- O bitcoin atingiu uma série de recordes em 2021, apenas três anos depois de seu preço ter despencado
- Mas, como entender a montanha-russa de volatilidade da criptomoeda mais famosa do mundo?
- Confira treze respostas para as principais dúvidas sobre a moeda virtual
(Olga Kharif/WP Bloomberg) – Os investidores em Bitcoins estão vivendo uma aventura e tanto. A criptomoeda mais famosa atingiu uma série de recordes em 2021, apenas três anos depois de seu preço ter despencado. Outrora vista como um território de nerds, anarquistas e traficantes de drogas, ainda há poucos sinais de que a criptomoeda evoluirá para uma forma útil de dinheiro para a maioria das transações. No entanto, a última onda em uma montanha-russa de volatilidade ocorre quando mais grandes investidores especulam que o Bitcoin terá uma aceitação mais ampla e sacudirá o mundo financeiro.
1. Por que a grande reviravolta?
O preço do Bitcoin quadruplicou no final de 2020 e aumentou ainda mais em 2021, à medida que uma enxurrada de mudanças sugeria que ele estava dando mais passos em direção às moedas tradicionais. Em 14 de abril, a bolsa de criptomoedas Coinbase Global Inc. subiu brevemente para mais de US$ 100 bilhões em sua estreia no mercado público, uma avaliação que deu mais legitimidade ao mundo das criptomoedas. Grandes players financeiros também criaram fundos que tornam mais fácil para os investidores adicionar criptomoedas às suas carteiras. Os fãs da criptomoeda incluem Elon Musk, o provocativo CEO da Tesla Inc., que investiu mais de US$ 1 bilhão em Bitcoin e começou a aceitar a moeda como pagamento por carros elétricos. Ao mesmo tempo, a enxurrada de dinheiro injetada no sistema financeiro pelos bancos centrais durante a pandemia renovou o debate sobre se tais movimentações poderiam desencadear a inflação – gerando mais interesse na ideia de que o Bitcoin poderia preencher o papel tradicional do ouro como uma proteção contra a inflação.
2. Esta é outra bolha?
Cada aumento encoraja os fiéis defensores do Bitcoin e chama a atenção popular – o valor total de mercado de todas as criptomoedas chegou a US$ 2 trilhões pela primeira vez em 5 de abril. Startups de tecnologia financeira da moda, como Robinhood e Revolut, tornaram as criptomoedas uma parte fundamental de seus aplicativos de negociações e de bancos. Ainda assim, investir em criptomoedas continua sendo uma ideia arriscada e volátil, já que os instrumentos financeiros permanecem em grande parte como ativos não regulamentados, sujeitos aos caprichos de um mercado instável. O avanço do Bitcoin no início de 2021 foi tão veloz que ofusca todos os outros ciclos de expansão em ativos financeiros nos últimos 50 anos.
3. Quem compra e usa Bitcoin?
Famosos gestores de carteiras como Mike Novogratz e Alan Howard investiram centenas de milhões de dólares em Bitcoin e outras criptomoedas. Uma pesquisa da Fidelity Investments realizada em 2020 descobriu que 36% das instituições tinham criptomoedas em suas carteiras. Mais de seis em cada 10 manifestaram interesse no Bitcoin e em outras criptomoedas, contra menos da metade em 2019. Com certeza, o Bitcoin ainda é um mercado pouco negociado, onde as chamadas baleias, controlando grandes quantidades de moedas, têm grande influência. Menos de 2% das contas anônimas que podem ser rastreadas no livro-razão digital da moeda controlam 95% da oferta disponível, de acordo com pesquisa da Flipside Crypto. A saída de uma baleia – um evento mais provável agora que o Bitcoin é domínio não apenas de apoiadores, mas também de financiadores pragmáticos – pode enviar ondas por todo o ecossistema.
