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- É praticamente consenso que, tirando os grandes investidores, como gestores de fundos de investimento, não parece haver ninguém que tenha acreditado na tese de Luiza Helena Trajano sobre o futuro da rede varejista no fim de abril de 2011
- Entre abril de 2011 e dezembro de 2015, o MGLU3 acumulou uma perda de 93,52%. Sim, parece impossível pensar que a Magalu quase virou pó antes de acumular a impressionante valorização. Depois, a ação subiu 81.030%
A ação da Magazine Luiza ocupa o imaginário de todos os investidores da bolsa de valores. Não há quem não pense na riqueza que teria alcançado caso tivesse comprado o papel MGLU3 em vez de usar o dinheiro em algum gasto supérfluo. Nos últimos cinco anos, o valor de mercado da rede varejista aumentou 700 vezes (a empresa vale, hoje, R$ 157,2 bilhões). O problema é que o pequeno investidor tem pressa. E essa impaciência leva à venda do ativo antes daquilo que os especialistas chamam de maturidade, ou seja, que a estratégia dos executivos da companhia gerem os resultados nos negócios que vão se refletir no valor da ação.
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É praticamente consenso que, tirando os grandes investidores, como gestores de fundos de investimento, não parece haver ninguém que tenha acreditado na tese de Luiza Helena Trajano sobre o futuro da rede varejista no fim de abril de 2011, quando a Magalu concluiu a sua abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) na bolsa de valores. Até que o E-Investidor recebeu o seguinte e-mail de uma leitora: “Eu comprei ações da Magazine Luiza na estreia na bolsa”.
Uma mensagem como essa é poderosa. Ela reforça a importância de tudo aquilo que os educadores financeiros falam sobre o processo de investir bem: ninguém consegue multiplicar o dinheiro do dia para a noite e é preciso acreditar no longo prazo para que os juros compostos trabalhem a seu favor. Mas será que essa pessoa, que está há quase 10 anos com as ações da Magazine Luiza na carteira, não esqueceu de vender?
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“Eu não conjugo o verbo vender. Claro, Paranapanema, Telebrás e outras ações eu me desfiz. Mas invisto para o longo prazo”, diz Laís Salles Freire, 69 anos, advogada aposentada e investidora ativista. “A Magalu eu comprei porque a dona e presidente, na ocasião, era uma mulher. Simples assim.”
Laís Freire adquiriu 446 ações da Magazine Luiza no IPO, uma quantidade que foi aumentando ao longo dos anos. De acordo com levantamento da Economática, quem investiu R$ 1 no início da negociação das ações da empresa na bolsa teria R$ 5.155,52 até a quinta-feira, 26, considerando o reinvestimento de todos os proventos, em comparação a R$ 66,68 se tivesse escolhido o Ibovespa e R$ 129,78, o CDI.
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“É cada vez mais raro encontrar investidores que entram num projeto e continuam parceiros da empresa para usufruir dos resultados no longo prazo”, diz a economista Louise Barsi, criadora do Ações Garantem o Futuro e filha de Luiz Barsi, o mais bem-sucedido investidor individual no Brasil. “Independentemente da estratégia que a pessoa siga, os grandes ganhos sempre ficam no tempo de espera e não na troca de papéis e na especulação.”
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Essa determinação da investidora chama a atenção porque o comportamento das ações da Magalu não foi de alta nos primeiros anos em que o papel esteve em circulação no mercado. Entre abril de 2011 e dezembro de 2015, o MGLU3 acumulou uma perda de 93,52%. Sim, parece impossível pensar que a Magalu quase virou pó antes de acumular a impressionante valorização de 81.030% entre 14 dezembro de 2015 e 26 de novembro de 2020.
“Passamos seis meses namorando a empresa, fomos várias vezes lá e o que os executivos falavam para nós, acontecia”, diz Henrique Bredda, sócio da Alaska Asset Management, a gestora que, em dezembro de 2015, adquiriu cerca de 12% da Magalu por R$ 20 milhões. O curioso é que essa decisão de investimento nasceu em razão de uma mensagem truncada enviada por Luiz Alves Paes de Barros para Bredda, que entendeu que a Magazine Luiza era uma oportunidade para os fundos da casa. Desse desencontro vieram seguidas reuniões com os principais executivos da rede varejista, que mostraram dedicação ao negócio e compreensão do que deveria ser feito. “Mas é difícil ver a ação se valorizar 100%, 200% e não vender. A ação subia, fazíamos contas e a expectativa mudava.”
Laís não fez contas como os gestores da Alaska, mas se identificou com Luiza Trajano. Essa tese a investidora segue desde meados dos anos 1990, quando ingressou na bolsa de valores. Suas primeiras ações foram da Petrobras e da então Vale do Rio Doce. Da mineradora, recebeu debêntures no processo de privatização que ainda não resgatou e continuam custodiadas no Bradesco. Recentemente, entrou em contato com a Comissão de Valores Mobiliários para falar sobre a possibilidade de receber esses títulos. Para ela, tudo o que puder render não deve ser mexido.
“É preciso muito foco e disciplina para se manter numa posição por todos esses anos sem cair na tentação de vender e realizar”, afirma Louise. “A lição que fica é que disciplina e paciência compensam no longo prazo.”
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A carteira de ações de Laís é diversificada. Ela conta que outras duas apostas antigas são a empresa de vestuário Hering, que ela conheceu porque os donos eram próximos à família, e a companhia de cosméticos Natura, porque gosta e consome os produtos da marca. “Peço para o meu corretor reinvestir os dividendos na mesma empresa. Se colocar na minha conta corrente, eu gasto”, diz ela.
Com a Natura, Laís assumiu uma posição de investidora participante. Gosta, por exemplo, de frequentar as assembleias. Ela era uma das acionistas que usava o transporte que a companhia disponibilizava para aqueles que tivessem interesse em ouvir os gestores prestarem contas. “Menos em 2020, porque foi virtual”, diz ela. Mesmo assim, Laís estava presente e enviou uma pergunta, que foi respondida alguns dias depois.
Mas a história dela não se resume apenas a ações de sucesso. Neste ano, por exemplo, decidiu comprar papéis da locadora de carros Movida e da resseguradora IRB. “Não gostei de nenhuma delas”, diz Laís, que, agora, está de olho no IPO da Rede D’Or São Luiz.