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Em 10 de julho de 2025, a Nvidia estava avaliada em US$ 4,004 trilhões, depois de acumular US$ 715 bilhões em pouco mais de seis meses.
Chegou ao patamar inédito puxada pela explosão da demanda por chips de alto desempenho, sobretudo as GPUs (unidades de processamento gráfico), indispensáveis para treinar modelos avançados de IA. O avanço de 0,75% nas ações na última quinta-feira (10), com os papéis negociados a US$ 164,10, é apenas mais um capítulo da escalada da companhia, que multiplicou seu valor de mercado por quase oito vezes desde 2020, e acende um alerta de que o mercado de IA continua a todo vapor.
O feito da Nvidia impressiona porque a empresa faz parte do grupo das Sete Magníficas – composto também pela Microsoft, Meta, Amazon, Alphabet, Apple e Tesla. Não há comparativo, na renda variável global, que cause tanto impacto como os números das big techs. Levantamento da Elos Ayta, de 31 de dezembro de 2024 até 10 de julho de 2025, indica que o valor de mercado agregado das “Seven Magnificents” disparou de US$ 16,19 trilhões para US$ 18,25 trilhões.
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Esse número equivale a 2,64 vezes o valor total de todas as empresas listadas na B3. Nesse mesmo intervalo, a bolsa brasileira saiu de US$ 623 bilhões para US$ 779 bilhões — subindo US$ 156 bilhões.
Juntas, as Sete Magníficas correspondem a 23,4 vezes o valor total de mercado da B3. Em dezembro de 2024, lembra a Elos Ayta, essa proporção era ainda mais elevada e chegava a 26 vezes.
O tamanho das big techs desbanca até o do PIB brasileiro: o valor de mercado atual das Sete Magníficas — US$ 18,25 trilhões em 10 de julho de 2025 — tem peso superior em oito vezes o Produto Interno Bruto (PIB) nominal do Brasil, estimado em US$ 2,2 trilhões neste ano.
Recentemente, o Citi revisou para cima sua projeção de preço para as ações da Nvidia, ajustando de US$ 180 para US$ 190, com a expectativa de que o mercado de chips para inteligência artificial cresça ainda mais até 2026. Segundo analistas, limitar a análise do setor de IA apenas aos modelos de linguagem de grande escala e aos chatbots reduz o entendimento das transformações em curso.
O avanço vai além das interações por texto e passa pela consolidação dos chamados “modelos de mundo”, que integram percepção visual, controle motor e raciocínio contextual, além do desenvolvimento de robôs humanoides equipados com IA embarcada.
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Essas frentes, explicam os especialistas, têm potencial para inaugurar mercados inteiros ainda em formação, nos quais a Nvidia ocupa uma posição estratégica, tanto pela liderança no fornecimento de GPUs quanto pela integração de hardware e software otimizados para aprendizado profundo, mas investidores atentos têm ampliado o olhar para além das chamadas big techs.
A lógica é simples: quem comprar empresas com tecnologia avançada, boas margens e capacidade de adaptação poderá colher frutos por muitos anos, mesmo em ciclos econômicos voláteis. Nesse contexto, analistas têm indicado ações de empresas menos conhecidas, porém com papéis estratégicos no ecossistema de IA e fundamentos que permitem pensar em longo prazo.
É o caso da Vistra Corp., empresa norte-americana de geração de energia, com foco em fontes limpas como gás natural e nuclear. Conforme Pedro Carvalho, analista de tecnologia da Empiricus Asset, a companhia tem se preparado para atender ao aumento no consumo energético provocado pelas cargas de trabalho cada vez mais intensas da IA.
Outro destaque do setor é a Vertiv Holdings, especializada em sistemas de infraestrutura crítica para datacenters. Carvalho avalia que a empresa tem investido em soluções de refrigeração líquida, consideradas mais eficientes para manter a temperatura e o desempenho de servidores equipados com GPUs, especialmente em operações de alta densidade.
Já a Celestica Inc., com sede no Canadá, atua no desenvolvimento e fabricação de dispositivos de rede que conectam os servidores e garantem a fluidez das operações em larga escala. Com uma base forte na área de engenharia e contratos com grandes clientes globais, o analista aponta que a empresa ocupa um papel estratégico na cadeia de suprimentos de IA.
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Para Guilherme Amaral, analista da Kinea, a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) é uma das mais relevantes. Sediada em Taiwan, a empresa detém 100% da produção global de chips de ponta, conhecidos como leading edge. Esses componentes, diz o analista, são fundamentais para o funcionamento dos modelos de IA mais avançados, como os desenvolvidos por Nvidia, AMD, Google e Amazon. A TSMC domina a fabricação de chips com alta densidade e desempenho superior, tanto do ponto de vista técnico quanto econômico, e seu domínio na cadeia de suprimentos é visto como inquestionável.
