a Associação Brasileira de Investidores (Abradin) descobriu que Eike Batista tinha debêntures avaliadas em R$ 612 milhões “escondidas” debaixo de uma estrutura de três camadas de fundos de investimentos. A revelação chamou a atenção, já que o ativo poderia ajudar a pagar os credores da da MMX, mineradora que fazia parte do grupo EBX, de Batista, e que teve a falência decretada em maio daquele ano.

O E-Investidor tentou procurar a defesa de Eike Batista, mas não obteve sucesso. O espaço está aberto a manifestações.

Os títulos haviam sido adquiridos pelo ex-bilionário em meados de 2008 como parte do pagamento feito pela mineradora britânica Anglo American pelo complexo Minas-Rio, que pertencia à MMX. É considerado o “último bem” valioso na carteira do empresário, condenado por crimes contra o mercado de capitais. Isto porque o detentor dessas debêntures terá direito a pagamentos mensais atreladas ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) do Minas-Rio, no período entre março de 2025 a fevereiro de 2050. O processo está sendo discutido no Supremo Tribunal Federal (STF) desde o ano passado.

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No dia 17 de dezembro, como citamos em primeira mão nesta reportagem, uma decisão proferida pelo ministro Dias Toffoli concedeu ao fundo Itaipava o “direito de preferência” sobre esses títulos de dívida. O que significa que o veículo teria prioridade na compra do ativo, que chegou a ir a leilão em 2022 e receber ofertas de players como XP e BTG Pactual (BPAC11), mas que não teve as propostas concluídas. Para exercer esse direito, era necessário que o fundo depositasse o valor das debêntures em uma conta judicial no prazo de cinco dias. A decisão não especifica se dias úteis ou corridos – no caso da segunda alternativa, o período teria se esgotado na última segunda-feira (23).

O Itaipava possui como único cotista o executivo Paulo Gouvea, ex-diretor da EBX, de acordo com a Abradin, que tenta reverter a decisão de Toffoli na Justiça. O fundo chegou a publicar uma ata de assembleia em que aprovava a emissão de R$ 613 milhões em cotas logo após a decisão judicial, mas nos documentos do veículo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), não há efetivação deste montante nos registros de patrimônio líquido do produto.

A defesa de Eike Batista vê com preocupação esse movimento. Para o corpo jurídico do ex-magnata da Bolsa, fazer uma emissão de cotas para comprar as debêntures equivale a terceirizar o direito de preferência dado ao fundo Itaipava para o BTG Pactual, administrador do veículo que fará a capitalização. “O BTG capitalizará o fundo para comprar o direito de opção do Itaipava FIM para a compra do ativo. Veja-se: na prática, esta a se realizar um novo leilão da debênture, mas sem ampla concorrência e com valor previamente fixado, para privilegiar-se unicamente um banco privado em prejuízo da economia pública”, dizem os advogados, no documento obtido pelo E-Investidor.

Também há questionamentos sobre o valor atribuído às debêntures, de R$ 612 milhões. O montante foi classificado por Batista, no documento, como “preço de banana” frente ao retorno que o detentor desses títulos terá no longo prazo. “O ativo renderá, apenas nos exercícios de 2025 e 2026, US$ 42.1 milhões por ano. Isto é, US$ 84 milhões de dólares, que corresponde a cerca de meio bilhão de reais – remuneração que vai se elevando até alcançar a cifra US$ 73.7 milhões em 2030, valor anual a ser recebido até 2049. São 25 anos de percepção de bilhões de reais”, afirma a defesa. “Podemos afirmar que o ativo está sendo alienado por menos de um décimo do seu valor total”, diz. A União, sustenta a defesa do empresário, seria a maior prejudicada se as debêntures ficassem nas mãos de entes privados, já que perderia o acesso a tal remuneração.

Um novo personagem no espólio de Eike Batista

De qualquer forma, agora a Orion (antiga corretora Argenta Securities), que ganharia o direito de preferência sobre as debêntures em caso de desistência do fundo Itaipava, solicita na Justiça acesso aos autos do processo. Isto porque a Orion busca confirmar se o Itaipava realizou ou não o depósito judicial, uma vez que a emissão de cotas foi aprovada pelo Itaipava FIM, mas não há a confirmação ainda de que o valor foi levantado ou depositado na conta. Caso, de fato, Gouvea tenha desistido das debêntures, a Orion teria apenas cinco dias a partir do fim do prazo dado ao Itaipava para realizar o depósito de R$ 612 milhões e assegurar a posse dos títulos de dívida.

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Entretanto, até mesmo o fim do prazo dado ao Itaipava é incerto, já que não há especificação, na decisão de Dias Toffolli, se são úteis ou corridos. A reportagem tentou contatar a defesa da Orion e do fundo Itaipava. Até a publicação desta matéria, as solicitações não foram retornadas.

“A Orion vem tomando todas as providências possíveis para garantir que o depósito será realizado, se lhe for oportunizado, nos exatos termos e com a agilidade requerida pela decisão”, diz a Orion na petição, obtida pelo E-Investidor. “O fato é, que (…) a ausência de certeza acerca do início – e, consequentemente, do encerramento – do prazo para depósito tem o condão de ameaçar o exercício do direito concedido à Orion.”

Nos anos 2000, Eike Batista era um dos executivos mais famosos e ricos do País e possuía, sob suas asas, uma série de empresas ligadas a commodities. Entre elas, a mineradora MMX e a petroleira OGX, as companhias mais famosas. Contudo, as promessas de crescimento e sucesso feitas pelo empresário em relação a essas companhias nunca se concretizaram e os escândalos de corrupção abalaram a credibilidade de Batista. Logo, o império EBX se despedaçou, deixando um rastro de prejuízos a investidores e credores.