4. Qual é o apelo para os investidores?
Em poucas palavras, ganância e medo. Os fãs do Bitcoin argumentam que sua recente recuperação não é comparável a outros períodos eufóricos, já que o ativo tem amadurecido com a entrada de investidores institucionais. Rendimentos zero e negativos de ativos tradicionais, como títulos do governo, estão levando os fundos de hedge a buscar alternativas, e há o temor de perder, já que a moeda se recuperou e voltou a registrar recorde atrás de recorde. Embora os críticos tenham dito há muito tempo que o Bitcoin inevitavelmente entrará em colapso outra vez, muitos recentemente tiveram que reanalisar seu pensamento – simplesmente porque um número suficiente de pessoas parece acreditar no Bitcoin. Também há mais discussão sobre o Bitcoin como uma proteção legítima contra qualquer fraqueza do dólar americano.
5. Por que o Bitcoin é comparado ao ouro?
Como um recurso escasso, o ouro tem sido tradicionalmente uma proteção contra a inflação; e atingiu uma alta recorde em agosto de 2020. Os governos podem acelerar as impressoras de seus tesouros e, assim, rebaixar suas moedas, mas as mineradoras não podem inundar os mercados com ouro, acredita-se. Parte do apelo do Bitcoin reside no fato de que ele não é controlado pelos governos ou suas políticas monetárias, e que seu suprimento é limitado ainda mais rigorosamente do que o do ouro. Com os vastos gastos de governos e bancos centrais em resposta à pandemia, aumentando os temores de inflação depois que as economias se recuperarem, mais atenção do que nunca está sendo dada ao Bitcoin como “ouro digital“, mesmo com a inflação permanecendo moderada. Se o Bitcoin atrair a mesma quantidade de dinheiro agora investido em ouro, poderia subir para um preço teórico de mais de US$ 146.000 no longo prazo, de acordo com estrategistas do JPMorgan Chase & Co.
6. Então, o Bitcoin agora está regulamentado?
Os investidores institucionais podem se sentir mais confortáveis em entrar no mundo do Bitcoin em parte por causa de melhores garantias – até mesmo quando surgem mais histórias fascinantes de milionários frustrados por perderem suas senhas. Nos últimos anos, o Bitcoin também desenvolveu uma infraestrutura financeira mais substancial. Existem serviços de custódia e negociação – com licenças e credenciais adequadas – que atendem especificamente aos grandes investidores regulamentados. Algumas autoridades monetárias exigem que os bancos e outros intermediários mantenham registros e enviem relatórios para verificar as identidades dos clientes para certas transações com criptomoedas. Vários bancos centrais, incluindo o Federal Reserve dos EUA e o Banco Central Europeu, estão estudando como digitalizar moedas soberanas, uma validação do código blockchain que está por trás do Bitcoin. Ainda assim, o Bitcoin e outras criptomoedas têm sido conectadas a golpes, lavagem de dinheiro, evasão de impostos, furtos cibernéticos e muito mais.
7. O que exatamente é o Bitcoin, afinal?
Nascido da amargura que se seguiu à crise financeira de 2008, é uma forma de dinheiro conhecida pelo que não é: não é uma moeda que você pode segurar nas mãos. Não é emitido ou apoiado por um governo nacional. Em sua essência, o Bitcoin e seus imitadores são conjuntos de protocolos de software para gerar tokens digitais e rastrear transações de uma forma que dificulta a falsificação ou reutilização de tokens. Um Bitcoin tem valor apenas na medida em que seus usuários concordam que ele tem.
8. De onde veio o sistema do Bitcoin?
O software original foi apresentado em um white paper em 2008 por uma pessoa ou grupo de pessoas usando o pseudônimo Satoshi Nakamoto, cuja identidade permanece desconhecida, apesar de vários esforços para atribuir ou reivindicar crédito. Os jogos de fantasia online há muito usam moedas virtuais. A ideia-chave por trás do Bitcoin foi o blockchain – um livro-razão online visível publicamente e em grande parte anônimo que registra as transações em Bitcoin. A euforia tomou conta do mercado em 2017, quando o Bitcoin disparou de US$ 789 para US$ 19.000 e milhares de operadores desonestos venderam imitações de seus próprios tokens em “ofertas iniciais de moedas”. A quebra deixou muitas perdas.