Outro nome que volta ao radar, segundo Amaral, é o da Oracle, tradicional gigante de software de bancos de dados que se reinventou ao entrar no segmento de infraestrutura em nuvem (cloud). Recentemente, a empresa tornou-se uma das principais parceiras da OpenAI, criadora do ChatGPT, para hospedagem e processamento de seus modelos em larga escala. Essa transição para a nuvem, somada à aliança com a principal desenvolvedora de IA voltada ao consumidor final, posiciona a Oracle como uma das empresas mais bem preparadas para capturar valor com a expansão da IA.
Na lista de recomendações do economista e especialista em mercado internacional, Paulo Godoi Filho, está a Palantir Technologies. Especializada em análise de dados e com contratos expressivos com o governo dos Estados Unidos, Filho explica que a empresa tem ampliado sua atuação em inteligência artificial preditiva para o setor privado. O software Palantir AIP (Artificial Intelligence Platform) permite que empresas treinem e operem modelos internos de IA sobre seus próprios dados, algo cada vez mais considerado valioso num ambiente corporativo orientado por eficiência.
Outro nome observado por Filho como aposta estrutural é a ASML Holding, holandesa que fornece máquinas de litografia ultravioleta extrema usadas na fabricação de chips de última geração. Embora o nome não tenha o mesmo apelo midiático que as big techs americanas, o analista afirma que a ASML é hoje uma das empresas mais estratégicas da cadeia global de semicondutores. Sua vantagem tecnológica é tamanha que, sem seus equipamentos, não há produção de chips avançados.
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A Synopsys (SNPS) também entra no radar de investidores com foco em IA. A empresa desenvolve softwares de automação de projetos eletrônicos (EDA, na sigla em inglês), utilizados para desenhar e testar circuitos integrados. Com a crescente complexidade dos chips usados em modelos generativos de IA, a dependência por soluções como as da Synopsys tende a crescer.
Na área de hardware, a Super Micro Computer tem chamado atenção por ser uma fornecedora direta de servidores otimizados para IA, com arquitetura voltada para integrar os chips mais recentes da Nvidia. Filho aponta que a companhia já apresentou fortes resultados trimestrais e ampliou sua projeção de receita diante do salto na procura por infraestrutura de IA em datacenters corporativos.
Para quem busca uma opção mais diversificada, os analistas também têm apontado o ETF (fundo negociado em bolsa) Global X Robotics & Artificial Intelligence (Botz). O fundo é composto por empresas que atuam em automação, robótica e IA, oferecendo uma forma mais abrangente de exposição ao tema. Com gestão passiva, o Botz inclui ações como Nvidia, Intuitive Surgical, Keyence e Fanuc, entre outras.
Com o movimento recente de bilionários reduzindo exposição em ações da Nvidia e realocando recursos para outras empresas ligadas à inteligência artificial (IA), surge a dúvida entre investidores individuais: acompanhar essa rotação ou manter a posição nas líderes consolidadas? Para Carvalho, tentar replicar decisões de grandes investidores pode ser arriscado.
“A não ser que o investidor faça isso profissionalmente e possa se dedicar 100% a essa atividade, acho perigoso tentar replicar o movimento de quem quer que seja, bilionário ou não. O perigo é aplicar meia estratégia e fatalmente colher só os prejuízos disso”, afirma Carvalho.
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Na visão do analista, o mais prudente é que o investidor reflita sobre seu próprio perfil e compreenda as limitações envolvidas. “Se você acredita nas teses que norteiam as grandes tendências que movem o mundo hoje (IA é uma delas), não vejo por que não se posicionar nas grandes líderes por trás desses movimentos”, diz. A recomendação, portanto, é focar na clareza das convicções e na aderência à estratégia de longo prazo, em vez de reagir a movimentos pontuais do mercado.
Já para Filho o movimento de diversificação feito por grandes investidores pode, sim, servir como um sinal de alerta para quem está excessivamente concentrado nas líderes do setor. “Nvidia é uma potência, mas parte desse crescimento já está no preço. A rotação de capital pode indicar que os investidores mais sofisticados estão buscando assimetrias em empresas menos óbvias, que ainda não tiveram suas teses amplamente precificadas pelo mercado”, avalia.
O economista argumenta que seguir os passos de investidores profissionais pode ser válido, desde que se entenda o racional por trás da movimentação. “Não se trata de copiar decisões, mas, sim, de observar padrões. Se os maiores nomes do mercado estão diversificando dentro do próprio setor de IA, faz sentido estudar as alternativas e avaliar oportunidades complementares”, afirma. Para ele, nomes menores na cadeia de suprimentos podem oferecer ganhos mais atrativos no médio e longo prazo.
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