Jogo de adolescentes? Bitcoin e criptoativos: entenda o funcionamento, as aplicações e os riscos
De investimento a meio de pagamento, os criptoativos, como Bitcoin e Ethereum, ganham espaço no sistema financeiro global. Especialistas explicam conceitos essenciais para quem deseja entender o mercado
Analistas veem correlação entre movimento do bitcoin e da Bolsa americana após lançamento de IA da DeepSeek. Foto: Adobe Stock
O universo das criptomoedas pode parecer, à primeira vista, um campo técnico e distante. No entanto, ele está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas — seja como forma de investimento, reserva de valor ou meio de transação. Entre os muitos ativos digitais que compõem esse ecossistema, o Bitcoin (BTC) se destaca como o mais conhecido e simbólico, funcionando como porta de entrada para a compreensão mais ampla dos criptoativos.
Segundo Nathaly Diniz, head de Institutional Sales & Public Affairs na Lumx, é importante primeiro entender que o termo “criptoativo” é o conceito mais amplo dentro desse universo. “Ele é o gênero, e comporta algumas subclassificações. Dentro do conceito de criptoativo, a gente pode incluir as criptomoedas, como o Bitcoin (BTC) e o Ethereum (ETH), que são ativos digitais com rede própria e que operam em um ambiente próprio”, explica.
A base tecnológica que sustenta o Bitcoin é a blockchain, que a especialista define como “um livro-razão onde são registradas todas as transações”. Essa tecnologia não apenas armazena, mas também certifica a autenticidade de cada transação, identificando de qual carteira (wallet) saiu determinado valor e para onde ele foi transferido. É essa característica que torna o sistema descentralizado e seguro, sem a necessidade de um intermediário tradicional, como um banco.
Além das criptomoedas, Diniz destaca que existem os chamados tokens, que podem representar diferentes tipos de ativos ou direitos. “Um token nada mais é do que a representação digital, na blockchain, de um ativo ou de um direito”, explica. Isso inclui desde stablecoins — tokens atrelados a moedas fiduciárias, como o dólar — até tokens lastreados em ativos reais, como imóveis, veículos, precatórios ou obras de arte. A versatilidade dessa tecnologia amplia o campo de aplicação da blockchain muito além do investimento especulativo.
Já Julia Rosin, Head de Políticas Públicas na Bitso, destaca que os criptoativos — sejam eles moedas ou tokens — podem ser usados de três formas principais:
Como reserva de valor;
Como investimento; ou
Como infraestrutura de pagamentos.
No primeiro caso, exemplifica, uma pessoa pode optar por comprar uma stablecoin lastreada em dólar (como o Tether – USDT) para preservar seu poder de compra em vez de adquirir a moeda física e guardá-la.
No campo dos investimentos, a lógica é semelhante à da bolsa de valores. “Você precisa conhecer o token no qual está investindo: qual a tecnologia por trás dele, o que essa rede blockchain tem a oferecer, e quais são os parâmetros que influenciam seu preço”, diz Rosin. O mercado é altamente especulativo e exige estudo e atenção. Ainda assim, tem se consolidado com seriedade e estrutura — inclusive com a possibilidade de investir via Exchange Traded Funds (ETFs), que já estão disponíveis na B3, como lembra a especialista.
Mas é na infraestrutura de pagamentos e transferências internacionais que a revolução cripto mais se destaca atualmente. A head de políticas públicas na Bitso aponta que, diferentemente do sistema bancário tradicional baseado na rede Swift (Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, um sistema de comunicação que permite o pagamento e a transferência de recursos entre empresas de diferentes países), em que as liquidações podem levar dias e envolvem múltiplos intermediários, as transações com criptoativos são realizadas de forma direta, rastreável e em tempo real, 24 horas por dia, 7 dias por semana. “A cripto faz exatamente a mesma coisa, só que sem intermediário. Isso significa um processo muito mais barato, mais rápido e totalmente transparente”, afirma.
Essa eficiência operacional tem chamado a atenção de grandes instituições. “Hoje a gente já vê bancos como o Bradesco e o Itaú utilizando infraestrutura em cripto e blockchain nos seus negócios”, destaca Julia Rosin. Ela reforça que o setor cripto já não é mais visto como um “jogo de adolescentes trancados no porão”. Ao contrário, trata-se de uma tecnologia madura, que avança na direção de consolidar-se como parte do sistema financeiro global.
As especialistas concordam que compreender o que é o Bitcoin e o que representa o ecossistema cripto é essencial para qualquer pessoa interessada no tema — seja por curiosidade, investimento ou visão de futuro. O que antes parecia um experimento ousado, hoje representa uma infraestrutura global em expansão, com impactos reais em como o mundo lida com o dinheiro, o valor e os contratos.