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Com suspeita de insider, como fica a carteira de quem investe em Petro

Estatal enfrenta interferência política, suspeita de insider trading e saída de conselheiros

Com suspeita de insider, como fica a carteira de quem investe em Petro
Tanques de combustíveis da Petrobras (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
  • O risco da ingerência política é um fantasma que assombra as estatais há décadas
  • Em poucas semanas, a Petro teve mudanças significativas na governança, com a possível troca do presidente e conselheiros indicados pelo Governo
  • Com o clima de incerteza, especialistas divergem sobre a recomendação para os papéis

O risco da ingerência política é um fantasma que assombra as estatais há décadas. No caso da Petrobras, criada em 1953 sob o slogan protecionista ‘O Petróleo é Nosso’, a ameaça da influência do governo é ainda mais latente. Em meados de 2005, a companhia passou pelo ‘Petrolão’, um esquema bilionário de corrupção na petrolífera, que envolvia partidos políticos, funcionários e empreiteiras.

Fora do âmbito criminal, a estatal também já foi usada para segurar a inflação durante o governo Dilma Rousseff. Isso significa que por estratégia da União, os preços praticados internacionalmente não eram repassados pela Petrobras ao País, acionista majoritário da companhia.

O resultado foi o alto endividamento e prejuízos bilionários, divididos, claro, com quem tinha PETR na carteira. Toda essa experiência faz com que o mercado fique muito estressado a cada vez que um governo, seja ele qual for, sinalize algum tipo de interferência na empresa, ou pior: na política de preços vigente desde 2017, que segue a cotação do petróleo e flutuação do dólar.

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“Desde o momento em que a União Federal deixou clara a intenção da não-recondução do presidente de estatal, Roberto Castello Branco, e a sua substituição pelo General Silva e Luna, isso criou motivos para que os investidores se preocupassem a respeito da continuidade do plano estratégico que está em curso na Petrobras”, afirma Ricardo Schweitzer, sócio-fundador da Nord Research, casa de análise independente.

O anúncio da demissão de Castello Branco e a indicação de Silva e Luna foi feita pelo próprio presidente Jair Bolsonaro em 19 de fevereiro, nas redes sociais. O motivo para a troca seria a insatisfação do chefe do executivo com o aumento dos combustíveis, que atinge principalmente os caminhoneiros, que formam uma base de apoio importante do Governo. Em 2021, o diesel e a gasolina acumulam altas de 41,6% e 33,9%, respectivamente.

No dia 22 de fevereiro, primeiro pregão após a notícia, os papéis PETR caíram cerca de 20% no pregão. “A sensação que fica para os investidores é que o governo quer utilizar a empresa para fazer política econômica. As questões relacionadas aos caminhoneiros, o impacto dos combustíveis na inflação, ou qualquer outra coisa do gênero, não são responsabilidades dos acionistas da Petrobras – que é uma companhia, não um ministério”, afirma Schweitzer.

Contudo, os acontecimentos não pararam por aí. Na última quarta-feira (3), a Abradin, associação que reúne acionistas minoritários, foi à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pedir a investigação em operações suspeitas com ativos da Petrobras. A acusação é de que um investidor teria lucrado 18 milhões com insider trading (informações privilegiadas), ao apostar na queda das ações da Petrobras antes que a saída de Castello Branco fosse divulgada.

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Para completar a sequência de acontecimentos, quatro conselheiros administrativos da Petrobras, João Cox Neto, Nivio Ziviani, Paulo Cesar de Souza e Silva e Omar Carneiro da Cunha, anunciaram que deixariam os cargos na quinta (3).

“Existe uma forte ligação entre a interferência política e a saída dos conselheiros. Isso mostra um desconforto com a possibilidade de mudanças, um sentimento de ruptura com os processos que estavam sendo levados na gestão Castello Branco”, diz Ilan Arbetman, analista de Ativa Investimentos.

Foi durante a gestão de Castello Branco, por exemplo, que a estatal teve o maior lucro trimestral da história das empresas de capital aberto brasileiras, de R$ 59,9 bilhões, entre setembro e dezembro de 2020.

“Ele estava fazendo um papel muito bom, não só pelos resultados, mas pelos projetos de médio e longo prazo. Isso traz muitas incertezas uma vez que não só o presidente mudará, mas outros conselheiros indicados pelo governo. O mercado fica sem saber para onde a empresa irá”, diz André Pimentel, Sócio da Performa Partner. “Os prejuízos já causados pela forma como essa situação está sendo conduzida, pode levar a ações judiciais dos acionistas em cima da empresa.”

O que fazer com os papéis

Os especialistas consultados pelo E-Investidor divergem sobre as recomendações para os papéis de Petrobras. A Nord Research, por exemplo, recomenda a venda das ações. Segundo Schweitzer, independentemente do eventual currículo do Silva e Luna, o risco já se tornou grande demais.

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“Provavelmente é alguém alinhado com o atual discurso do presidente, de que a Petrobras tem que ser usada para resolver problemas de ordem política. Existem preocupações legítimas com a governança da empresa nesse momento, que podem se traduzir em prejuízos materiais”, afirma o especialista. “Se você obriga uma companhia a praticar preços no mercado doméstico que são incompatíveis com os custos, isso se traduz em destruição de valor.”

Essa também é a visão de Henrique Estéter, analista da Guide Investimentos. “Se os conselheiros indicados pela União renunciaram, e demonstram preocupação, imagina o pequeno investidor que tem Petrobras na carteira? Nossa recomendação é trocar a exposição da estatal para a PetroRio”, diz. A casa tem agora uma visão neutra para a PETR.

Já na opinião de Arbetman, o clima é de cautela. “Os próximos capítulos serão fundamentais para entendermos para onde vai a Petrobras. Precisamos saber quem serão os substitutos para os conselheiros e se Silva e Luna realmente ficará no cargo”, diz. “É complicado agir no calor do momento. É necessário saber se haverá continuidade das políticas praticadas hoje pela estatal. Ainda não temos clareza.”

 

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