- Em um cenário com a Selic a 2,75% ao ano, ainda estaríamos falando de juros extremamente baixos para os patamares que a economia brasileira está acostumada
- A ansiedade talvez decorra do fato de estarmos discutindo a primeira elevação em praticamente 6 anos
A decisão do Copom mal foi divulgada e já começaram a pipocar nas redes sociais questionamentos como:
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“Será que é hora de reduzir a sua exposição à renda variável?”
“Sua carteira de ações está preparada para a alta da Selic?”
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Curiosamente, os agitadores desse tipo de temática são os mesmos que lá no final de 2019 decretaram a ‘morte’ da renda fixa, quando a Selic ainda estava na casa dos 4,5% ao ano (a.a.). Fiquei impressionada como meros 0,75 ponto percentual (p.p.) impactou os investidores e sua fé antes inabalável no longo prazo.
Toda essa agitação só corrobora com o que temos dito por aqui: acreditamos que o ‘longo prazo’ dessa horda de novos investidores da Bolsa não será tão longo assim. Que seja eterno enquanto dure… na primeira oportunidade muitos retornarão ao conforto da perda fixa. De qualquer forma é importante não nos desviarmos aqui e entendermos como esse novo ciclo pode influenciar a sua decisão de investimento.
Em um cenário com a Selic a 2,75% a.a., ainda estaríamos falando de juros extremamente baixos para os patamares que a economia brasileira está acostumada. A ansiedade talvez decorra do fato de estarmos discutindo a primeira elevação em praticamente 6 anos. Mas mesmo assim, a pressão inflacionária recente vinda do aumento dos insumos e do dólar, já dava sinais do que estava por vir.
De uma maneira simplificada, o nível geral de preços das ações se altera a cada movimento dos juros. Isto, porque no modelo tradicional de precificação de ativos, a taxa de desconto que trará os fluxos de caixa a valor presente terá influência direta do custo de capital das empresas e da taxa livre de risco utilizada.
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Em resumo, quanto menor a taxa básica de juros, menor será a taxa de desconto e consequentemente maiores serão os valores justos encontrados para as empresas. Particularmente, entendo que o mercado já se antecipou a esse ajuste na Selic e apenas uma decisão muito fora do consenso poderia abalar mais profundamente as expectativas do mercado.
Aqui podemos chegar à duas pistas importantes sobre quem seriam os mais afetados pelo cenário que está se delineando em nossa política monetária:
a) Empresas com boa parte de seu valor na perpetuidade, ou seja, de crescimento;
b) Empresas de endividamento elevado e com parcela grande de seus custos de dívida pós-fixada e atrelada a Selic. Destaque principalmente para locadoras de veículos, infraestrutura, shopping centers e varejo.
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De maneira geral, então, os adeptos do asset allocation tradicional tem um bom argumento para defender de tempos em tempos a redução à exposição em renda variável. No entanto, já tivemos diversas oportunidades nesta coluna de demonstrar que pensamos portfólio muito diferente do que a maioria dos gestores estão acostumados a propagar.
No Jeito Barsi de Investir a taxa de juros tem pouca ou nenhuma influência na parcela que a renda variável ocupará no mix das nossas carteiras. Nenhum pilar fundamental da estratégia de carteira previdenciária, na verdade, sofre alterações (nem mesmo nosso parâmetro de 6% a.a no mínimo em proventos).
O que muda, então?
Pura e simplesmente as oportunidades que encontraremos ao longo do caminho, de acordo com os diferentes ciclos econômicos. Ao contrário da renda fixa, dificilmente o mercado de capitais deixará o verdadeiro investidor de longo prazo órfão de boas empresas, que paguem bons dividendos, a bons preços.