Gol desiste de fusão com a Azul (Foto: Adobe Stock)
A Gol(GOLL54) comunicou ao mercado que o seu controlador, grupo Abra, solicitou o cancelamento do documento de intenção de fusão entre a companhia e a Azul(AZUL4) assinado em janeiro de 2025. Analistas ouvidos pelo E-Investidor apontam que o cancelamento do negócio é melhor para a Gol, mas, mesmo assim, o risco embutido nas duas companhias faz com que especialistas recomendem a retirada das ações da carteira.
Segundo comunicado enviado ao mercado, o controlador da Gol, o grupo Abra, afirma que se colocou à disposição para avançar nas discussões rumo a uma combinação de negócios, inclusive após o início da recuperação judicial da Azul, em maio deste ano, mas que não obteve sucesso.
“No entanto, as partes não tiveram discussões significativas ou progrediram em uma possível operação de combinação de negócios por vários meses como resultado do foco da Azul em seu processo de Chapter 11″, afirma o grupo controlador da Gol.
A Abra também pediu a rescisão dos acordos celebrados em maio de 2024, cujo objetivo era estabelecer uma cooperação comercial entre as duas empresas. Artur Horta, especialista da The Link Investimentos, diz que a fusão já era algo complicado de se concretizar. Segundo ele, o momento das duas empresas era diferente após a saída da Gol da Recuperação Judicial nos Estados Unidos via Chapter 11 e a entrada da Azul no mesmo processo de RJ.
“Outro ponto seria a aprovação do negócio pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), pois o consentimento da medida deixaria o setor aéreo altamente concentrado em uma única empresa, com cerca de 80% de toda a operação do país”, argumenta Horta.
Segundo ele, o fim da fusão entre Azul e Gol passa a ser marginalmente negativo para as duas empresas. Todavia, como era algo difícil de ser consumado, o mercado já duvidava da união, reduzindo os impactos negativos da notícia.
O próprio CEO da Azul, John Rodgerson, disse em entrevista exclusiva ao E-Investidor, após o anúncio da fusão, que a companhia poderia seguir sem a Gol — veja os detalhes nesta reportagem. Mesmo assim, os demais analistas apontam que a Azul é a mais fragilizada com o fim do processo.
Qual empresa ganha com o fim da fusão entre a Azul e a Gol?
Sidney Lima, Analista da Ouro Preto Investimentos, acredita que a empresa que provavelmente sai mais beneficiada com o fim da fusão é a Gol. Isso porque a companhia vinha enfrentando incertezas estratégicas com a proposta de fusão, que dependia de muitas sinergias e de harmonização de operações, gerenciamento de dívidas e regulação.
“Ao encerrar as negociações, a Gol retoma o controle total de sua estratégia independente, sem precisar conciliar visões conflitantes ou assumir riscos adicionais de integração. Além disso, o fato de a Gol ter saído recentemente do processo de recuperação judicial (Chapter 11) fortalece sua posição. A Gol já limpou parte de seu caixa, redimensionou estrutura de capital e está em fase de retomada”, afirma Lima.
George Sales, especialista em mercado financeiro na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), diz também que a Gol é a mais preparada para operar em carreira solo. Vale lembrar que a controladora da Gol também solicitou a rescisão dos acordos celebrados em maio de 2024, cujo objetivo era estabelecer uma cooperação comercial entre as duas empresas. Em nota, a Azul disse que vai honrar todos os compromissos firmados com os passageiros com voos vendidos até o momento.
“Sem os acordos, a Gol está mais organizada para operar de forma independente. A companhia saiu da recuperação judicial com R$ 900 milhões em caixa. A empresa também possui plano de expansão e renovação de frota, por isso, nos próximos 12 meses, o melhor cenário é o da Gol. Isso porque a Azul continua em recuperação judicial”, diz Sales.
Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, concorda que a Gol está menos fragilizada. No entanto, ele lembra que o fim do compartilhamento das passagens aéreas é negativo para as duas empresas. O compartilhamento de voos estava trazendo ganho de escala. Ele exemplifica um voo da Azul para Cabrobó (PE), que está com 60% da ocupação.
A companhia poderia aumentar a ocupação vendendo passagem pela Gol, o que trazia ganhos para duas empresas, exceto para a concorrente, a Latam. Por isso, o consenso dos analistas é que a verdadeira vencedora do término da junção dos negócios entre Azul e Gol é a Latam. Isso porque, o fim do acordo evita a concentração de mercado, facilitando o caminho para a Latam.
“A Latam apresentou grandes números de participação de mercado e chegou à marca de 41% do mercado doméstico. A Azul sai muito enfraquecida, a Gol tem muitos problemas de caixa e desafios do ponto de vista operacional, para poder realmente se reestruturar financeiramente. Em meio a esse cenário, a Latam nada de braçada no mercado brasileiro. Por isso, ela é a verdadeira vencedora”, explica Sant’Anna.
O que fazer com as ações de Azul e Gol?
A visão dos analistas é unânime: o investidor não deve ter nenhum dos papéis na carteira. Artur Horta, especialista da The Link Investimentos, diz que ambas as empresas passam por um momento muito complicado. Ele lembra que a Azul segue em recuperação judicial e ainda não resolveu o problema com seus credores. Já a Gol continua reportando prejuízos operacionais, por isso, ele classifica o momento como “muito negativo” para as companhias aéreas.
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George Sales, da FIPECAFI, diz que o investidor conservador e moderado não deve aportar em nenhuma das empresas. Segundo ele, o setor aéreo sofre com volatilidade do dólar, inflação e petróleo, deixando os custos operacionais como uma grande âncora para inibir a melhoria da situação das companhias.
“No entanto, se o investidor tiver um perfil arrojado e especulativo, aportar nas duas empresas pode ser um bom negócio se não houver receios de grande perda de dinheiro em busca de ganhos astronômicos”, disse Sales. Um exemplo do que disse o analista é a ação da Azul, que disparou cerca de 122% entre 26 de agosto e 8 de setembro, mas acumula queda de 71% no acumulado de 2025.
Ou seja, essas ações podem dar um grande retorno se o investidor conseguir entrar na hora certa, mas a perda pode ser total a depender do momento. Por isso, a recomendação para entrar em um dos papéis é somente se o investidor não temer a perda do dinheiro aportado.
Felipe Sant’Anna, da Axia Investing, diz que esse não é o momento de aportar ou manter posições em ações de empresas aéreas. Ele lembra que o mercado brasileiro está nas suas máximas históricas, e muitos papéis já podem começar a ter correção com realização de lucro. O especialista também reforça que o setor aéreo é muito complexo e o risco pode ser imensurável.
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“O investidor pode estar comprando um risco muito grande, até porque teremos eleições no próximo ano, o que pode mudar o governo ou até os planos do atual governo. Há também a inflação, que traz prejuízo no consumo das famílias. Com a redução do poder de compra, férias e passeios ficam em segundo plano, impactando negativamente o setor aéreo. Por isso, o ideal é não ter esses ativos na carteira”, conclui Sant’Anna sobre Azul (AZUL4) e Gol (GOLL54).