9. O que é o blockchain?
Pense no que acontece se você fizer uma transferência online usando um banco. Ele verifica se você tem os fundos, subtrai essa quantia de um ponto em um banco de dados gigante que mantém de contas e saldos e credita em outro. Você pode ver o resultado olhando sua conta, mas a transação está sob o controle do banco. Você está confiando no banco para remover a quantia certa de dinheiro e também está garantindo que você não poderá gastar esse dinheiro novamente. O blockchain é um banco de dados que executa essas funções de rastreamento – mas sem o banco ou qualquer outra autoridade central.
10. Quem desempenha a função de banco para o Bitcoin?
Isso é feito por consenso em uma rede descentralizada. As transações de Bitcoin podem ser realizadas por meio de sites que oferecem “carteiras” eletrônicas que enviam os dados para a rede. Novas transações são agrupadas em um lote e transmitidas à rede para verificação por aqueles conhecidos como mineradores de Bitcoin. Fãs de Bitcoin de longa data apontam para o chamado “halving” que aconteceu em 2020, cortando pela metade a quantidade de novos Bitcoins emitidos para mineração para verificação de transações, como outro motivo para a recuperação. Os “halvings” acontecem a cada três ou quatro anos e ajudam a desacelerar a extração de novas moedas. A produção cessará totalmente com 21 milhões de moedas; estima-se que isso não acontecerá até 2140. O registro foi de mais de 18,5 milhões no final de 2020.
11. Quem pode ser minerador?
Qualquer um, contanto que você tenha computadores realmente rápidos e muita eletricidade. Os dados da transação em cada lote são criptografados por uma fórmula que só pode ser desbloqueada por meio de adivinhação por tentativa e erro em grande escala. Os mineradores colocam o poder da computação em grande escala para funcionar enquanto competem para ser os primeiros a resolver o quebra-cabeça. Se a resposta de um minerador for validada por outros, os dados são adicionados a uma cadeia vinculada de blocos de dados e o minerador é recompensado com Bitcoin recém-emitido. Como cada bloco contém dados vinculados a blocos anteriores, uma tentativa de gastar o mesmo Bitcoin duas vezes significaria revisar muitos links da cadeia. Além disso, já que os mineradores competem entre si, eles verificam o trabalho uns dos outros a cada passo da verificação.
12. Outra criptomoeda poderia substituir o Bitcoin?
Embora o número de criptomoedas e tokens continue a se multiplicar – eles agora chegam aos milhares – o Bitcoin continua sendo o mais conhecido, testado pelo tempo e valioso. É também a única moeda considerada uma reserva potencial de valor. Outras, como Ethereum, são usadas para outras coisas, como emitir tokens para uso em aplicativos financeiros descentralizados. As chamadas stablecoins, como Tether, atrelam seu preço ao dólar americano ou a outros ativos fiduciários, e algumas aumentam o valor mantendo reservas.
13. Como posso comprar Bitcoin ou investir nele?
Existem várias maneiras, todas com riscos diferentes. As pessoas podem comprar as moedas diretamente em bolsas como a Coinbase. Investidores credenciados também podem investir em veículos como o Bitcoin Investment Trust, que monitora o preço do Bitcoin. Agora os investidores podem comprar ou vender Bitcoin futuros e em breve poderão comprar fundos Bitcoin negociados em bolsa, assim que os reguladores se sentirem confortáveis com a ideia. Mas esteja avisado: mesmo muitas pessoas que acreditam no futuro do Bitcoin acham que grandes aventuras vêm pela frente. O grande aumento no preço do Bitcoin em 2017 foi seguido por uma debandada de 83% que durou um ano.
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(Tradução Romina Cácia)